Um estudo nacional liderado pela Prof. Doutora Conceição
Calhau, docente e investigadora da Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Nova de Lisboa, vai investigar se a severidade da COVID-19 em
indivíduos infetados com o novo coronavírus depende de microrganismos que
habitam o intestino humano. Financiado pela Biocodex e pela Fundação para a
Ciência e a Tecnologia (FCT), o trabalho irá recrutar doentes em vários
hospitais públicos do país e numa das unidades CUF de Lisboa, num total de 60
participantes
De
acordo com a investigadora, o estudo Gut microbiota, Spark and Flame of COVID-19
Disease “fornecerá prova do conceito de que a microbiota intestinal pode
ser um fator crítico responsável pelo resultado clínico da doença infeciosa
COVID-19”. Se os resultados confirmarem a hipótese, está aberto o caminho para
que sejam impulsionadas “novas intervenções médicas direcionadas à microbiota
intestinal contra este tipo de vírus, por exemplo, com prebióticos ou
probióticos associados a outras intervenções farmacológicas COVID-19 atualmente
em desenvolvimento”.
O
sistema imunitário é modulado pela microbiota intestinal. Cerca de 70% das
células produtoras de anticorpos residem no nosso intestino. A microbiota
intestinal tem, por isso, um papel determinante na saúde e particularmente no
sistema imunológico, pelo que o perfil da microbiota de pacientes infetados com
o novo coronavírus poderá relacionar-se com a vulnerabilidade, desenvolvimento
e severidade da doença”, explica a investigadora.
Neste
estudo, que conta com um financiamento total de 50 mil euros, os investigadores
vão também tentar perceber se os doentes com obesidade, diabetes ou hipertensão
são mais suscetíveis à COVID-19, uma vez que está comprovado que estas doenças
estão associadas a uma disfunção da microbiota intestinal. Estes doentes, tal
como os que apresentam patologia cardiovascular, pertencem aos grupos de risco
COVID-19, embora não sejam ainda conhecidos os mecanismos que os tornam mais
vulneráveis e com pior prognóstico após a infeção, algo que esta investigação
pode vir a clarificar.
A
Prof.ª Doutora Conceição Calhau revela ainda que os participantes do estudo
serão recrutados no Serviço de Medicina Interna do Hospital São Sebastião
(Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga), no Serviço de Cuidados Intensivos
Polivalente do Hospital Curry Cabral (Centro Hospitalar Universitário de Lisboa
Central), no Serviço de Atendimento Permanente do Hospital CUF Infante Santo,
em Lisboa, na Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente do Hospital de São
Francisco Xavier (Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental) e na Unidade de
Cuidados Intensivos do Centro Hospitalar Universitário de São João. Os
critérios de inclusão são ter COVID-19 e mais de 18 anos.
Para
explorar as bactérias, nomeadamente no que toca a sua espécie, género ou filo,
que podem estar representadas nos doentes infetados, em menor ou maior
quantidade, será analisado o perfil da microbiota em diferentes estados de
doença: doença leve (autoisolamento em casa); doença grave (isolamento no
quarto do hospital) e pacientes críticos (Unidade de Cuidados Intensivos
hospitalar). Assim, a caracterização da microbiota intestinal será feita a
partir de amostras de fezes, conclui. In “News Farma” - Portugal
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