Burghers,
em holandês, significa cidadãos e passou a designar todas as
pessoas com ascendência euro-asiática, incluindo holandeses e
portugueses, no Sri Lanka. A comunidade de «milhares de pessoas»
falantes de crioulo é originária da presença portuguesa no Ceilão
no século XVII.
Hugo
Cardoso, autor de uma investigação sobre falantes do crioulo
português, afirmou à agência Lusa que estas comunidades manifestam
o desejo de participar em festivais de folclore portugueses «por
exemplo, no festival de Cantanhede (Semana Internacional de Folclore)
e estes festivais estão abertos a este tipo de participação, mas é
difícil conseguir o financiamento para as viagens; teriam de vir os
músicos e os dançarinos; a outra opção seria trazer apenas os
músicos, mas as comunidades gostariam de enviar a “performance”
completa».
De
acordo com o linguista da Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa, «há dois grupos particularmente ativos na preservação da
música e da dança: um deles é constituído por pessoas mais
idosas, que ainda falam bem o crioulo e depois há um grupo que forma
pessoas mais novas, entre as quais alguns já não falam a língua;
usam a língua nas canções, mas isso não é suficiente para
preservar a língua nas suas famílias».
O
material da investigação sobre as comunidades burgher portuguesas
começa a estar disponível através do Arquivo das Línguas
Ameaçadas (Endengered Languages Arquive), gerido pela SOAS
(Universidade de Londres), em na cidade inglesa.
Segundo
o investigador, a ideia que se tem vindo a desenvolver é que, quando
o português desaparece de alguma sociedade, a língua inicia um
processo de convergência com as outras línguas locais e, como a
saída dos portugueses ocorreu em meados do século XVII, houve mais
tempo para este crioulo se aproximar, em termos gramaticais, das
línguas da região, o que resulta num perfil linguístico muito
diferente. «Em vez de proposições, têm proposições, que vêm
depois dos nomes. Os verbos vêm no final das frases e tudo isto está
relacionado com o perfil linguístico das línguas dravídicas da
Ásia Meridional».
A
investigação de Hugo Cardoso concluiu que, apesar de existirem
milhares de falantes, a transmissão da língua às gerações mais
recentes está ameaçada. A solução passaria por incluir
especialistas do próprio crioulo, no sentido de manter a identidade
da língua, caso seja essa a vontade da comunidade.
«Faz
sentido se a comunidade sentir ajuda e interesse de ajuda das
instituições de Portugal, mas isso deve ser feito com muito
cuidado. O meu receio nestas situações é que não seja feito com
cuidado porque, se a intervenção for feita sem se saber como
conservar essa língua e introduzir o português europeu, isso pode
ter como resultado substituir o crioulo pelo português, que é
negativo a meu ver porque este processo deve ser aditivo e não
subtrativo e, por isso, tem de ser feita uma intervenção muito
responsável, ou então, no limite, pode dar mais força à ideia de
que aquelas línguas são incorretas e devem ser abandonadas, sem que
nem o português se consiga implementar nessas regiões».
O
investigador pretende estudar o português de Goa, Damão e Diu, que
«não está devidamente estudado e documentado». In
“Revista Port.
Com” - Portugal
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