Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Brasil – “O maior depósito de coronavírus do mundo” está na Amazónia

A intervenção humana em áreas protegidas pode gerar desequilíbrios ecológicos e contribuir para o salto de vários vírus dos animais para os seres humanos



A próxima pandemia poderá vir a ter origem na Amazónia, onde a penetração humana no habitat de outros animais gera desequilíbrios ecológicos e contribui para o aparecimento de doenças zoonóticas. É o alerta dado pelo ecologista brasileiro David Lapola numa entrevista à AFP sublinhando que "a Amazónia é um grande depósito de vírus" e, ao eliminá-la, "estamos a pôr a nossa sorte à prova".

Formado em ecologia, Lapola recorda que nas décadas anteriores o mundo já sofria de VIH, ébola e dengue. "É uma relação histórica, todos eles eram vírus que se propagavam muito largamente com base em desequilíbrios ecológicos".

Lapola afirma que, segundo estudos, esta transmissão ocorre mais frequentemente no sul da Ásia e em África, onde se encontram certas famílias de morcegos, mas que a diversidade amazónica pode caraterizar a região como "o maior depósito de coronavírus do mundo".

Contudo, adverte que “a culpa não é dos morcegos e não é para sair e matá-los", sublinhou o investigador brasileiro do Centro de Pesquisa Meteorológica e Climática Aplicada à Agricultura da Unicamp.

Lapola assinala que a situação actual, com o avanço do coronavírus, que no Brasil já matou 12 400 pessoas, torna ainda mais difícil a monitorização da já ameaçada floresta tropical. Nos primeiros quatro meses de 2020, foram abatidos 1202 km quadrados de floresta, segundo dados de satélite do Instituto Nacional de Investigação Espacial (INPE). É um aumento de 55% em comparação com o mesmo período em 2019, quando o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro enfrentou duras críticas dentro e fora do Brasil por minimizar o avanço dos incêndios que consumiam quantidades recorde de floresta.

Bolsonaro, um ex-capitão que defende a abertura da Amazónia à exploração mineira e agrícola, enviou esta semana um contingente militar para combater a desflorestação.

Os números vão mostrar se esta foi uma estratégia bem sucedida. "A questão mais grave é a utilização do exército para qualquer problema no Brasil. Isto mostra uma certa crise institucional e o desmantelamento do Instituto Brasileiro do Ambiente (Ibama)", considera.

"Ficou provado que o avanço da desflorestação depende de quem nos governa. A boa notícia é que os governos são temporários. Espero que na próxima administração tratemos com mais cuidado este enorme tesouro biológico, talvez o maior do planeta".

O investigador defende que é necessário "restabelecer a relação entre a sociedade e as florestas". Lapola salienta que, embora a propagação de novas doenças a partir do coração da floresta "seja demasiado complexa para prever, é melhor usar o princípio da precaução e não testar a nossa sorte". In “Contacto” - Luxemburgo

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