Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Macau - Centenário de Fernando Namora: Reavivar a memória de um autor esquecido

A propósito da comemoração dos 100 anos do nascimento de Fernando Namora, a Associação dos Amigos do Livro de Macau organizou uma sessão onde se recordou o autor. Fernando Namora, um escritor que “está um bocado esquecido”, mas cuja “marca continua” 100 anos depois, descreve Shee Va, membro da associação e um dos organizadores do evento



Fernando Namora faria ontem (15 de abril) 100 anos. Como forma de celebrar o centenário, a Associação dos Amigos do Livro de Macau organizou uma tertúlia na Livraria Portuguesa onde se falou do escritor. Nos livros de Fernando Namora, “conseguimos detectar o povo português e a cultura portuguesa”, descreve Shee Va, um dos organizadores da sessão. Ainda assim, é um autor “um bocado esquecido”, lamenta.

“Nós resolvemos festejar Fernando Namora porque achamos que ele é um escritor muito importante dentro da literatura portuguesa, foi dos escritores mais lidos e traduzidos nas décadas de 70 e 80, e, tanto que consegui descobrir, ele tem traduções em 14 línguas, entre o romeno, eslavo, esperanto, francês, inglês e descobri também em chinês”, justificou o também escritor e médico Shee Va. Assim, “sendo um escritor tão lido e tão conhecido por todo o mundo, achámos que ele está um bocado esquecido, então, nestes 100 anos, resolvemos reavivar a memória das pessoas”.

Fernando Namora ficou esquecido na sombra de Saramago, entende Shee Va: “Ele é do neo-realismo e depois apareceu um Saramago, que é Prémio Nobel. As pessoas vão ler um Nobel e não vão ler Fernando Namora, se bem que, em 1981, ele foi proposto para Nobel da Literatura”.

“É um autor que tem uma grande representatividade em termos de cultura portuguesa pelos seus romances, pelos personagens que criou e pela época em que actuou”, explica, passando a citar o homenageado: “Fernando Namora diz: ‘inserir-me no neo-realismo é curto’. Ele achava que aquilo que fez foi caracterizar muito bem a população portuguesa”. “Nós, através dos livros, conseguimos detectar o povo português e a cultura portuguesa e inseri-la dentro de uma época”, refere o médico. Para Shee Va, “a marca dele continua”.

Do neo-realismo ao individual, Shee Va traça o caminho da obra de Fernando Namora: “Quando começa a escrever, ele é muito conotado com aquilo que é o neo-realismo, que é dizer as coisas tal como são, sem grandes floreados. Ele depois foge disso, no amadurecimento ele foge dessa realidade e torna-se muito individual, muito cosmopolita, fala de muita coisa sem ser o neo-realismo”. “Tem uma fase de juventude, uma fase rural em que ele, como médico, vai trabalhar para as províncias e, por isso, os contos são muito relacionados com a província”. Depois, em Lisboa, há a fase citadina e, mais tarde, a cosmopolita, sobre as suas viagens. “Numa fase final, no livro ‘O Rio Triste’, vê-se o amadurecimento de Fernando Namora, já não é o neo-realista, já é muito mais cosmopolita e individual”, descreve.

Tal como Fernando Namora, também Shee Va, para além de ser escritor, é médico. A ligação entre as duas actividades está no processo: “Nós, no curso de Medicina, aprendemos a ouvir, a auscultar, palpar, e só depois pensar. Isso transfere-se para quando ouvimos a sociedade, as pessoas, os nossos amigos”. Shee Va indica que esta é uma forma de intervir na sociedade, “essa intervenção é o espírito de insubmissão”. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”

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