As
relações entre a China e os países lusófonos são o epicentro do Mestrado e
Doutoramento da Universidade da Cidade de Macau visando cultivar as relações
bilaterais, ao potenciarem o contacto interpessoal, no contexto de Macau
enquanto plataforma mas também como parte da iniciativa Uma Faixa, Uma Rota. A
estes associam-se o Instituto e Centro de Investigação da UCM que procuram
ajudar a quebrar barreiras por vias da pesquisa e intercâmbio académico de
alunos
Foto: JTM |
A Universidade da Cidade de
Macau (UCM) ministra, desde 2017, um Mestrado e Doutoramento em estudos sobre
os países de língua portuguesa que vai, de certo modo, ao encontro da
iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota” – lançada em 2013 por Xi Jinping que prevê
investimentos de milhões de dólares em projectos estruturais na Ásia, África e
Europa. Além disso, conta com um Centro de Investigação e um Instituto para a
Investigação dos Países de Língua Portuguesa, criados pela UCM há pouco mais de
três anos.
O Jornal Tribuna de Macau esteve
à conversa com Pang Chao, director do Centro, e Francisco José Leandro,
director assistente do Instituto, para perceber o contributo e as expectativas
destas duas ferramentas no desenvolvimento de Macau dentro da iniciativa
chinesa, e nas relações sino-lusófonas.
Os avanços e progressos do
programa chinês estão em destaque na medida em que decorre em Pequim a segunda
edição do Fórum “Uma Faixa, Uma Rota”, com a presença de quase 40 Chefes de
Estado, incluindo Marcelo Rebelo de Sousa. Portugal é, de resto, um dos poucos
países da União Europeia (UE) que já expressou apoio formal a um projecto que
tem suscitado divergências com as potências ocidentais.
As economias europeias olham
para o projecto de Xi Jinping como uma nova forma de colonialismo e ordem
mundial a ser moldada por um rival estratégico, com sistemas e valores
políticos díspares. No entanto, para o director do Centro de Investigação “Uma
Faixa, Uma Rota” existe, de facto, um “mal-entendido” sobre o plano. “É uma iniciativa
assente no desenvolvimento por vias da cooperação. Este é o principal
objectivo” e “à medida que a co-construção, co-uso e co-partilha vão crescendo,
mais e mais países ocidentais farão parte da iniciativa”, estimou Chao Peng.
Aliás, “a intenção final é que
todos os países se desenvolvam, cresçam, e não apenas a China. Depois de
Portugal se ter juntado à iniciativa, em Dezembro, e a Itália, em Março, talvez
a Suíça se junte. Acredito que isto irá acelerar os passos e a área que se
pretende desenvolver”, acrescentou.
Francisco José Leandro
ressalva que este projecto é recente e ainda “está a crescer”. “O que a China
está a dar é a estrutura, as oportunidades e cabe-nos explorá-las. A
responsabilidade também recai nos países participantes, e um dos principais
problemas é que a maioria dos países não tem uma ideia clara sobre o que fazer
e é aqui que entra a China”, notou.
Ao mesmo, e com uma “posição
bastante positiva” sobre as relações que se estão a estabelecer – nomeadamente
as sino-lusófonas – Francisco José Leandro reconhece o cepticismo de algumas
economias europeias em aderir à iniciativa embora tudo faça parte do jogo.
“Fico muito contente por ver que a União Europeia tem agora uma estratégia
sobre Uma Faixa, Uma Rota. Durante muitos anos, a UE ignorou, simplesmente, a
existência desta iniciativa o que deixou de ser verdade e representa um sinal
positivo”.
Por outro lado, “a liderança
chinesa está a tentar compreender os reais problemas e a satisfazer diferentes
interesses, o que leva tempo”, além de que “tudo depende também da contribuição
que cada país está disposto a fazer”.
Criar
pontes e contactos
Mais direccionados para a
plataforma sino-lusófona, enquadram-se o Mestrado e Doutoramento da UCM. Para
Francisco José Leandro, os dois cursos, associados ao Instituto e Centro de
Investigação, surgem como um “grande serviço”, somado ao Fórum Macau, prestado
pela universidade nesta “ideia de reforço de relações entre a China e os países
de língua portuguesa”.
“As pessoas têm diferentes percepções
mas a verdade é que muitas coisas estão a ser feitas, nomeadamente ao nível de
cooperação humana que abrange educação, saúde, turismo, rede de contactos,
comunicação, acesso digital, etc. Todas as semanas recebo pedidos do Brasil,
Cabo Verde e Guangdong e o nosso papel é, no fundo, colocar as pessoas em
contacto porque há barreiras. A China não é conhecida nos países de língua
portuguesa, e vice-versa”, frisou.
De qualquer modo, “o que a
China está a fazer com todos os países de língua portuguesa é estabelecer uma
rede de contactos permanente e a todos os níveis – medicina, educação, trocas
comerciais – mas é um longo processo e um longo caminho a percorrer” que
“estamos a construir em conjunto”, frisou Francisco José Leandro.
Ademais, descreveu Pang Chao,
esse “é o aspecto mais importante e é aqui que Macau representa um papel
crucial na relação com os países de língua portuguesa”. E, realçou Francisco
Leandro, sendo o Fórum Macau “um instrumento” do poder soberano, “o que podemos
fazer envolve cooperação, instituições como a nossa, e colocar as pessoas à
volta da mesma mesa, organizar eventos culturais, conferências, etc.
Estabelecer uma ponte não apenas no quadro das relações bilaterais soberanas
mas ao nível de todos os outros aspectos que não são cobertos por questões
soberanas”.
É neste contexto que entram os
60 alunos dos cursos sobre os estudos dos países de língua portuguesa: 40 do
Mestrado e 20 do Doutoramento, 14 dos quais são do Continente chinês, seis de
Macau e do estrangeiro.
Os cursos lançados
estrategicamente pela UCM surgem como uma forma de incentivar a troca de
contactos e de relações entre os diferentes países abrangidos pelas políticas
chinesas de aproximação à lusofonia. “Estamos a tentar trazer alunos da China e
de todos os países de língua portuguesa porque a partir do momento em que se
encontram esta relação é eterna”, disse Francisco Leandro. O também professor
assistente espera que os cursos consigam, nas próximas edições, atrair mais
alunos lusófonos até porque “este é o único programa de mestrado e
doutoramento, do mundo, que aborda as relações entre a China e os Países da
Língua Portuguesa – há um curso semelhante em Coimbra mas que não confere o
grau universitário”.
Exemplos disso são Diego,
Rachel Li e Calvin Chen – alunos do Doutoramento em estudos sobre os países de
língua portuguesa que partilham o interesse por esta área de investigação.
Diego, com investimentos em
Portugal, encontrou uma “oportunidade interessante” no curso que espera dar-lhe
uma via profissional ligada às relações internacionais, no Continente chinês.
Já Rachel Li acha que o Doutoramento “permite estar em contacto com pessoas
naturais de vários países de língua portuguesa”. Actualmente integra uma equipa
de investigação sobre as potencialidades estratégias entre Macau, Timor-Leste a
China.
“É uma oportunidade especial
porque conhecia muito pouco do país. Além da língua, há algumas dificuldades
porque a cultura é diferente mas está tudo a correr bem”, disse a este jornal.
Calvin, por exemplo, recorda
com entusiasmo a sua estadia em Timor-Leste que lhe permitiu conhecer uma
cultura e realidade diferentes que o enriquecem profissionalmente. O jovem
estudante espera arranjar emprego na área política e diplomática sino-lusófona.
Experiências de estudantes que
são parte integrante de um projecto que torna Macau o “único lugar no mundo com
um centro de investigação, mestrado e doutoramento com pessoas com capacidade
para falar três línguas. Isto é o importante, é a materialização da importante cooperação
interpessoal”, rematou Francisco José Leandro. Catarina Almeida – Macau in
“Jornal Tribuna de Macau”
Sem comentários:
Enviar um comentário