Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Galiza – Investigação da produção de polvo em aquicultura

Álvaro Roura: "Queremos criar polvo de aquicultura imitando a sua vida em liberdade"



Menos de dois meses depois de se conhecer o IEO e Pescanova terem conseguido completar o ciclo do polvo comum (Octopus vulgaris) em cativeiro, uma nova linha de investigação une-se à corrida do que seria um marco histórico na aquicultura na Galiza. O Instituto de Pesquisas Marítimas de Vigo e a Armadora Pereira anunciaram na passada segunda-feira que têm resultados "muito esperançosos" neste sentido. A tese de doutoramento de Álvaro Roura, dirigida por Ángel Guerra, Ángel González e Gabriel Rosón, serviu de estímulo a uma nova abordagem para acertar com a dieta da paralarva, um muro quase intransponível até agora para os cientistas. O artigo publicado no “Progress in Oceanography” junta-se, desta maneira, à corrida comercial para produzir o polvo da piscicultura e levá-lo ao mercado. Álvaro Roura responde a várias questões sobre esta investigação.

Como foi a pergunta que deu início a tudo isto?

Gosto muito de ecologia e respondo a perguntas básicas da vida destes animais. E pensar também como podemos abrir os nossos olhos para futuras aplicações. O da alimentação era uma das fases do conhecimento da vida do polvo em cativeiro que nos faltava aprofundar. Sabíamos como e quando os jovens iam para os estuários, mas não como viviam e comiam. E foi isso que estudámos e continuamos estudando.

O que foi feito na investigação?

Completei o meu período de pós-doutoramento na Austrália, e estudei as larvas do polvo e outros cefalópodes que se movem pelo oceano, como eles podem ir de um lugar para outro e o que comem. Fizemos uma série de campanhas oceanográficas e, pela primeira vez, capturámos larvas fora da plataforma continental. Isto nunca se conseguira até aquele momento. É um processo muito lento e muito difícil. Perto da costa há uma larva entre cada 200.000 animais, mas se sais para o oceano, há uma para cada quatro milhões de animais. Há que ver e procurar muitos animais para encontrar um. E foi um enorme esforço.

Com essas larvas, pudemos estudar a sua dieta. Realizámos técnicas de sequenciamento em massa com as quais obtivemos muitas informações sobre essa alimentação, identificando mais de 90 presas diferentes.

E com essa informação, ao terminar a estadia na Austrália, começámos a elaborar projectos para aplicar esse conhecimento à aquicultura, para ver se poderíamos resolver este grande problema. Tivemos a sorte de que a Armadora Pereira estivesse interessada no projecto e confiasse em mim. Fizemos um acordo de colaboração e fomos capazes de desenvolver esta hipótese, para ver se poderíamos usar a ecologia para criar polvos em cativeiro.

Conseguiu então superar o problema?

Passámos 18 meses com o projecto, desde abril do ano passado, e temos resultados muito promissores. Conseguimos reduzir a mortalidade, com sobrevivências, aos 60 dias, entre 20 e 30%. Isto é apenas o começo, porque não tínhamos experiência anterior em cultivo. Venho de investigar as larvas no oceano, não na aquicultura.

Como foi com a comida?

Já sabíamos que eles comem muitos crustáceos: caranguejos, camarões, gastrópodes, quetognatas, etc. Há uma parte que não podemos contar porque faz parte do acordo com a armadora. Mas podemos dizer que é feito de artemia, um alimento que é usado na aquicultura, com produtos como o sargo ou o robalo.

Aqui, a artemia é o veículo que pode ser enriquecido com muitas coisas, embora em si tenha pouco valor nutricional. Se fizermos isso rapidamente, antes que a digestão seja feita e expulse esses nutrientes, podemos ter a chave para alimentar as larvas de polvo.



Os resultados do IEO e Pescanova foram conhecidos recentemente. Tem este projecto algo em comum?

Colaboramos com o IEO, e temos artigos em comum, mas não tem nada a ver com isto. Mas esta linha de pesquisa concentra-se na vida das larvas em liberdade. Até agora, a aquicultura do polvo fez-se um pouco às cegas, mas a linha que desenvolvemos no Ecobiomar leva mais em conta a perspectiva ecológica. Queremos criar polvo de aquacultura, mas imitando e recriando a sua vida em liberdade.

O que falta agora?

Muito, porque o projecto apenas agora começou. As larvas são animais muito inteligentes, mas muito delicados. E em cada cultura aprendemos algo mais. O que falta é continuar melhorando e pensando em novas hipóteses baseadas na sua ecologia, e melhorando outros aspectos da sua ecologia. Falta bastante para ter dados suficientes para ver se é viável ou não começar a produzir, que é o objectivo final da armadora, porque vêem que isso pode levar à produção. Não precisa ser uma única chave. Podem ser muitas ao mesmo tempo, com afinações muito subtis, e em cada cultura estamos afinando e conhecendo mais pormenores. Manuel Rey – Galiza in “GCiencia”

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