A viagem de hoje vai levar-nos
ao coração da Amazónia, às ruas de Nova Orleães e à Galiza — e começa numa das
fronteiras mais antigas do mundo.
Olhe para o mapa da Europa de
1300.
Qual é o único país com um
aspecto reconhecível? Ali está, a um canto… Falo de Portugal. É certo que houve
acertos no século XIX (e nem falo da subtracção de Olivença) — mas o aspecto
global da fronteira é muito estável. Então se falarmos do troço norte dessa
fronteira, estamos a falar de uma linha com muitos séculos de existência.
Chegar
a Nova Orleães a bordo de um livro
Porque falei da nossa
fronteira? A razão é pessoalíssima: foi precisamente no seu troço mais antigo e
batido — aquela linha que nos separa da Galiza — que encenei as primeiras cenas
(e as últimas) do livro A Incrível
História Secreta da Língua Portuguesa.
Desta vez, não falo do livro
para o divulgar entre os possíveis leitores — embora (espero que concorde) não
venha mal ao mundo se confessar aqui o desejo de levar a Incrível História a mais leitores. Trago-o a este texto porque esse
livro levou-me até Nova Orleães. Os livros servem mesmo para viajar…
Conto tudo.
Pois bem: o acaso que sempre
ordena estas coisas pôs o livro nas mãos de Catherine V. Howard, tradutora
norte-americana que trabalha com a nossa língua.
Ora, a Catherine faz parte da
American Translators Association, uma associação muito activa de tradutores
que, todos os anos, organiza uma conferência gigantesca numa cidade dos E.U.A.
Este ano calhou a vez a Nova Orleães — diga-se que é já a 59.º edição da
conferência.
A associação é tão grande que
se organiza em divisões — e uma dessas divisões é a Portuguese Language Division. Por sugestão da Catherine, a divisão
convidou-me há uns meses para ser o seu orador convidado deste ano — o que só
tenho a agradecer. Uma viagem a Nova Orleães! Para falar da língua portuguesa!
Outubro chegou e lá parti eu
para os Estados Unidos. Houve umas quantas peripécias pelo caminho, mas ficam
para outro dia.
Nova Orleães é uma cidade que
nos envolve fisicamente — e não falo (só) da música e do cheiro à boa comida
daquela perigosa e saborosa urbe: falo, acima de tudo, da estrondosa humidade
que nos faz andar pelas ruas como se estivéssemos a tomar um duche. Parece um
horror, mas não é: a cidade vale muito a pena. Um dos lemas é, em francês:
«Laissez les bons temps rouler». A animação geral esconde uma história
complicada, que nos deu muita música, muita literatura e muito cinema.
Foi numa das ruas do Bairro
Francês que conheci ao vivo, por fim, a Catherine e conversámos num
interessantíssimo almoço. Ficaria horas a ouvi-la — soube que é antropóloga de
formação e já fez investigação bem no coração da Amazónia, onde estudou as culturas
e línguas de várias tribos indígenas.
Foi nesse almoço que a
Catherine me contou a história dos Waiwai, uma tribo amazónia. A tribo vivia
num território onde também cirandavam quatro outras tribos. Os Waiwai eram, de
longe, os mais poderosos — as outras tribos caracterizavam-se pelas suas
relações mais ou menos próximas com eles.
No que toca às línguas,
Catherine contou-me que uma das tribos tinha uma língua muito parecida com a
dos Waiwai — e estes reconheciam a parecença, chamando à outra língua uma língua-prima. Havia uma terceira tribo
de língua também muito semelhante, mas que os Waiwai garantiam não compreender
assim tão bem. Porquê? Porque as relações entre as duas tribos eram bem mais
afastadas.
Não parece, mas esta história
lembrou-me aquela fronteira muito antiga de que falámos. Já lá chegamos. Antes,
falemos do português brasileiro.
Uma
questão de proximidade
A apresentação que me levou à
cidade do jazz aconteceu no sábado — e não vou reproduzi-la. Fica para quem lá
esteve nessas duas horas, que incluíram telenovelas, desenhos animados e muita
conversa. Foi uma apresentação pensada para tradutores — e espero ter sido
divertida e útil.
Um dos temas principais foi a
relação entre o português de Portugal e o português do Brasil. As ideias sobre
essa relação vão desde aqueles clientes de tradução que estão convencidos de
que basta criar um texto único para ser usado em Portugal e no Brasil (estão
bem enganados) até aos tradutores de língua inglesa que estão convencidos ser
impossível traduzir a partir do português de Portugal se tiverem aprendido
português do Brasil (parece-me também um engano). Fora do mundo da tradução,
temos gente que tenta impor unidades artificiais à força e outros que já dão por
adquirido que estamos perante duas línguas separadas.
Como quase tudo o que se
relaciona com as línguas, é complicado.
Tudo depende, na verdade, das
nossas expectativas: se alguém achar que o português de Portugal e o português
do Brasil são duas línguas separadas, ficará surpreendido com a facilidade com
que um brasileiro lê este texto… Já quem não conhece as diferenças terá uma
grande surpresa se for ouvir com atenção a língua que sai da boca das pessoas
na rua numa cidade do interior do Brasil e numa vila do interior de Portugal.
Tudo depende da situação e da perspectiva com que olhamos para a língua.
A linguagem humana tem
tendência para divergir sempre que há um grupo que contacta mais entre si do
que com o conjunto de falantes da língua — e isto é válido em vários níveis de
aproximação. Assim, criam-se formas de falar diferentes de classe social para
classe social; de terra para terra; até de família para família. Com um oceano
no meio e uma separação política de 200 anos, seria praticamente impossível que
Portugal e o Brasil não sentissem a língua a afastar-se — e há que contar ainda
com a história atribulada do português no Brasil e as influências que a língua
por lá sofreu.
As diferenças notam-se não
tanto na norma, mas antes nas variedades mais populares da língua. Na escrita
formal e na conversa entre gente urbana e com formação avançada, a comunicação
faz-se quase sem escolhos. Mas nos registos mais informais e nas variedades
regionais ou populares, as diferenças notam-se já de forma muito marcada.
As
pirâmides da língua
Quis explicar isto de maneira
um pouco mais visual (somos seres que gostam de ver, não é?). Assim, inventei
esta espécie de pirâmide a duas dimensões (também conhecida como «triângulo»),
que mostra o mapa social da língua — e isto é assim mesmo se olharmos apenas
para o português de Portugal:
Os nomes de cada secção não
seguem uma nomenclatura rigorosa; servem apenas para mostrar a ideia geral. A
língua é um pouco mais uniforme na norma (lá em cima) e mais variada (e
complexa, para dizer a verdade) nas suas realizações mais informais. Lá em
cima, temos o português formal escrito, que tenta aproximar-se de forma
cuidadosa da norma da língua. Logo abaixo, temos os casos em que falamos em
público: o grau de formalidade será ligeiramente menor que o da escrita, mas
não muito. Depois, os textos jornalísticos, que — sendo textos formais — já vão
beber uma vez por outra à língua nos seus registos informais. Os textos de
marketing também se aproximam da norma, mas quem os escreve olha frequentemente
para o vocabulário e a sintaxe mais familiar. Enfim, podíamos continuar por aí
fora… (Deixei o texto literário lá em baixo, junto das realizações populares da
língua, o que poderá chocar alguns, mas fica para provar que esta pirâmide tem
muitas formas de ser construída.)
Ora, no que toca ao português
de Portugal e ao português do Brasil, o que temos são duas pirâmides já
separadas — a proximidade do material linguístico é ainda inegável, mas a
dinâmica social da língua segue em separado dos dois lados do Atlântico. Aquilo
que é formal ou informal varia; o léxico também já tem as suas divergências; a
sintaxe também já não é exactamente a mesma; e por aí fora. Entendemo-nos ao
usar a norma, mas temos dificuldade em reconhecer a variedade interna do outro
lado.
Se quisermos representar a
situação visualmente, proponho esta imagem:
Os dois triângulos
cor-de-laranja que estão no cimo serão os textos mais formais — no fundo, o uso
da língua que mais se aproxima da norma. As duas normas (a brasileira e a
portuguesa) não se sobrepõem, mas estão muito próximas. Já os textos menos
formais, conversas de rua, registos populares e toda a realidade da língua um
pouco (ou muito) afastada da norma — esses já estão bem mais distantes. A
literatura — que parte da norma, mas tende a usar a língua toda — é um campo
onde o jogo de aproximação e afastamento se vê de forma bastante nítida, com
tudo o que tem de estranheza e delícia.
Estas duas pirâmides estão a
afastar-se. A norma tende a seguir, ao seu ritmo mais lento, o resto da língua
— se assim não for, chegamos a uma situação de diglossia, ou seja, de uso de
duas línguas na mesma sociedade, uma delas nas situações formais e outra nas
situações mais informais (tal como acontece na Suíça ou em cada um dos países
árabes). Digamos que, nessas sociedades, a pirâmide se rasgou: a norma e a
língua tal como usada na rua são já dois idiomas diferentes.
O Brasil estará um pouco mais
próximo dessa situação do que Portugal — mas a norma brasileira também se mexe
e não acredito que a pirâmide se rasgue. Por outro lado, ficará certamente mais
distante da pirâmide deste lado do oceano…
Devemos ficar tristes com a
situação?
Não acho. A verdade é que
estes processos são inevitáveis e dificilmente se resolvem com engenharias
linguísticas artificiais e pouco eficazes. Não que fosse impossível — afinal,
os bascos uniram, através da criação de uma norma artificial, dialectos muito
afastados na realidade. O exemplo basco é um entre muitos outros. Mas,
repare-se: isso fez-se porque havia uma motivação política muito forte. No caso
do português, não vejo motivação política ou social para tentar criar uma norma
que volte a aproximar as variantes através do ensino e dos meios de
comunicação. As duas sociedades não se vêem como parte de qualquer tipo de
comunidade para lá da curiosa proximidade linguística — até a História comum é
lida de forma bastante distinta. As duas variantes já respiram sozinhas, como
irmãs que foram à sua vida, mas ainda são parecidas.
Portanto: fujamos de utopias
linguísticas que pretendam aproximar à força a fala e a escrita de Portugal e
do Brasil. Quanto a mim, o mais que farão é criar atrito e ainda mais
afastamento.
No entanto, cada um de nós —
como falantes da língua — ganha muito em aproveitar a proximidade que existe.
Fico muito triste com o horror que algumas pessoas sentem em ler ou ouvir o
português do outro lado — não há mal nenhum em abrir os olhos e os ouvidos à
tal irmã que fugiu para o outro lado do oceano. Vivemos em continentes
diferentes, temos já hábitos diferentes: mas ainda nos entendemos bem.
Há portugueses que têm um
verdadeiro horror ao português do Brasil. É qualquer coisa que me ultrapassa,
confesso… Sei que o Brasil também tem a sua conta de ideias erradas sobre o
português do lado de cá — mas, enfim, custa-me mais o disparate nacional.
Uma
surpresa galega
A apresentação teve uma
surpresa. Mostrei como o galego e o português estão muito próximos. Não pude
apresentar o galego falado e, por isso, mostrei dois textos: um de Manuel Rivas
e outro de Teresa Moure.
Ao olhar para os textos (um
deles na ortografia oficial e outro na ortografia reintegracionista), deu para
perceber que o galego partilha com o português várias características: os
artigos definidos, a queda do «n» e do «l» em certas posições, os diminutivos —
e muito, muito mais.
Neste caso, a expectativa da
maioria dos falantes vai no sentido de encontrar diferenças. Assim, a
proximidade que existe é surpreendente: a língua dos galegos não parece tão
distante da nossa como pensávamos…
Quando a nossa fronteira norte
foi estabelecida, há tantos e tantos séculos, o material linguístico de um lado
e do outro era muito semelhante. Depois da criação de Portugal, a linguagem das
ruas transformou-se, a sul, na língua oficial do reino, com gramáticas, norma,
uso na Corte — isto, claro, ao fim de alguns séculos, que o processo não foi
nada rápido.
A norte do Minho, as pessoas
continuaram a falar o que sempre falaram — mas, depois do florescimento
literário medieval de que todos ouvimos falar na escola na forma das Cantigas
de Amigo, a língua ficou nas ruas, com pouco uso escrito e formal.
Só no século XIX, o galego
renasce como língua literária — mas note-se que nunca morreu. Esteve apenas a
ser usado no lugar onde as línguas nascem, se desenvolvem e morrem: nas bocas
dos falantes. Uma larguíssima maioria de galegos sempre usou o galego como a
sua língua do dia-a-dia. Se aterrássemos numa rua galega do século XIX, seria
difícil ouvirmos conversas entre galegos em castelhano.
Quanto ao uso oficial do
galego, só o encontramos no final do século XX — precisamente quando o uso real,
na rua, começou a diminuir. Hoje, o galego é uma das línguas oficiais da Galiza
— mas já é usado por uma minoria da população.
A proximidade entre o
português e o galego é um segredo bem guardado em Portugal — e mais ainda no
Brasil. Muitos dos que me ouviam em Nova Orleães eram brasileiros — para
muitos, foi uma boa surpresa saber dessa proximidade.
Expliquei brevemente que
existem duas normas: o galego reintegracionista — defendido por quem usa a
proximidade linguística para reintegrar
o galego no mundo da língua portuguesa — e o galego oficial, ensinado nas
escolas, usado nos meios de comunicação social e em muitos livros e que
encontramos nas placas da estrada quando vamos à Galiza. Este galego oficial
usa «ñ» e «ll» (e muitos «x»), enquanto o reintegracionista usa «nh» e «lh» (e
o «j»/«g» onde a versão oficial usa o «x»). Mesmo dentro de cada campo, há
variações, mas não vale a pena falar delas agora.
Para tentar mostrar de forma um pouco mais visual a relação
entre o português e o galego, uso novamente as pirâmides.
O desenho é uma simplificação,
claro. Mas o que quero dizer com ele é que há uma maior proximidade entre as
formas populares e informais do que entre as normas. Se a proximidade das
normas brasileira e portuguesa podem levar-nos a pensar que a língua das ruas
está mais próxima do que realmente está, no caso do galego, acontece o
contrário: se olharmos para as normas, ficamos convencidos de que estão mais
distantes do que realmente estão.
Contei, lá em Nova Orleães, a
história do verbo «chincar», que conheço por ser uma palavra informal de
Peniche com o significado de «tocar». Pois o José Ramom Pichel, um bom amigo
galego, apontou-me para dicionários galegos antigos onde essa palavra aparece
com o mesmo significado. Isto acontece muitas vezes: palavras populares de
várias terras portuguesas estão também nos dicionários galegos.
Tudo isto para sublinhar esta
palavra: proximidade. Uma proximidade que existe entre o português de Portugal
e o português do Brasil — mas também entre o português e o galego. Uma
proximidade que convive bem — se quisermos — com as nossas antigas e desejadas
separações políticas. Afinal, somos um país antiquíssimo — para quê ter medo do
que nos aproxima de outros povos?
Um
reencontro galego-brasileiro
Ali, em Nova Orleães, cada um
a falar no seu sabor do português, entendemo-nos — portugueses e brasileiros —
sem grandes problemas. Pois, no intervalo da sessão, Rafa Lombardino — a
presidente da Portuguese Language
Division — foi buscar a Marta, uma amiga galega que estava na conferência,
para ma apresentar.
A Marta ficou baralhada por
saber que tínhamos estado a falar do galego — e também ficou surpreendida
quando percebeu que todos nós, portugueses e brasileiros, conseguíamos
entendê-la em galego, língua que nunca pensara utilizar numa conversa nos E.U.A.
A Rafa explicou-me então que
conhecia a Marta há vários anos, mas que sempre conversaram em inglês ou
espanhol — e que só naquele momento perceberam que podiam usar o português e o
galego para comunicarem.
Na verdade, o problema da
comunicação do galego e do português não é o afastamento linguístico das
línguas ao longo de oito séculos — afastamento que existe, mas não impede a
comunicação. O problema é mesmo a falta de conhecimento da tal proximidade e o
nosso pouco hábito de ouvir e ler os galegos. Nós, portugueses, percebemos bem
os brasileiros — isto acontece porque o português do Brasil está próximo, mas
também porque estamos habituados a ouvi-lo. Já com os galegos, usamos — por
culpa nossa e deles — o famoso portunhol,
que esconde uma proximidade antiga e surpreendente.
No fundo, quando ouvimos outra
pessoa a falar uma língua ou variedade que nos está próxima, a dificuldade
estará mais na falta de hábito e, por vezes, numa certa reserva mental ou numa
imagem do mundo onde essa proximidade não encaixa. Sempre aprendemos na escola
que os brasileiros falam português. Com mais ou menos atrito, usamos o
português para comunicar com eles. Também na escola, aprendemos que a Galiza é
uma região de Espanha e que, em Espanha, a língua é o espanhol (mesmo que a professora
nos tenha dito mais alguma coisa sobre o interessante assunto, nem tudo fica…).
Daí vem a nossa dificuldade em ouvir o galego e a nossa tendência para enfiá-lo
no saco do espanhol.
Tal como no caso dos Waiwai, a
sensação de distância e proximidade — mesmo no que toca à língua — tem mais que
ver com a maneira como encaixamos os outros povos na nossa imagem mental do
mundo do que com uma real distância e proximidade cultural e linguística.
Disse há pouco que a
divergência entre o português do Brasil e o português de Portugal não é nada
que me tire o sono (fico bem mais preocupado com as atitudes pouco saudáveis
que algumas pessoas demonstram para com a outra variante da língua). E não me
tira o sono porque reparo como a língua se afasta muito devagarinho: afinal, os
galegos e portugueses têm entre si uma das fronteiras mais antigas do mundo e
as palavras que nos saem das bocas ainda estão muito próximas.
Hoje, com o travão das normas,
que mudam bem mais devagar do que a língua à solta nas ruas, estou convencido
de que nós, brasileiros e portugueses, temos ainda muitos séculos em que nos
compreenderemos uns aos outros sem grande dificuldade — principalmente na
escrita. As línguas mudam, mas mudam devagar…
Fico bem mais preocupado com
este outro desenvolvimento na nossa família linguística: o galego está a ser
substituído pelo castelhano. Tantos séculos depois, é precisamente agora que é
oficial e reconhecido que o galego está a desaparecer. Isso é bem mais
preocupante do que as diferenças entre o português dos dois lados do oceano.
Porque nos há-de preocupar o desaparecimento de uma língua de Espanha? Ora,
pela mesma razão por que dois irmãos, mesmo afastados por uma fronteira,
continuam a preocupar-se um com o outro. Os verbos que desaparecem da boca dos
galegos são os nossos, os artigos definidos que desaparecem da boca dos galegos
são os nossos, aquela língua tem ainda muito de nosso… E, caso o galego acabe
mesmo por desaparecer, perdemos a oportunidade de comunicar na nossa língua com
outro povo.
Mas sobre isso já não falei em
Nova Orleães — que havia muito mais para conversar. Mas fica aqui, neste texto,
a lembrar como uma língua pode florescer num continente para onde foi levada há
muito tempo e começar a morrer num dos territórios que a viu nascer. E nós,
portugueses, nada temos a perder ao viajar, nem que seja através da literatura,
pelos territórios por onde andam a cirandar as nossas velhas palavras — que às
vezes até chegam, vejam lá bem, a Nova Orleães. Marco Neves – Portugal in “Certas Palavras”
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