O
diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) português, Paulo
Ferrinho, defende que a malária continua um grande problema em todos os países
africanos lusófonos e um desafio maior em matéria de doenças tropicais
"A malária continua a ser
um grande problema em todos os países lusófonos em África, sem exceção. Não
podemos dizer que a situação está controlada e, em situações de crise, como a
que temos agora em Moçambique, com cheias, esperamos um agravamento da situação",
disse Paulo Ferrinho, em entrevista à agência Lusa.
"A malária continua
realmente a ser o nosso grande desafio", acrescentou.
Mais de 90% dos 219 milhões de
casos de malária de 2017 e das 435.000 vítimas mortais registaram-se no
continente africano, a maioria crianças com menos de cinco anos.
Moçambique é o único país
lusófono que no grupo de 11 países em que se registaram 70% de casos (151
milhões) e mortes (274 mil) em 2017 e, por isso, foi escolhido pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) para aplicar uma nova estratégia de combate à doença.
É o país com a terceira maior
percentagem (5%) de casos de malária no mundo e o oitavo onde a doença mais
mata (3% do total de vítimas), segundo o relatório anual sobre a doença
divulgado em novembro pela OMS.
Angola surge em 13.º lugar com
2% do total mundial de casos.
A Guiné-Bissau registou cerca
de 144 mil casos suspeitos de malária em 2017 e 296 mortes, segundo o
relatório.
No polo oposto, entre os
países próximos da erradicação da doença está Cabo Verde, que registou, no
entanto, em 2017, um surto de paludismo, concentrado sobretudo na ilha de
Santiago, com 423 casos - incluindo uma vítima mortal -, nove vezes mais do que
os registados no ano anterior.
São Tomé e Príncipe está
também próximo da erradicação da doença, com cerca de 2240 casos suspeitos e
sem registo de mortes.
O diretor do Instituto de
Higiene e Medicina Tropical (IHMT) falava, à Lusa, antecipando o 5.º Congresso
Nacional de Medicina Tropical, que vai reunir, em Lisboa, de 10 a 12 de abril,
especialistas lusófonos, europeus e de outros países para debater as políticas
e serviços de saúde no espaço da lusofonia.
Paulo Ferrinho alertou também
para a existência nestes países de outras doenças transmitidas por mosquitos
(vetores) "que vão ganhando terreno".
"Em Angola, temos dengue,
Zika, chikungunya, febre-amarela. São doenças que também estão presentes na
Guiné-Bissau, mas algumas ainda não estão presentes em Moçambique, onde o
grande problema é a malária em todo o território nacional, mas sobre o dengue
só temos conhecimento em Nampula, no Norte", disse.
O reforço dos sistemas de
saúde e a promoção do acesso universal à saúde, com ênfase nos sistemas de
saúde dos países lusófonos em África, será o foco do congresso, que irá ainda
abordar a saúde dos viajantes nestes países e as migrações para a Europa.
Nesse sentido, explicou Paulo
Ferrinho, estarão em análise aspetos "considerados os principais estrangulamentos"
dos sistemas de saúde, nomeadamente a formação, planeamento e recursos humanos
em saúde, a regulação económica do setor ou o apoio laboratorial aos serviços
de saúde.
"Vamos ter uma sessão
sobre serviços de saúde para viajantes nos países lusófonos. Será uma primeira
vez em que vamos fazer um levantamento do que é que se faz nos países lusófonos
em relação à saúde dos viajantes. Vamos ter também uma sessão sobre migrantes,
olhando para os migrantes de acordo com as necessidades em trânsito para os
países de acolhimento, quais as dificuldades e o que se faz para apoiar e
acolher esses migrantes", disse.
O congresso deverá contar com
a presença do Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, na
sessão de abertura e tem como oradores convidados a diretora-geral da OMS para
África, Matshidiso Moeti, e o ex-ministro da Saúde de Moçambique Leonardo
Simão. In “Sapo Timor-Leste” com “Lusa”
Sem comentários:
Enviar um comentário