Os
museus e os arquivos de Portugal não têm listagens das obras de arte que deram
entrada no país provenientes das antigas colónias, alertou o investigador do
Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, António Pinto Ribeiro,
lembrando que sem essa enumeração as peças não podem ser reclamadas
"Podem ser 10 mil, 50 mil
ou 80 mil. Os próprios directores dos museus não sabem", diz António Pinto
Ribeiro, ex-curador da Fundação Gulbenkian, num exercício para calcular o
número de obras de arte existentes em Portugal oriundas das ex-colónias.
"Muitos destes objectos
estão nas reservas, nem sequer estão expostos", acrescenta, defendendo que
a ausência de listagens dessas peças é um "problema gravíssimo", cuja
resolução deve ser vista como "tarefa prioritária" dos próximos
governos.
A posição do especialista foi
apresentada em Paris, na delegação da Fundação Calouste Gulbenkian, onde, nesta
quinta-feira, 22, abordou a problemática da descolonização dos museus, trazida
a lume no mesmo dia em que foram parcialmente conhecidas as conclusões do
relatório pedido pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, sobre a restituição
de colecções de arte africana existentes em França.
O documento, solicitado à
historiadora de arte francesa Bénédicte Savoy, do Collège de France, e ao
economista senegalês Felwine Sarr, autor do livro "Afrotopia",
defende a devolução não apenas das obras trazidas, mas também das que entraram
por via de missões científicas ou doações de administrações coloniais, refere a
agência Lusa, que cita o jornal Le Figaro.
Apesar de ser apologista da
devolução urgente das obras, o investigador do Centro de Estudos Sociais da
Universidade de Coimbra, lembra que é preciso observar algumas cautelas.
"As peças devem ser
reclamadas pelos Estados, não pessoas particulares. Há que ver os critérios da
legitimidade de como as obras chegaram à Europa. É preciso analisar se uma
determinada peça faz parte do património essencial de um país ou de uma tribo.
E há ainda a questão dos arquivos coloniais. Devem ser dados os originais ou
cópias digitalizadas?", questionou o investigador português, citado pela
Lusa. In “Novo Jornal” - Angola
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