Entre os dias 19 e 25 de Outubro, o restaurante Tromba Rija, na Torre de Macau, vai acolher uma Mostra Gastronómica Lusófona, com um buffet de pratos africanos, brasileiros e portugueses pela mão de chefs oriundos de Cabo Verde, Moçambique, Brasil, Guiné-Bissau e Guiné Equatorial. A iniciativa faz parte da 15.ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa do Fórum Macau, que este ano celebra 20 anos
A
mandioca, o azeite de palma, o peixe fumado, os grãos, a malagueta e o marisco
são os ingredientes que a maioria dos chefes presentes na abertura da Mostra
Culinária apontam como sendo os pontos em comum entre estas culinárias de
países lusófonos. Representantes da gastronomia de Cabo Verde, Moçambique,
Brasil, Guiné-Bissau e Guiné Equatorial estiveram ontem no restaurante Tromba
Rija, espaço que os vai albergar durante a próxima semana, partilhando com os
jornalistas presentes alguns detalhes das tradições culinárias dos seus países,
e revelando também que a experiência tem sido muito rica em termos de
intercâmbio com os outros chefes. Todos confessaram e agradeceram ainda o apoio
do chef português Telmo Gongó, o anfitrião e responsável pela cozinha do Tromba
Rija.
A
abertura da Mostra Gastronómica Lusófona, que está inserida na 15.ª Semana
Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa, foi organizada pelo
Secretariado Permanente do Fórum de Macau. O Secretário-Geral, Ji Xianzheng, no
seu discurso de boas vindas referiu que a ocasião lhe deu grande “regozijo”,
não só pelas iguarias que vão ser degustadas, mas também por este ser o
primeiro convívio desde a pandemia. “Estamos especialmente felizes de poder
receber novamente em Macau chefs vindos de várias geografias da lusofonia”.
Recorde-se que este ano o Fórum de Macau celebra 20 anos de actividade, e que
por ocasião da 15.ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa
entre os dias 19 e 25 de Outubro, virão à cidade para concertos de música ao
vivo, gastronomia, artesanato, artes plásticas e fotografia por volta de 100
artistas vindos da China continental, Província de Yunnan e dos nove países da
lusofonia (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial,
Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste). Esclareça-se que esta
Semana Cultural organizada pelo Fórum Macau difere do “Encontro Em Macau –
Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa”,
que está sob alçada do Instituto Cultural de Macau, onde se insere o Festival
da Lusofonia.
Culinária de tradições
Aos
meios de comunicação social, o chefe Marciel Mangue da Guiné Equatorial
referiu-se à particularidade da culinária do seu país ser composta por
tradições de tribos diferentes, com alguns pratos a estarem mais ligados às
zonas costeiras, e que lhe foi difícil fazer uma selecção dos pratos a trazer a
Macau, por haver tanta escolha oriunda das cinco etnias do país. Quanto à
aceitação de alguns produtos do seu país pela comunidade chinesa, o jovem chefe
diz que tem sido bem acolhida.
Numa
experiência que tem sido positiva em particular pela parceria com os colegas
africanos, já que ambos têm ingredientes em comum que têm sido partilhados por
todos, a moçambicana Glória Gonçalves considerou muito importante representar o
seu país nesta iniciativa da mostra gastronómica em Macau, mostra onde irá
apresentar pratos que representam diferentes regiões do seu país: matapa com
castanha, típico da zona norte de Moçambique, Cherechende, da província de
Sofala, de onde é oriunda, e Xiguinha de Mandioca, de Maputo, feito à base de
mandioca, cacana, amendoim e coco.
Já
pela segunda vez de visita ao território, onde veio em 2013 para outra mostra
gastronómica, a chefe cabo-verdiana Cláudia Neves, coordenadora e professora na
Escola de Hotelaria e Turismo de Cabo Verde, diz que vai representar a sua
cultura através da Cachupa, Ponche de São Nicolau, Sopa de peixe e atum, e
“comida da cinza”, feita à base de peixe seco e legumes. Sobre a interacção com
os colegas, diz que há muitos que os liga, para além da língua. “Estamos
ligados pelos temperos, pelas raízes, pelos produtos, e é uma ligação afectiva.
A comida é a melhor forma de afecto”.
O
Ponto Final quis saber como tem sido o processo de encontrar os produtos
adequados, ao que a chefe cabo-verdiana confessou que a ajuda do chef Telmo tem
sido crucial. “Se não fosse ele, acho que não teríamos este sucesso, devido à matéria-prima”.
Lassiatu Baldé, da Guiné-Bissau, também elogiou o acompanhamento do chef Telmo
e da sua equipa. Sobre a vinda a Macau, a chef mostrou-se satisfeita pela forma
como tem sido acolhida também pela comunidade da Guiné-Bissau que reside em
Macau, e que o que tem apreciado degustar mais até agora foram os noodles
chineses. Em relação aos seus pratos, Lassiatu Baldé destacou o Siga de bagre
fumado, um prato guisado feito a partir do peixe vulgarmente conhecido como
‘cat fish’, que é cozinhado com óleo de palma e quiabos, um prato que estará
presente na mostra gastronómica que a chef recomenda vivamente.
O
chef brasileiro Caco Marinho confessou ter pouco conhecimento da culinária dos
países de língua portuguesa em África, que diz ter elementos em comum com a
brasileira, como o milho, o coco, o feijão, os fumados e a mandioca. “Uma
cozinha alegre, colorida, de temperos” picantes. Sem as conhecer, sentiu estas
culinárias como familiares. “Apesar da distância geográfica, o sentimento é de
irmandade. Com poucos dias juntos já nos sentimos quase como uma família,
estamos com uma conexão muito forte”, confessou. Sobre a experiência em Macau,
elogiou a culinária chinesa, que para si é uma das “mais ricas, intrigantes e
diversas do mundo”, e diz-se ter sido muito bem acolhido pelas pessoas da
cidade. “Tenho encontrado um povo gentil, acolhedor. Eu não falo inglês, não
falo cantonense, e estou a ser tão bem recebido, mesmo com a dificuldade
linguística”.
Entre
outros pratos, Caco Marinho vai levar ao Tromba Rija a feijoada brasileira
carioca, “diferente da portuguesa” no tipo de feijão, carnes, temperos e
acompanhamentos. O nosso jornal perguntou ao chef originário de Salvador da
Baía qual é a ligação entre a cozinha portuguesa e a brasileira, ao que este
esclareceu que tem raízes portuguesas, africanas e indígenas nativas. “Tudo o
que comemos tem a impressão digital de Portugal, mas entra o azeite de dendé,
ingrediente africano, entra a mandioca ou o mel das abelhas nativas
brasileiras, ingredientes indígenas nativos. Eu tentei trazer o lado indígena
como uma forma de trazer algo que fosse só do Brasil, porque pensei que se
calhar, sem nos apercebermos, poderíamos estar a apresentar coisas iguais”,
explicou. Este risco, no entanto, já foi equacionado pelo anfitrião, o chef do
Tromba Rija, que na opinião do colega brasileiro tem feito uma “boa curadoria”
de forma a dar uma boa “diversidade” ao buffet que será apresentado durante a
mostra gastronómica.
Telmo
Gongó, por seu turno, concordou que a experiência está a ser “extraordinária”
também para si. “Eles dizem que eu os recebi muito bem porque eu tenho todo o
gosto de os receber aqui”. Recordando que todos os presentes na mostra
culinária são profissionais com bastantes anos de cozinha, o chef do
Restaurante Tromba Rija argumentou que a ligação entre estas culinárias é muito
antiga. “A cozinha portuguesa e dos PALOP tem 500 anos de história, e é um
bocadinho isso que se passa aqui, é juntarmo-nos e darmos todos as mãos e
trazermos para a mesa as iguarias de cada país com a fusão que ela já trazia de
500 anos”. Rita Gonçalves – Macau in “Ponto
Final”
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