O
escritor angolano José Eduardo Agualusa e o moçambicano Mia Couto mostraram-se
sábado à noite "impressionados" com a 'sede' de literatura
manifestada por jovens nos dois países, lamentando a dificuldade no acesso ao
livro
José Eduardo Agualusa e Mia
Couto falavam à agência Lusa após terem participado, no teatro Elinga, em
Luanda, totalmente cheio, na iniciativa "Conversa A 3", em que o
autor angolano apresentou, pela segunda vez em quatro dias, o livro "A Sociedade dos Sonhadores Involuntários",
lançado em Portugal em 2017, mas que só agora foi possível divulgá-lo na
capital de Angola.
"Todo o evento correu
bastante bem, superou as nossas expectativas, do Mia e minhas também. [Em
Luanda, onde está desde terça-feira e de onde parte de regresso à ilha de
Moçambique, onde reside actualmente] fiz uma oficina literária, foi incrível,
fizemos um conto durante essa oficina, depois fizemos um livro com designers,
artistas gráficos e ilustradores e os encontros com escritores também correram
muito bem e superou largamente todas as minhas melhores expectativas",
explicou Agualusa.
Questionado pela Lusa sobre o
facto de os dois encontros - o primeiro decorreu quarta-feira no mesmo espaço
-, terem registado casa cheia e uma juventude ansiosa por ter acesso ao livro,
cujos custos são elevados para o nível de vida local, Agualusa considerou um
"desafio" conseguir levar as obras aos leitores.
"Isso é uma coisa que se
sente aqui em toda a parte. As pessoas querem muito ler. Não concordo nada com
essa história de que os angolanos não querem ler. O que vejo são pessoas que
querem ler, mas não têm livros, não têm acesso ao livro. O grande desafio é
saber como fazer com que os livros cheguem aos seus leitores", respondeu.
Agualusa admitiu que o custo,
por exemplo, de um exemplar do livro que apresentou em Luanda, "A Sociedade dos Sonhadores Involuntários",
está a ser vendido em Angola a 10.000 kwanzas, preço muito elevado para uma
população que tem como ordenado mínimo nacional, recentemente actualizado, de
33.000 kwanzas, ressalvando nada ter a ver com a situação.
Sobre a presença de Mia Couto
na iniciativa, que empolgou a assistência, o escritor angolano disse assumir,
"com franqueza", que não seria de esperar outra coisa.
"Bom, digo com franqueza:
todas as nossas conversas correm bem porque o Mia, bem, é o Mia Couto e então
correm sempre bem. Mas o público, e é preciso dizer isso, foi muito bom, as
pessoas estavam muito interessadas, com muito entusiasmo, e isso é ótimo",
comentou.
Por seu lado, Mia Couto disse
sentir-se rejuvenescido durante a participação na sessão, salientando a
"inquietação" de uma juventude que quer ter acesso à literatura e ao
livro.
"Acho que me senti mais
jovem mesmo porque essa inquietação, essa busca existe em Angola, em
Moçambique, no mundo, traduz a esperança que a gente pode colocar no mundo. De
facto, se os jovens procuram livros é sinal de que o mundo ainda tem
salvação", referiu.
Ainda sobre a procura da
juventude em chegar a patamares mais elevados na leitura, o escritor
moçambicano considerou ser importante que os jovens sonhem.
"É um enorme prestígio
que a literatura tem, que os escritores têm à boleia da literatura, e que há
muita gente em Moçambique que quer ser escritor. No fundo, eu interpreto isso
como as pessoas que querem ser sujeitos de uma história, querem produzir uma
versão da história do mundo e da sua própria história e isso é uma coisa que só
me pode dar grande felicidade", concluiu Mia Couto, que passou por Angola
a caminho do Brasil, para onde partiu sábado à noite. In “Novo
Jornal” – Angola com “Lusa”
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