Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)
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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Moçambique – Uma análise de Ungulani Ba Ka Khosa às eleições gerais de 2024

Para quem, como eu, tem acompanhado, ao longo de mais de quarenta anos, como professor e, acima de tudo, escritor, o percurso da Frelimo, em tanto que Frente de libertação de Moçambique e, subsequentemente, como Partido de orientação marxista, desembocando em Partido sem estratégia ideológica, estas eleições não me surpreenderam de todo


Ao acompanhar a leitura dos resultados feita pelo Presidente da Comissão Nacional de Eleições, veio-me à mente a durabilidade no poder de um outro partido do sul global, o PRI (partido revolucionário institucional), do México, que esteve no poder entre 1929 e 2000. 71 anos no poder. Longo e asfixiante tempo! As críticas que se faziam, nas sucessivas eleições, centravam-se na fraude eleitoral, na sucessiva repressão contra os eleitores, na sistemática violação dos princípios democráticos, na falta de lisura no trato da coisa pública. Tal e qual a nossa situação. 

A propósito, o grande Poeta e intelectual mexicano Octávio Paz, dizia, com a linguagem que lhe era característica: “Os moralistas escandalizam-se diante das fortunas acumuladas pelos antigos revolucionários, mas não reparam que a este florescimento material corresponde outro verbal: a oratória transforma-se no género literário de pessoas prósperas. Mais que um estilo é uma marca, um distintivo de classe.

Ao lado da oratória e das suas flores de plástico, triunfa e se propaga a sintaxe bárbara nos jornais; as inépcias nos programas de televisão; a desonra diária da palavra nos alto-falantes e nos rádios, a cafonice enjoativa da publicidade – toda esta asfixiante retórica, ao mesmo tempo nauseabunda e açucarada, de gente satisfeita e amodorrada por comer demais. Sentados sobre o México, os novos senhores e os seus cortesãos e parasitas lambem os beiços diante de gigantescos pratos de lixo florido.

Quando uma sociedade se corrompe, a primeira coisa que gangrena é a linguagem. A crítica da sociedade, em consequência, começa com a gramática e com o restabelecimento dos significados.”  Atenção intelectuais e sociedade civil! Li, algures, por entre os textos que circulam nas redes, uma máxima que me encantou e que restabelece, de facto, os significados: “O povo não é prejudicado pela greve. O povo está em greve por ser prejudicado.” 

É profundo. E é a resposta popular à recente política editorial dos média, e não só, em dar enfoque aos prejuízos económicos resultantes das manifestações. Uma manifestação, a ideia não é minha, li-a algures, é sempre um simulacro de revolução. Ela visa inquietar o poder, abanar os alicerces corroídos, provocar rupturas, e influenciar as decisões do governo. Não esqueçamos que o nosso modelo democrático funda-se na representatividade, na delegação do poder. Se a árvore que nos representa não dá frutos, é  preciso repensar na sua utilidade dentro do nosso espaço  vital.

No nosso caso, a população quer mudanças profundas, está cansada da esperança prometida, quer que a realidade do dia a dia mude radicalmente, em actos e propostas urgentes; mas o poder, anquilosado na cadeira que o sustenta há mais de 49 anos, não quer ver a realidade que está nas ruas. E isso pode ser fatal para um partido que já foi uma Frente de Libertação e que soube, a seu jeito, adaptar-se aos conturbados momentos da luta de libertação. Mas quando se transformou em Partido, a ortodoxia e o conservadorismo tomou as rédeas do que era o movimento de libertação. Afirmações desconexas e infantis do comandante geral da polícia, bem como o comunicado tão fora do tempo histórico, como o que foi proferido pela senhora Alcinda Abreu, em nome da Comissão Politica da Frelimo, revelam uma pobreza intelectual e ideológica tão confrangedora que me custa afirmar que a Frelimo está à deriva, desconectada da realidade, e muito longe de um ancoradouro sustentável. Mas está mesmo! 

Reencontrem-se e dialoguem com esta juventude que representa o Futuro. O futuro pertence-lhes! E a nós também. Ungulani Ba Ka Khosa – Moçambique in “Moz Entretenimento” com “Facebook”


quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Moçambique - Mia Couto diz que houve desleixo em relação aos raptos

Mia Couto sente que houve desleixo do Governo na resposta aos raptos. Em “Grande Entrevista” à STV, o escritor classifica como vergonhosas as promessas não cumpridas de apresentar publicamente os mandantes dos crimes. Considera, ainda, que se perdeu a vergonha de mostrar riqueza num país com muita pobreza.



Um dos gigantes da literatura de língua portuguesa, António Emílio Leite Couto, foi o convidado desta semana do programa Grande Entrevista, da STV.

Em 60 minutos, o escritor, vencedor da 25ª edição do Prémio Camões, em 2013, partilhou o seu pensamento sobre diferentes temas da actualidade, entre os quais os raptos. O fenómeno ganhou contornos alarmantes nos últimos anos, com alguns empresários a abandonarem o país por temerem ser raptados. Ademais, há relatos de vítimas que chegaram a morrer em cativeiros.

“Acho que houve um certo desleixo, exactamente porque parece que é uma coisa que está ali e está confinada a um certo tipo de comunidade, mas é uma vergonha, no sentido de como é que a reacção parece pouco displicente. Não há promessa de que se vai exibir os mandantes. Essa promessa vai como o resto: apanha-se aquilo que é peixe miúdo, mas o peixe graúdo não é visível”, disse Mia Couto.

A visão crítica de Mia Couto estende-se para a governação e os governantes em Moçambique.

“É preciso que a governação se faça pelo exemplo e que os dirigentes deste país, através da sua própria vida e vivência pública, mostrem que são servidores e que optaram por uma vida, não diria de sacrifício, mas se pedem sacrifício aos outros eles devem ser os primeiros.”

Couto fala ainda sobre pobreza e desigualdades e condena a sociedade que considera que tem cada vez menos empatia com aqueles que pouco ou nada tem. “Parece que se perdeu a vergonha de mostrar que eu sou muito rico num país de gente muito pobre e essa minha riqueza nem sempre terá vindo… Desde que me lembre, eu trabalho, e não tenho possibilidades dessa riqueza. Se a tivesse, eu gostaria de ter. Teria um certo pudor em exibir de maneira como se exibe. E criou-se a ideia de que só se é cidadão se for assim, se for rico”, criticou o autor de “Vozes Anoitecidas”, livro de contos com que se estreou na ficção, a que se sucedeu “Cada Homem é uma Raça”, “Estórias Abensonhadas”, “Contos do Nascer da Terra”, entre outras obras.

Homem da literatura, da escrita e das palavras, Mia Couto diz também, nesta entrevista, o que pensa sobre os problemas da educação.

Aliás, quando questionado sobre o que lhe vai na mente quando se fala da educação, o autor de uma vasta obra ficcional caracterizada pela inovação estilística e a profunda humanidade, não hesitou em dizer: “Vem-me a palavra deseducação, porque eu acho que o problema da educação não é só a falta de qualidade deste modelo que é patente e enorme, quer dizer, talvez o factor que mais compromete o nosso futuro é a má qualidade da educação”, frisou.

Finanças públicas, situação da oposição e a vida literária de Mia Couto foram outros temas abordados na entrevista.

Nascido na Beira (Moçambique) em 1955, Mia Couto também escreveu peças de teatro e é actualmente o autor mais lido dos países de língua oficial portuguesa em África. In “O País” - Moçambique


terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Brasil - Preservação de bens culturais é importante para a construção da história de uma sociedade

Os bens culturais fazem parte da história de um povo, cultura e sociedade. Sua preservação, de acordo com Lúcio Gomes Machado, serve também para entendê-la para além dos livros escritos


Em novembro, um ostensório foi furtado da Igreja São Francisco de Paula, no centro do Rio de Janeiro. O objeto, uma peça sacra do século 18, é usado para expor a hóstia sobre o altar durante cerimônias religiosas. Esse não foi o único caso registrado de roubo de bens culturais no Brasil, que ocupa o 26° na lista de países com o maior número de bens patrimoniais extraviados.

Estima-se que o crime de roubo de bens culturais possa ser equiparado, financeiramente, ao comércio ilegal de armas e drogas. Em 2023, o Brasil passou a integrar o Comitê Subsidiário da Convenção de 1970 da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), órgão responsável por fiscalizar bens culturais.

Bens materiais e imateriais

Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), um bem cultural, de acordo com as convenções internacionais, pode ser entendido como um bem que deve ser protegido, em virtude do seu valor e sua representatividade para determinada sociedade.

Para Lúcio Gomes Machado, professor do Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, no senso comum, “bem” é um item herdado com valor pecuniário; porém, qualquer item – seja ele material ou imaterial – que tenha um valor simbólico ou valor cultural pode ser considerado um bem patrimonial. 

“Vamos dizer que você tenha uma bola de futebol que foi utilizada no campo de futebol que serviu para marcar o milésimo gol do Pelé. A bola em si tem um valor. Mas ela, assentando essa simbologia de um marco histórico de futebol, ela passa a ser um bem cultural”, explica o professor. Normalmente, a nomeação “bem cultural” é atribuída, por exemplo, a itens artísticos de grande valor, como obras expostas em museus, edifícios – que tenham um projeto arquitetônico especial ou que representam um momento importante da história – e igrejas, por exemplo.

Já os bens imateriais, como o próprio nome indica, não necessariamente existem fisicamente. São coisas, das mais variadas naturezas, que possuem um valor cultural atrelado. Aqui, estão contempladas práticas religiosas, práticas de uma comunidade, jogos, técnicas de construção e até pessoas. Quando os bens culturais materiais são protegidos por algum órgão governamental, eles estão registrados no “livro do tombo”.

Já os bens imateriais não podem ser tombados, mas são registrados. Entretanto, de acordo com o professor, são itens mais complexos de serem preservados, porque dependem da comunidade em que o bem está inserido.

De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul (Iphae), a expressão tombamento tem origem na estrutura responsável por abrigar o Arquivo Público do Reino. A Península Ibérica, antes de ser tomada pelos cristãos, abrigava os mouros, povo islâmico originado do norte da África. No século 8, foi retomada pela cristandade, e o Castelo dos Mouros, símbolo de poder do povo norte-africano, tornou-se o Castelo de São Jorge, nova residência da realeza. 

Posteriormente, em uma das torres do Castelo, o Arquivo Público do Reino foi instalado e passou a ser chamado de Torre do Tombo. A palavra tombo, em português, significa, de acordo com a Infopédia, “arquivo de um conjunto documental (manuscritos, livros, fotografias, impressões digitais, etc.)”. A partir desse significado, a expressão tombamento foi criada, para abarcar todo patrimônio que será inscrito no Livro do Tombo, e que será preservado e protegido por lei.


Conservação de bens culturais: uma prática histórica

O primeiro país a estabelecer uma proteção institucional do patrimônio foi a França, no início do século 19. Inicialmente, o objetivo do Estado era coletar e preservar os monumentos religiosos e aristocráticos que a Revolução Francesa tinha destruído. A partir disso, um museu com peças recolhidas de toda a França foi montado.

Para Machado, a construção do patrimônio é realizada para estruturar a história de um País e registrar a “versão oficial” desses acontecimentos. No Brasil, o primeiro órgão de preservação do patrimônio, o Iphan, foi criado em 1937, durante a Era Vargas. A ideia de Getúlio Vargas, presidente do Brasil na época, era construir um país com uma história significativa.

A linha inicial do Iphan era proteger os monumentos que correspondiam aos grandes ciclos econômicos e históricos do Brasil – aqueles que faziam referência à cana-de-açúcar e ouro no Nordeste, às Minas Gerais, o ciclo bandeirista em São Paulo e o ciclo de missões no Rio Grande do Sul.

Esse modelo de preservação de monumentos excepcionais, segundo o professor, aconteceu de maneira semelhante em todo o mundo. “Mas, ao longo do século 20, essa prática teve uma diminuição e passou-se a fazer também a preservação das coisas que representavam a vida da população e a economia como um todo”, aponta.

Os bens culturais fazem parte da história de um povo, cultura e sociedade. Sua preservação, de acordo com Machado, serve também para entendê-la para além dos livros escritos.

Extravio de bens culturais

O roubo de bens culturais não é uma prática exclusiva da atualidade. De acordo com o professor, durante os impérios coloniais, era frequente que empreendedores e cientistas organizassem excursões para realizar escavações arqueológicas. O fruto da coleta era dividido entre os dois e uma parte era comercializada, enquanto outra ia para acervos de museu.

Algumas coleções arqueológicas de Berlim, na Alemanha, e a seção de Egito do Museu do Louvre, na França, foram formadas a partir dessas expedições, segundo Machado. Os mármores de Elgin, que hoje em dia estão no Museu Britânico, faziam parte do Parthenon da Acrópole. Atualmente, entretanto, um novo tópico está em discussão: o regresso dessas obras aos seus locais de origem.

No artigo 216 da Constituição Federal de 1988, todo patrimônio arqueológico é parte constituinte do patrimônio cultural brasileiro, então cabe ao poder público proteger e promovê-lo. De acordo com Machado, no Código Penal, há uma duplicidade de punição para itens tombados que são extraviados: pelo furto do item, que possui um valor pecuniário, e pelo fato de ele ser um bem tombado.

No incidente de 8 de janeiro de 2023, por exemplo, indivíduos envolvidos na depredação da Praça dos Três Poderes estão recebendo uma pena por dois capítulos do Código Penal: um pelo dano ao patrimônio público e outro por dano ao patrimônio protegido. “Toda Brasília faz parte de um tombamento único, especialmente os monumentos de fundamento – uma forma usual de tratar as arquiteturas tombadas que fazem parte da Praça dos Três Poderes e a Esplanada do Ministério”, pontua. Beatriz Pecinato – Brasil in “Jornal da Universidade de São Paulo” com supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira




 


quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Cabo Verde - Obra sobre Manel d’Novas de César Monteiro vai ser apresentada em Lisboa

Lisboa – A apresentação do livro “Música e sociedade cabo-verdiana – múltiplos olhares sobre o perfil e obra de Manel d’Novas”, de César Augusto Monteiro, acontece este sábado, 26, em Lisboa e estará a cargo de Joaquim Saial e Humberto Ramos.

A obra a ser apresentada no Centro Cultural de Cabo Verde (CCCV), em parceria com a Associação Cabo-verdiana do Seixal, faz uma análise da música cabo-verdiana nas suas múltiplas dimensões e à obra artística do compositor Manel d’Novas, falecido em Setembro de 2009.

De acordo com uma nota do CCCV, o livro insere-se num contexto “mais lato de muitos outros estudos”, que debatem as músicas nacionais e populares do mundo inteiro.

Subdividido em quatro partes e 17 capítulos, o livro de 793 páginas faz o enquadramento teórico e conceitual e, logo de seguida, nas duas primeiras partes, debruça-se sobre a música na sociedade cabo-verdiana com enfoque sobre os diversos géneros que caracterizam o universo musical e um conjunto de questões concretas e de interesse.

“Feito o devido enquadramento da música cabo-verdiana, a parte seguinte da obra debruça-se, de forma aprofundada, sobre a vida e a obra de Manel d’Novas, nas suas múltiplas facetas, partindo de múltiplos olhares de mais de 250 entrevistados, numa estreita ligação entre as dimensões teórica e empírica”, refere a mesma fonte.

Na quarta parte do livro, “a vocação, o percurso musical e o contributo de Manel d’Novas” são analisados em pormenor com destaque, particularmente, para as dimensões literária, lírica e poética da sua obra, os principais ciclos evolutivos do compositor, o seu processo de crescimento e a periodização da sua obra musical, entre outras, numa estreita ligação entre o contexto musical e o “valioso cancioneiro do compositor que legou à sociedade cabo-verdiana”.

César Augusto Monteiro é embaixador de carreira aposentado, tendo desempenhando o cargo de embaixador de Cabo Verde na República do Senegal até 2017, altura em que se aposentou.

Investigador a tempo inteiro nas áreas da Sociologia da Música, da Cultura e das Migrações, desde 2017, tem várias obras publicadas, entre elas, “Comunidade imigrada. Uma visão sociológica: o caso da Itália” (1997), “Recomposição do espaço social cabo-verdiano” (2001) e “Manel d’Novas: música, vida, cabo-verdianidade” (2003).

“Música migrante em Lisboa: perfis e trajectos de músicos cabo-verdianos”, tese de doutoramento nas áreas da Sociologia da Música, da Cultura e das Migrações (2011) é outra obra publicada, estando em preparação o volume II do livro “Música e sociedade cabo-Verdiana. A Morna na ilha de Santiago, a imagem social do músico e a música cabo-verdiana no futuro”.

Além dos livros já referidos, organizou uma obra de cariz biográfico intitulado “Guilherme Dias Chantre: um educador e líder carismático. Homenagem de antigos alunos da Escola Técnica do Mindelo” (2010).

A apresentação do livro “Música e sociedade cabo-verdiana – múltiplos olhares sobre o perfil e obra de Manel D’Novas” está marcada para as 16:00. In “Inforpress” – Cabo Verde

 

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Guiné-Bissau – Segundo Domingos Simões Pereira "o país carece de uma liderança lúcida e esclarecida"

Bissau - O líder do Partido Africano Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), afirmou que o país carece de uma “liderança lúcida, esclarecida, comprometida e virada para o atendimento e satisfação das necessidades da população”.

Num balanço político por ocasião do fim de ano, Simões Pereira considerou 2021 como ano de "muita turbulência e incerteza ".

“Infelizmente, seguimos o rumo da autodestruição, promovendo uma degradação acelerada de todos os indicadores da nossa vida económica, política, securitária e especialmente a social”, disse Simões Pereira.

O político disse que registou-se uma ostentação pública da compra de consciência e instrumentalização de estruturas completas da sociedade guineense, sequestros, abstração à luz do dia, espancamentos de pessoas inocentes, humilhação pública de comunidades inteiras e prisões arbitrárias.

Afirmou que tudo isso ocorreu com o fito de “amedrontar e levar o povo à submissão à vontade e interesses de uma pessoa ou de um grupo de indivíduos”.

O líder do PAIGC disse que os serviços públicos degradam a uma velocidade incrível, ao ponto de os guineenses testemunharem uma paralisia sem precedentes na saúde e na educação, com “reflexos terríveis” na vida da população.

E diz que tudo isso ocorre na mesma altura em que se multiplicam a contratação de grandes créditos e a alimentação de uma vida de “abastança, luxo e turismo para uns quantos, em redor do regime”.

Domingos Simões Pereira afirmou ainda que "o património público é dilapidado à frente de todos, para atender a interesses particulares e por conveniência, seja por via de compensações fraudulentas de terrenos públicos, seja por alienação indevida de edifícios de utilidade pública seja mesmo pela afetação direta do dinheiro dos contribuintes".

Para o líder do PAIGC, o atual regime "não se coibiu de criar e multiplicar impostos, que chegaram à aberração de taxar o pensionista, de sancionar o pequeno produtor para aumentar a abastança dos privilegiados e de mais posse".

Simões Pereira disse que "a justiça vai sendo silenciada, dominada e paulatinamente convertida num instrumento ao serviço dos poderosos, para fabricar e implementar leis por encomenda e em função dos interesses do dito soberano”. In “Agência de Notícias da Guiné” – Guiné-Bissau


terça-feira, 26 de março de 2019

Suíça - Museu exibe obras de pacientes de hospícios no século 20

A exposição pode ser visitada até 19 de maio no Museu de Artes de Thun. De 7 de junho a 18 de agosto ela vai à Áustria (Museu de Arte Lentos, Linz) e, de 11 de outubro a 20 de janeiro, Alemanha (Coleção Prinzhorn, Heildelberg)



Entrar em uma clínica psiquiátrica no início do século 20 era fácil. Sair, era difícil. Muitos pacientes usaram a arte para manter contato com o mundo exterior. O Museu de Arte de Thun conta esse capítulo da psiquiatria suíça através de uma exposição.

A terapia através da arte não existia entre 1850 e 1930. Todavia os pacientes abrigados nas diversas clinicas psiquiátricas do país encontraram formas de exprimir a sua criatividade.

Pesquisadores da Escola de Arte de Zurique exploraram os arquivos de 22 instituições na Suíça, entre 2006 e 2014. Com o material, criaram uma base de dados repertoriando cinco mil obras de pacientes. Agora elas podem ser consultadas no Instituto Suíço para o Estudo da Arte. A exposição "Extraordinário!" apresenta uma seleção de 180 dessas criações no Museu de Arte de Thun, cidade localizada ao sul de Berna.

As obras mostram a vida nas clinicas, onde muitos viviam em completa isolação. Por volta de 1850, as pessoas que sofriam de doenças psíquicas passaram a ser reconhecidas como enfermas. "Então essas clinicas se multiplicaram e cada vez pessoas eram internadas", lembra Katrin Luchsinger, historiadora da arte e chefe de projeto.

Viver e morrer na clinica

O internamento não era visto como uma solução de curta temporada. Os pacientes ficavam nas clinicas geralmente até morrer. "A abordagem na época era de afastar essas pessoas dos meios em que viviam e de suas atividades normais", constata a especialista. Através do desenho, pintura, bordado ou outros trabalhos manuais, os pacientes conseguiam contar como era a sua nova vida.

O isolamento é tematizado em inúmeras obras expostas. Uma paciente desenha em um caderno a sua casa. Em outra página, seu quarto é reproduzido tão detalhista, que chega a mostrar um outro escritório onde ficou depositado o caderno no qual estava trabalhava. As janelas estão abertas. Os raios do sol iluminam o interior da peça e tudo está bem organizado. Ao lado, ela escreve: "Estou na clínica e não sei mais onde estão as minhas coisas. Tudo está em caixas."



Os desenhos e os textos dessa paciente emocionaram Katrin Luchsinger. "Muitos pacientes viveram o internamento como uma perda dos sentidos. Eles não se encontravam mais e tinham medo, o que podemos compreender", comenta.

Condições difíceis, mas não desumanas

Por um lado, a vida em uma instituição para doentes mentais em 1900 poderia ser comparada à uma prisão. No entanto, o historiador de arte aponta que a psiquiatria suíça não era desumana e até teve sucessos: "Uma psiquiatria inovadora foi desenvolvida no país. Muitos especialistas estavam interessados em compreender o que os seus doentes sofriam. Por isso que tantos desenhos foram preservados.

No entanto, os pacientes não dispunham de muitos materiais para criar suas obras: papel barato, embalagens ou outros elementos improvisados eram o que encontravam. A falta de recursos transparece nas obras expostas: "Os trabalhos são apresentados em pequenos formatos e poucas cores são usadas", explica Katrin Luchsinger. A historiadora supõe que os pacientes teriam desejado receber mais apoio.

Apesar de tudo, a arte encontrou seu caminho e permitiu que milhares de pacientes tivessem uma válvula de escape. In “Swissinfo” - Suíça



quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Sociedade

“A nível social, assistimos com mágoa, à desagregação do tecido social, numa sociedade já em si bastante frágil. A sociedade está dividida. Entre os prós e contras. O povo está manietado, sem possibilidade de se manifestar ou reivindicar nada. Mas mais grave ainda é ver alguns discursos a incentivar ódios e "confrontos" tribais, com consequências muito nefastas para a coesão social, que era até há bem pouco tempo uma das nossas grandes conquistas.

Por outro lado, convém não esquecer que a Guiné-Bissau, ocupa um modesto 176º lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano 2011 (IDH) da ONU, tendo mantido a mesma posição de 2010. Não é difícil perceber que a tendência é que nos afundemos cada vez mais na tabela.

No mesmo sentido, podemos considerar que o cumprimento de alguns Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) até 2015, se era difícil de alcançar com a trajectória que vinha sendo seguida, torna-se nesta fase completamente impossível. Estas duas vertentes atrás mencionadas estão ligadas a implementação do Documento de Estratégia Nacional de Redução da Pobreza da Guiné-Bissau (DENARP II – 2011/2015), que tem apoio da comunidade internacional e como todos sabemos está em stand-by. Por isso, o futuro da GB é muito preocupante.

Por tudo que aqui foi dito e do muito que ficou por dizer, só posso concluir que o balanço é muito negativo, não ganhamos nada com o golpe. Como disse uma conterrânea nossa durante uma conversa: "Nós Guineenses temos que corrigir os nossos erros e não perpetuá-los".

Num livro recentemente publicado com o título "Why the Nations Fail" (Porque Falham as Nações), os autores defendem que os fracassos das nações não se devem a questões geográficas, climatéricas ou culturais mas sim às instituições. Por isso, só um quadro institucional estável, credível e em liberdade motiva ciclos de investimento, de inovação, de expansão e de prosperidade. Na GB, as instituições não estão a funcionar neste momento, reina o caos, ninguém se entende, não há tolerância, e acima de tudo não há respeito pela soberania popular. E a culpa é de todos, temos que admitir que não temos sido capazes de responder aos anseios do povo e dos sonhos de Amílcar Cabral. Mas mesmo assim, ainda vamos a tempo e não nos podemos considerar um estado falhado.” Eduardo Jaló – Guiné Bissau in “Ditadura do Consenso”