SÃO PAULO – A declaração do
economista Paulo Guedes, anunciado como futuro ministro da Fazenda, de que o
Mercosul não será prioridade para o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro
não deixa de causar apreensão entre aqueles que se preocupam com o comércio
exterior brasileiro. Segundo o economista, o Mercosul, quando foi criado a 26
de março de 1991 pelo Tratado de Assunção, teria nascido com um cariz
ideológico e “o Brasil teria ficado preso a alianças ideológicas, o que é ruim
para a economia”. De acordo com ele, a
partir do dia 1º de janeiro, o Brasil pretende “negociar com o mundo”.
Não deixa de ser alvissareira pelo
menos a última parte da declaração, desde que “negociar com o mundo” inclua a
ideia de o País procurar acordos comercias que lhe abram mercados ou favoreçam
acesso a eles, apressando finalmente a sua inserção sobretudo com economias
mais dinâmicas e cadeias produtivas. Obviamente, isso significa deixar para
trás a orientação que marcou os governos petistas de 2002 a 2015 e privilegiava
o mercado interno e as relações comerciais com países cujos governos se
mostravam alinhados com a ideologia terceiro-mundista. Mas não quer dizer que
será um bom caminho lançar por terra o Mercosul.
Afinal, não se pode deixar de
reconhecer que o Mercosul apresentou resultados animadores em seus primeiros
anos. Basta lembrar que, em 1998, os demais parceiros do Mercosul – Argentina,
Uruguai e Paraguai – absorveram 17,4% das exportações brasileiras. E que, para
a Argentina, o bloco também passou a representar um grande indutor de
crescimento: as exportações argentinas para os demais países do bloco, que eram
de 16,5% em 1991, pularam para 36,2% em 1997, caindo para 19,2% em 2005,
segundo dados da consultoria Abeceb, de Buenos Aires.
Hoje, o comércio entre esses países representa
cerca de 20% das exportações totais dessas nações, o que é uma média baixa se
comparada com a registrada na União Europeia, 65%, ou no Acordo de Livre-Comércio
da América do Norte (Nafta), de 70%. No ano passado, de janeiro a novembro, a Argentina
foi o destino de 76% das exportações do Brasil para o bloco (US$ 16 bilhões) e
foi também líder nas importações brasileiras no Mercosul (US$ 8,6 bilhões).
Em segundo lugar, o Paraguai importou
produtos brasileiros no total de US$ 2,4 bilhões (11% dos embarques para o
bloco) e exportou US$ 1 bilhão, enquanto o Uruguai ocupou a terceira posição
com importações de US$ 2,1 bilhões e exportações de US$ 1,1 bilhão. Em último
lugar, ficou a Venezuela, destino final de bens brasileiros no total de
US$ 427 milhões e exportações
totalizando US$ 347 milhões. É de se lembrar ainda que o carro-chefe das
exportações brasileiras para o Mercosul são os produtos industrializados.
É claro que o Brasil necessita de
mais mercado e isso só se consegue com mais países que possam comprar os nossos
produtos. Por isso, é fundamental que acordos sejam assinados com grandes
blocos. Acontece que, hoje, em função do chamado custo Brasil, que inclui
infraestrutura precária, carga tributária elevada e burocracia aduaneira em excesso,
os manufaturados brasileiros só têm fôlego para serem vendidos na região.
Em outras palavras: não têm preço
para serem vendidos para os grandes mercados, o que só será possível se o
próximo governo fizer as reformas estruturais necessárias. Sem essas reformas,
descartar o Mercosul constitui uma atitude insana. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e
diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail:
fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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