Autarcas
e empresários do Baixo Alentejo criticam os “milhões de euros” previstos para o
possível aeroporto no Montijo e insistem no potencial da infraestrutura de Beja
como complementar a Lisboa e Faro, recusando o “rótulo” de “elefante branco”
Se avançar a construção do
novo aeroporto no Montijo (Setúbal), o valor do investimento previsto “é
completamente despropositado, é descabido até”, disse à agência Lusa o
socialista Jorge Rosa, presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo
Alentejo (CIMBAL).
Também o presidente da
Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Litoral (NERBE/AEBAL), Filipe
Pombeiro, questionou se Portugal terá “disponibilidade” para “fazer um
investimento de largos milhares de milhões de euros noutro mega-aeroporto”.
“Será que não existem
soluções? Acho que existem, nomeadamente o aeroporto de Beja”, defendeu à Lusa.
Os empresários alentejanos,
salientou Filipe Pombeiro, nada têm “contra o Montijo”, estão é “a favor” do
equipamento que “está feito em Beja” e que “tem todas as condições para servir
o país”.
O aeroporto de Beja, que
resulta do aproveitamento civil da Base Aérea n.º 11 e custou 33 milhões de
euros, começou a operar a 13 de abril de 2011, quando se realizou o voo
inaugural.
Desde então, apesar de aberto,
tem estado praticamente vazio e sem voos e passageiros na maioria dos dias e
quase só tem servido para estacionamento e manutenção de linha de aviões de
algumas companhias aéreas.
Este verão, o tráfego de
passageiros aumentou, graças a operações de voos “charter” associadas a pacotes
de operadores turísticos.
Em julho, a infraestrutura
aeroportuária alentejana foi escolhida pela empresa aérea europeia Hi Fly, que
já aí detém uma base para estacionamento e manutenção de aeronaves, como
“palco” da 1.ª aterragem em Portugal de um Airbus A380, o maior avião comercial
do mundo, por ser o único aeroporto nacional com capacidade para o receber
(este “gigante dos céus” continua a parar em Beja entre operações).
A construção de uma unidade de
manutenção e desmantelamento de aviões da empresa Aeroneo e de um hangar da
empresa portuguesa MESA para manutenção de aviões, sobretudo da Hi Fly, são
alguns dos projetos que estão previstos para o aeroporto de Beja.
Autarcas e empresários da região
têm reivindicado que esta infraestrutura tem de ser mais aproveitada,
nomeadamente em termos de voos de passageiros, como complementar aos aeroportos
de Lisboa e de Faro, que dizem estar “esgotados”.
Para o presidente da Câmara de
Beja, Paulo Arsénio (PS), o aeroporto da cidade “reúne boas condições para
servir de retaguarda a Lisboa” e “a qualquer aeroporto nessa zona, tal como o
demonstrou este verão, através de ações promovidas por operadores turísticos”.
E ainda no que respeita a voos
de passageiros, acrescentou o autarca, “a superlotação” que “já existe” no
aeroporto de Faro “também pode e deve ser explorada” para rentabilizar Beja:
“Pode ser um extraordinário aeroporto complementar para toda a região
algarvia”.
Por isso, sublinhou, ainda que
avance “um aeroporto complementar na zona de Lisboa”, como o que está previsto
no Montijo, “não é por aí que Beja sairá grandemente prejudicada”, porque o
equipamento da cidade "é de excelência" e, "sempre que haja
superlotação a norte ou a sul, está muitíssimo bem situado para servir de
complemento”.
Convicto de que o aeroporto de
Beja “não será, de certeza, um elefante branco”, o autarca lembrou que a
infraestrutura tem “uma potencialidade de aproveitamento e de criação de
mais-valias e de emprego” que ultrapassa “o simples tráfego de passageiros”.
“O que é preciso são duas ou
três empresas âncora que, depois, possam atrair outras para a região”,
sustentou.
No “caminho” que o aeroporto
de Beja precisa de percorrer para se afirmar, realçou o presidente do
NERBE/AEBAL, subsistem ainda dois problemas.
“Ainda não houve um governo
que olhasse para o aeroporto e o quisesse viabilizar” e “há o problema das
acessibilidades”, assinalou Filipe Pombeiro, frisando: “Se tivermos uma boa
ferrovia e uma boa rodovia, numa hora e pouco conseguimos estar em Lisboa”.
Jorge Rosa, da CIMBAL, sugeriu
até que os “milhões” previstos para o Montijo deveriam ser aplicados “na
melhoria das acessibilidades rodoviárias e ferroviárias” à região, que “estão
muito más”, o que “permitiria encurtar o tempo de distância até Lisboa”,
acabando com "o argumento que é utilizado, o da distância, para não se
considerar o aeroporto de Beja como complementar” ao da capital.
“Já o Alqueva não o era, como
se provou, e isto também não é nenhum elefante branco. Se tivermos condições de
acessibilidades, tenho a certeza de que este investimento ainda vai dar um
retorno muito grande ao país”, argumentou Filipe Pombeiro. In “Sapo24”
– Portugal com “Lusa”
Sem comentários:
Enviar um comentário