Os
arqueólogos que realizam escavações no antigo Castelo de Miranda do Douro
descobriram, em cerca de duas semanas, importantes elementos da "Guerra do
Mirandum", como uma bancada de tiro, pedaços de cerâmica e moedas
"Estamos otimistas em
relação à evolução dos trabalhos e esperançados em encontrar vestígios de três
companhias de militares que aqui ficaram soterradas durante a chamada ‘Guerra
do Mirandum’", disse à Lusa o arqueólogo Rui Pinheiro.
Segundo os investigadores, em
maio de 1762, num momento em que a praça tentava resistir às investidas das
tropas espanholas no decurso da Guerra dos Setes Anos, o paiol explodiu,
levando consigo alguns troços de muralhas e outros edifícios que não voltaram a
ser reconstruídos.
A "Guerra do
Mirandum" foi o nome pelo qual ficou conhecida a participação de Portugal
na Guerra dos Sete Anos (1756-1763).
"Por agora, conseguimos
colocar a descoberto parte de uma bancada de tiro, que resistiu à explosão,
após o colapso da muralha defensiva durante a explosão do paiol da
pólvora", observou o investigador.
Das primeiras sondagens, os
arqueólogos já descobriram duas moedas do reinado de D. João V, entre fragmentos
de cerâmica e carvão.
"Neste local tem
aparecido um conjunto de fragmentos de ossos humanos que, para nós, são restos
mortais, [mas] que ainda não conseguimos, com exatidão, saber a sua
datação", indicou.
Os arqueólogos vão continuar a
escavar ao longos das próximas semanas até chegar a um piso lajeado, para
perceber o que aconteceu naquela fortaleza que tem origem medieval, sendo que o
que está a ser descoberto são elementos defensivos do século XVII e XVIII.
Todas as estruturas demonstram a presença da "pirobalística".
Por outro lado, as
expectativas colocadas nestas escavações são grandes, dado que há "a
possibilidade" de se encontrar uma vala comum onde foram enterrados os
mortos vítimas da explosão, assim como diversos artefactos civis e militares,
ou soldados artilheiros e fuzileiros soterrados pelos escombros, “que
permanecem nos seus postos de combate”.
"Aqui, o importante é
colocar a descoberto as estruturas militares deste baluarte defensivo para futura
musealização, bem como os restos da muralha medieval ou anterior", vincou
Rui Pinheiro.
Os trabalhos decorrem a bom
ritmo, numa estrutura que é tida como uma das mais importantes no que diz
respeito à antiga linha de defesa da fronteira com Espanha.
A arqueóloga do município de
Miranda do Douro, Mónica Salgado, refere que estas escavações são muito
importantes, porque a população local, passados estes 250 anos, ainda vive
muito a “Guerra do Mirandum".
"O rebentamento do paiol
da pólvora [08 maio 1762] e consequente destruição da fortaleza, leva a uma
regressão populacional e económica de Miranda do Douro, que até aqui era cabeça
de diocese. Com a mudança do cabido, a cidade vai-se esvaziando conhecendo uma
nova recuperação na década de 50 do século passado, com a construção das
barragens do Douro Internacional", explicou.
O Castelo de Miranda do Douro
é um dos "ex-líbris" da cidade transmontana, com um peso importante
na cultura local, principalmente por estar associada à Guerra dos Sete Anos,
que ficou localmente conhecida como "Guerra do Mirandum".
"Estas escavações são um
desejo antigo dos mirandeses para melhor perceberem a sua história e o seu
passado, já que se trata de uma área de 6.000 metros quadrados. Nesta fase
vamos intervir em cerca de 1.000 metros quadrados", vincou o presidente da
Câmara, Artur Nunes.
A intervenção resulta da
Operação Castelos a Norte, cofinanciada pelo Programa Norte 2020, na qual se
inclui a intervenção no Castelo de Miranda do Douro, agora a decorrer.
O orçamento global da Operação
Castelos a Norte (que engloba o Castelo de Montalegre, o Castelo de Monforte de
Rio Livre (Chaves), o Castelo de Outeiro (Bragança), o Castelo de Mogadouro e o
Castelo de Miranda do Douro é de 2,3 Milhões de Euros.
A Direção Regional de Cultura
do Norte (DRCN), em parceria com o município de Miranda do Douro, deu início às
escavações e sondagens arqueológicas há cerca de duas semanas em cerca de 6.000
metros quadrados, numa área envolvente à antiga fortificação da cidade. In "Sapo 24" - Portugal
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