Mais de 30% dos cuidadores informais chineses, a maioria
mães, disse sentir “elevados níveis de sintomas depressivos”, esta é uma das
conclusões do estudo “Carga prestada aos cuidadores de familiares com
deficiência intelectual ou mental em Macau, China” conduzido pela Universidade
de Macau. Encomendado pela Associação de Reabilitação Fu Hong, o estudo foi
recentemente aprovado para publicação no Reino Unido. Fátima Santos Ferreira
considera que a investigação pode servir de directriz para o serviço que é actualmente
prestado, ao mesmo tempo que dá a conhecer à população “as necessidades reais”
dos cuidadores informais
Foi
aprovado para publicação o estudo “Carga prestada aos cuidadores de familiares
com deficiência intelectual ou mental em Macau, China”, encomendado pela
Associação de Reabilitação Fu Hong à Universidade de Macau, numa colaboração
com o professor Brian Hall, do Departamento de Psicologia. “Actualmente, as
investigações são limitadas em relação aos desafios enfrentados pelo cuidador
na sociedade chinesa”, afirmou a presidente da associação, Fátima Santos
Ferreira, ao Jornal Tribuna de Macau.
O
estudo, que será publicado no Reino Unido, tem como objectivo preencher as
lacunas existentes neste campo, por forma a “compreender melhor os desafios e
encargos na prestação de cuidados enfrentados pelos cuidadores informais a
pessoas com deficiência mental”.
O
estudo baseou-se nos testemunhos de 234 entrevistados e chegou à conclusão de
que, entre os cuidadores informais chineses que cuidam de um membro da família
com deficiência intelectual ou mental, 31,7% disse sentir “elevados níveis de
sintomas depressivos moderados e graves e 46,6% relataram sintomas de ansiedade
moderados e graves”. A falta de recursos financeiros e dificuldades em cuidar
destas pessoas são factores-chave que estão relacionados com estes distúrbios.
Dos
entrevistados, 183 eram mulheres e 51 eram homens, sendo que a maioria é casado
e tem 65 anos ou mais. Estas pessoas cuidam de familiares com deficiência
intelectual ou mental, dos quais 104 homens e 130 mulheres, com uma média de
idade de cerca de 32 anos. Destes, 149 (63,68%) tinham diagnóstico de
deficiência intelectual, 57 (24,36%) de doença mental e 28 (11,97%) de ambas as
doenças. A recolha de dados foi feita nos cinco centros que pertencem à Fu
Hong.
Sublinhando
que a carga e as dificuldades dos cuidadores têm um efeito “significativo” no
seu bem-estar psicológico, Fátima Santos Ferreira explicou que a equipa de
investigação utilizou o Caregiver Burden Inventory (CBI) para medir a carga de
prestação de cuidados.
“Os
resultados mostraram que os cuidadores que prestaram assistência a tempo
inteiro a pessoas com deficiência relataram que a carga física e dependente do
tempo os colocam sob maior pressão, [em linha com] os níveis de stress e
ansiedade, que são significativamente maiores [do que os dos cuidadores a tempo
parcial]”, frisou Fátima Santos Ferreira.
Por
outro lado, “a maioria considera que os actuais subsídios atribuídos” por parte
do Governo “desempenham um papel importante” no que respeita à redução da pressão
económica e financeira e à pobreza. “Se o Governo pudesse considerar as
necessidades reais dos cuidadores de pessoas com deficiências e oferecer-lhes
quantias apropriadas de apoio social, a carga e dificuldades poderiam ser
atenuadas”, indicou.
Fátima
Santos Ferreira espera que o Governo de Ho Iat Seng possa cumprir com a
promessa de implementar este ano o projecto-piloto de atribuição de subsídio a
cuidadores, de forma experimental. “As Linhas de Acção Governativa para 2020
demonstraram a filosofia do novo Governo, orientada para as pessoas. Por isso,
estou confiante de que implementará o programa de subsídio para cuidadores este
ano (…) Acredito que entenderá as reais necessidades dos cuidadores no futuro e
terá a responsabilidade de enfrentar os problemas”, defendeu.
Na
sua perspectiva, o estudo actua como “directriz para o nosso serviço actual,
podendo optimizar e aprimorar os serviços futuros”, ao mesmo tempo que dá a
conhecer à população “as necessidades reais” dos cuidadores informais.
Governo deve tornar dados “transparentes”
Actualmente
não há dados claros nem sobre o número de pessoas com deficiência nem sobre o
número de cuidadores informais no território. De acordo com a Organização
Mundial de Saúde, cerca de 15% da população mundial (estimativa da população
global de 2010) vive com algum tipo de deficiência. Quanto a Macau, com base
nos mais recentes dados, a população é de cerca de 700 mil pessoas, sendo que
destes mais de 100.000 sofrem algum tipo de deficiência.
De
acordo com os Serviços de Saúde de Macau, em 2018 houve cerca de 80 mil pessoas
a dirigir-se ao departamento de Psiquiatria do hospital, incluindo
internamento, consulta de acompanhamento, diagnóstico inicial, avaliação,
tratamento e medicação. Apesar disso, de acordo com o Instituto de Acção
Social, em Março de 2020, apenas 14.100 pessoas possuíam o “Certificado de
Registo de Avaliação de Deficiência”.
“É
impossível obter subsídios por invalidez ou certos serviços de assistência
social sem possuir esse certificado. Ainda há um grande número de pessoas que
não foi diagnosticada com doença mental em Macau”, observou, acrescentando que
muitas destas pessoas podem receber cuidados informais em casa e quem deles cuida
pode não perceber quais são efectivamente as suas necessidades, nem ter os
devidos apoios, resultando “numa maior sobrecarga”.
“Espera-se
que o Governo possa tornar os dados transparentes e promover activamente os
serviços de apoio dos cuidadores para permitir que mais pessoas entendam os
benefícios do serviço existente e estejam atentos às necessidades das pessoas
com deficiência e também dos cuidadores”, concluiu. Catarina Pereira – Macau
in “Jornal Tribuna de Macau”
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