Leonardo
Da Vinci, Michelangelo, Raphael, Rosso Fiorentino, Ticiano ou Mantegna estão
entre os 42 artistas renascentistas representados no Museu de Arte de Macau. A
mostra dos desenhos que exploram o processo criativo dos artistas estará
patente até 30 de Junho. O MAM vê agora concretizado o desejo de longa data de
trabalhar com o “British Museum”, numa ocasião em que celebra 20 anos. A
exposição apresenta um cariz inclusivo com várias experiências tácteis para
pessoas com dificuldades visuais
São os desenhos de
Michelangelo, Raphael e de um dos seguidores de Leonardo Da Vinci – Maestro
Della Pala Sforzesca – que abrem a exposição “Desenhos da Renascença Italiana
do British Museum”, que se encontra patente no Museu de Arte de Macau (MAM) até
30 de Junho. “São [pintores] os mais poderosos, aqueles que definiram a
Renascença italiana”, destacou ontem a curadora da exposição, Sarah Vowles, à Tribuna
de Macau.
Do ponto de partida, chega-se
depois a cinco mundos distintos – “A Figura Humana”, “O Movimento”, “A Luz”,
“Os Trajes e Panejamentos”, “O Mundo Natural” -, que, no seu conjunto, dão
origem às “Narrativas”. As seis secções integram 52 desenhos originais de 42
pintores.
A primeira dedica-se ao corpo
humano e às diferentes formas de o explorar e representar, sendo “a mais
básica, mas a mais importante”, realçou a curadora. Por exemplo, em “O
Movimento”, Sarah Vowles realçou o desenho “Hércules e o Centauro”, a que
Raphael deu forma pouco depois de chegar a Roma. “Impressionado pelas figuras
físicas de Michelangelo”, o pintor acabou por combinar as suas próprias
características “com o poder” das técnicas que via nas figuras do outro pintor.
Quanto à luz, era utilizada não só como forma de dar volume às figuras, como
também se reflecte na espiritualidade das imagens.
No fundo, a viagem pelos seis
“mundos” da mostra “permite-nos perceber o brilhante processo de ver jovens
artistas, no período do Renascimento, a enfrentarem desafios de crescente
complexidade”, disse a curadora. O objectivo é que “as pessoas percebam a
importância e primazia dos desenhos destes jovens artistas”.
O desejo dos jovens pintores
de quererem representar o mundo tal e qual como os rodeava – a natureza, o
corpo humano, o palpável – e, por outro lado, o interesse de séculos pela
Antiguidade foram o mote para que surgisse o Renascimento. “Estes dois
elementos juntaram-se para criar um terreno invulgar e muito poderoso. Foi
assim que nasceu o Renascimento”, acrescentou Sarah Vowles.
A colaboração com o “British
Museum” era “um desejo de há muito”, confessou a curadora do MAM, Margarida
Saraiva. “Por um lado porque é uma referência a nível mundial, por ter sido o primeiro
museu público no mundo, e por outro porque tem a maior colecção de objectos de
todo o mundo”, disse. Um desejo que é agora concretizado por ocasião do
aniversário dos 20 anos do MAM e em que se cumprem também os 500 anos da morte
de Leonardo Da Vinci.
Uma
exposição inclusiva
De forma a envolver as pessoas
que visitam a exposição “na descoberta dos desenhos”, foram criados objectos
que possam permitir ter uma experiência táctil a pessoas com deficiências
visuais ou a quem queira ter uma experiência diferente. Do conjunto de obras
expostas, 16 foram escolhidas para serem representadas de forma física.
“Queremos que as pessoas
possam tocar, que possam experimentar os diferentes sentidos, porque os
desenhos são apenas visuais”, explicou o professor Gerald Estadieu, da
Faculdade de Indústrias Criativas da Universidade de São José, que orientou o
projecto.
“Para cada um desses desenhos,
o que tentámos foi traduzi-lo num objecto físico. Com alguns criámos modelos
3D, com outros utilizámos apenas algumas linhas-chave [dos desenhos], mas claro
que nunca podemos reproduzir exactamente o que o artista fez”, acrescentou.
Apesar disso, a ideia é criar um museu mais inclusivo em que “pessoas com
dificuldades visuais possam reagir quando tocam nestes objectos”.
Para Sarah Vowles, que já
experimentou alguns dos puzzles criados, a iniciativa não podia ser melhor:
“Ver as diferentes formas como o universo pode responder aos desenhos adiciona
uma nova dimensão à exposição, portanto acho que é um projecto importante”.
As expectativas para os dois
meses de exibição dos desenhos originais são positivas, mas acima de tudo,
Margarida Saraiva pretende que a mostra seja uma inspiração não apenas na forma
de olhar para a arte. “Espero que possa inspirar [na medida em que] às vezes
não vemos as dificuldades que nos rodeiam. A exposição deve ser um momento de
inspiração, por isso tentamos que seja para todas as pessoas, com diferentes
interesses e desejos”, concluiu a curadora. Catarina
Pereira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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