A
propósito da comemoração dos 100 anos do nascimento de Fernando Namora, a
Associação dos Amigos do Livro de Macau organizou uma sessão onde se recordou o
autor. Fernando Namora, um escritor que “está um bocado esquecido”, mas cuja
“marca continua” 100 anos depois, descreve Shee Va, membro da associação e um
dos organizadores do evento
Fernando Namora faria ontem
(15 de abril) 100 anos. Como forma de celebrar o centenário, a Associação dos
Amigos do Livro de Macau organizou uma tertúlia na Livraria Portuguesa onde se
falou do escritor. Nos livros de Fernando Namora, “conseguimos detectar o povo
português e a cultura portuguesa”, descreve Shee Va, um dos organizadores da
sessão. Ainda assim, é um autor “um bocado esquecido”, lamenta.
“Nós resolvemos festejar
Fernando Namora porque achamos que ele é um escritor muito importante dentro da
literatura portuguesa, foi dos escritores mais lidos e traduzidos nas décadas
de 70 e 80, e, tanto que consegui descobrir, ele tem traduções em 14 línguas,
entre o romeno, eslavo, esperanto, francês, inglês e descobri também em
chinês”, justificou o também escritor e médico Shee Va. Assim, “sendo um
escritor tão lido e tão conhecido por todo o mundo, achámos que ele está um
bocado esquecido, então, nestes 100 anos, resolvemos reavivar a memória das
pessoas”.
Fernando Namora ficou
esquecido na sombra de Saramago, entende Shee Va: “Ele é do neo-realismo e
depois apareceu um Saramago, que é Prémio Nobel. As pessoas vão ler um Nobel e
não vão ler Fernando Namora, se bem que, em 1981, ele foi proposto para Nobel
da Literatura”.
“É um autor que tem uma grande
representatividade em termos de cultura portuguesa pelos seus romances, pelos
personagens que criou e pela época em que actuou”, explica, passando a citar o
homenageado: “Fernando Namora diz: ‘inserir-me no neo-realismo é curto’. Ele
achava que aquilo que fez foi caracterizar muito bem a população portuguesa”.
“Nós, através dos livros, conseguimos detectar o povo português e a cultura
portuguesa e inseri-la dentro de uma época”, refere o médico. Para Shee Va, “a
marca dele continua”.
Do neo-realismo ao individual,
Shee Va traça o caminho da obra de Fernando Namora: “Quando começa a escrever,
ele é muito conotado com aquilo que é o neo-realismo, que é dizer as coisas tal
como são, sem grandes floreados. Ele depois foge disso, no amadurecimento ele
foge dessa realidade e torna-se muito individual, muito cosmopolita, fala de
muita coisa sem ser o neo-realismo”. “Tem uma fase de juventude, uma fase rural
em que ele, como médico, vai trabalhar para as províncias e, por isso, os
contos são muito relacionados com a província”. Depois, em Lisboa, há a fase
citadina e, mais tarde, a cosmopolita, sobre as suas viagens. “Numa fase final,
no livro ‘O Rio Triste’, vê-se o amadurecimento de Fernando Namora, já não é o
neo-realista, já é muito mais cosmopolita e individual”, descreve.
Tal como Fernando Namora,
também Shee Va, para além de ser escritor, é médico. A ligação entre as duas
actividades está no processo: “Nós, no curso de Medicina, aprendemos a ouvir, a
auscultar, palpar, e só depois pensar. Isso transfere-se para quando ouvimos a
sociedade, as pessoas, os nossos amigos”. Shee Va indica que esta é uma forma
de intervir na sociedade, “essa intervenção é o espírito de insubmissão”. André Vinagre – Macau in “Ponto
Final”
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