Os militares da Guiné-Bissau estão a aprender português em aulas dentro dos quartéis, num projeto inédito que arrancou com 60 formandos na capital guineense e vai ser alargado a outras unidades do país, a partir de janeiro
A
iniciativa resulta de um pedido feito pelas autoridades guineenses ao Instituto
Camões, de Portugal, e visa ajudar os militares a falar e escrever na língua
que é a oficial da Guiné-Bissau, mas que poucos guineenses dominam.
Foi
esta constatação que levou as Forças Armadas a pedir apoio para “qualificar
oficiais, sargentos e soldados, em língua portuguesa”, como explicou à Lusa o
coronel Suaibo Camará.
A
chefia militar salientou a importância e utilidade do curso que arrancou na
sexta-feira, em Bissau, com 60 alunos, para dar resposta à necessidade de as
Forças Armadas terem pessoas “com maior eficiência” no domínio e na escrita,
assim como na administração da língua portuguesa.
“A
dificuldade é global, começa no próprio ensino, nós não temos pessoas com
níveis de licenciado na língua portuguesa e, nesse âmbito, as pessoas saem mal
dos ensinos primários, secundários e liceais, então, têm dificuldades em
trabalhar com a língua portuguesa, como língua oficial nossa”, indicou.
No
país domina o crioulo e, apesar de a língua oficial ser a portuguesa, “é
difícil ter uma pessoa que possa fazer uma ata, um relatório síntese, um
relatório descritivo, por escrito” em português, como constatou.
Um
dos alunos do curso, o soldado Rúmana Biagué, corrobora que “as pessoas já saem
mal do ensino” em relação à aprendizagem da língua portuguesa e observa que
“até na universidade se encontram pessoas com dificuldades na oral e escrita”.
“Se
a base não foi boa, o topo será a mesma coisa, e é isso que nos leva a ter
dificuldades”, diz à Lusa, considerando que este curso nos quartéis é “muito
benéfico e importantíssimo” para capacitar os militares.
Para
este soldado, “saber falar bem português é indispensável, para um militar”, que
tanto pode estar em missão na Guiné-Bissau, como noutro país de expressão
portuguesa.
As
Forças Armadas da Guiné-Bissau querem ter militares capacitados e esperam “ter
mais oito turmas” em várias zonas do país, “já em janeiro”.
Esta
iniciativa “no domínio da cooperação militar, do ensino da língua portuguesa, é
para Portugal essencial para aproximar ambos os países”, segundo André Costa
Monteiro, chefe de missão adjunto da Embaixada de Portugal em Bissau.
“Vemos
esta iniciativa como um pontapé de saída no domínio do ensino da língua
portuguesa e espero que se desenvolva no futuro. Isto é essencial para
aproximar os militares portugueses dos guineenses, dando-lhes uma ferramenta de
trabalho”, considerou.
Segundo
o diplomata, “é do interesse português que esta iniciativa seja iniciada e
desenvolvida no futuro, se for do interesse das autoridades guineenses que
continue e que seja aprofundada”.
Destacou
ainda o trabalho desenvolvido antes do início deste curso, dando como exemplo
concreto os manuais desenvolvidos pelo instituto Camões, com o apoio da
Direção-geral de Política de Defesa Nacional (DGPDM) portuguesa e dos três
ramos das Forças Armadas de Portugal.
Este
manual, como disse, “vai permitir formar muitos alunos”, não só na
Guiné-Bissau, mas também noutros Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
(PALOP) que tenham interesse.
O
professor Miguel Gama, responsável por uma das turmas em Bissau, atestou que o
manual “responde às quatro competências da oralidade e da escrita, da leitura,
e ajuda a ultrapassar as dificuldades que os alunos apresentam”.
Considerou,
contudo, que este “curso só em si não resolve o problema, porque a língua tem a
questão da prática”.
“O
curso dá bases, dá ferramentas, mas eles (alunos) têm que continuar a usar a
língua na comunicação do dia-a-dia”, alertou.
Este
projeto é, para o professor, “diferente de uma sala de aula normal”, desde logo
porque decorre no meio militar com formandos que têm que se dividir “entre as
aulas e as tarefas militares”. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo
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