A pandemia de covid-19 está a colocar desafios adicionais
ao fornecimento de medicamentos, incluindo vacinas, a vários países africanos
A
comissária para os Assuntos Sociais da União Africana afirmou que África quer
acelerar a operacionalização da sua agência reguladora de medicamentos para
aumentar a segurança do setor e encorajar a produção no continente.
"Estamos
a estabelecer a nossa própria agência de medicamentos. Estamos ainda muito no
início. Os chefes de Estado [da União Africana] aprovaram o tratado de criação
da AMA (African Medicine Agency), 16 países membros assinaram, mas apenas dois
ratificaram. Precisamos de 15 ratificações para a agência poder começar a
funcionar e estamos a mobilizar os esforços junto dos Estados-membros para
avançar", disse Amira El Fadil.
A
responsável da União Africana falava, a partir de Adis Abeba, numa conferência
'online' sobre o apoio a África na luta contra a covid-19, em que
participaram também o diretor do Fundo Global contra Sida, Tuberculose e
Malária, Peter Sands, e o responsável pela Aliança para as Vacinas (GAVI), Seth
Berkley.
"Em
África, temos sido acusados de ser um depósito para medicamentos falsos e pouco
seguros. A produção interna no continente é limitada, temos problemas com as
regulamentações e com as políticas de medicamentos", adiantou.
Por
isso, sustentou: "Precisamos desta agência para proteger África, para
regulamentar as políticas [de saúde] no continente e para encorajar mais
produção local de medicamentos".
"As
pessoas estão a falar de tratamento para a covid-19, temos vários ensaios
clínicos a decorrer em África, temos o remédio orgânico em Madagáscar e, por
isso, precisamos de ser parte da segurança futura da saúde do continente e de
preencher as falhas nesta área", acrescentou.
A
pandemia de covid-19 está a colocar desafios adicionais ao fornecimento de
medicamentos, incluindo vacinas, a vários países africanos, evidenciando a
necessidade de o continente apostar na produção local para responder às
necessidades.
Amira
El Fadil abordou ainda a resposta à pandemia de covid-19 em África, que regista
mais de 66 mil infeções e 2336 mortes, considerando que o continente agiu cedo
e surgiu mais preparado para uma reação conjunta.
"África
decidiu desde o início agir como um continente em unidade e solidariedade e
esta é parte da força da resposta que estamos a ter", disse, adiantando
que as lideranças africanas aprenderam com as lições da epidemia de Ébola na
África Ocidental (2014-2016).
"Nessa
altura, não tínhamos um corpo técnico para liderar a luta contra qualquer
epidemia no continente. Depois disso, acelerámos o processo de instalação do
Centro para a Prevenção e Controlo de Doenças [África CDC], que teve um teste
na crise de Ébola na República Democrática do Congo, em 2018, mas que tem nesta
pandemia o seu grande teste", disse.
"Estamos
conscientes que em muitos países temos serviços de saúde frágeis e que esta não
é uma guerra fácil de ganhar", disse, reconhecendo a dificuldade de
aplicar medidas preventivas da doença como o distanciamento social ou o
isolamento.
"Sabemos
o tipo de vida que temos, vivemos juntos, temos famílias muito grandes a
viverem juntas. Estas medidas não são suficientes para África e, por isso,
estamos a pôr mais ênfase no diagnóstico", adiantou
"Estamos
a planear fazer testes, testes e mais testes. É uma das nossas
prioridades", acrescentou, reafirmando a meta de alcançar 10 milhões de
testes até final do ano.
Por
seu lado, Seth Berkley, responsável pela Aliança para as Vacinas, explicou que
a organização realocou 10% do orçamento destinado à vacinação para os países
poderem comprar equipamentos de proteção e testes para a covid-19, admitindo
que a pandemia terá um impacto nos níveis de imunização das populações.
"Estamos
a tentar manter a rotina, mas temos problemas nas cadeias de distribuição, as
campanhas foram reduzidas e estamos a ver a imunidade das populações a diminuir
porque os médicos e enfermeiros estão a ser desviados para a resposta à
covid-19", disse.
Por
outro lado, as medidas de confinamento decretadas pelos países estão a impedir
as famílias de acederem aos programas de vacinação.
"Temos
de estar preparados para agir imediatamente a seguir ao fim dos confinamentos e
fazer campanhas de recuperação de vacinação", disse.
Quanto
a uma possível vacina para o novo coronavírus, Seth Berkley mostrou-se otimista
com a rapidez com que os cientistas estão a trabalhar.
"Há
mais de 100 vacinas em desenvolvimento, oito em ensaios clínicos e um par delas
na segunda fase dois de ensaio. O desafio para nós é assegurar que haverá um
compromisso de acesso global à vacina e financiamento disponível para ajudar os
países pobres a pagarem pelo acesso às vacinas", disse.
A
nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de
covid-19 já provocou mais de 286 mil mortos e infetou mais de 4,1 milhões de
pessoas em 195 países e territórios.
Mais
de 1,4 milhões de doentes foram considerados curados. In “Contacto”
– Luxemburgo com “Lusa”
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