No ano 411 umha invasom sueva
provocou a constitui- çom, no extremo noroeste da Península Ibérica, do
primeiro reino independente do Ocidente Europeu, marcando o início da queda do
poderoso Império romano. A pegada deste Império foi tam grande que os novos
dominadores assumírom a língua, a cultura e até as divisões administrativas
romanas, pois assentárom os seus domínios nos três velhos conventos da
Gallaecia (nomeadamente no lucense e no bracarense), estendendo depois os seus
domínios ao escalabitano, com capital em Santarém. Grande parte do território
galego-português ficou incluído no entom chamado Galliciense Regnum, Reino da
Galiza.
O domínio suevo durou 175
anos, até a conquista visigoda, mas o território em que este povo fundou o seu
reino, com os seus mesmos limites, ora mantivo grande autonomia ora reapareceu
várias vezes como reino até o século XI. É esta a história que explica que o
latim falado nos conventos da Gallaecia e da Lusitânia se fosse afastando do do
resto da Península até dar origem ao galego-português, umha língua que antes de
começar a escrever-se, em finais do século XII, tivo oito séculos de história
oral, a mesma a norte e a sul do Minho. E também é esta a história que explica
que nos seguintes séculos surgisse conjuntamente na Galiza e em Portugal umha
das líricas mais importantes do Medievo europeu.
O que acabei de contar nom é
um relato desconhecido pola História da língua, mas continua invisível nas
escolas, onde se preferem valorizar outros acontecimentos, em geral posteriores
à Alta Idade Média. A historiografia espanhola explica a génese das atuais
línguas ibéricas na Reconquista. A portuguesa prefere esquecer qualquer
acontecimento anterior à formaçom do seu próprio Reino, no século XII. A
Filologia galega, por seu turno, costuma pôr o acento na produçom cultural
posterior ao século XVIII. O resultado é que o Reino da Galiza quase nom se vê.
Ninguém o fai por mal. Nom creio que haja intençom de ocultar nada, apenas de
salientar o relato que mais se adequa à visom moderna que cada pessoa ou
coletivo tem das cousas. Porém, é óbvio que estas visões, em Compostela, em
Lisboa ou em Madrid, contribuem a fazer esquecer que a nossa língua nasceu no
Reino da Galiza e tem umha história de quase oito séculos prévia à separaçom do
Condado Portugalense, logo convertido em Reino de Portugal.
Apesar disto, os
condicionamentos internos que nos turvam a vista às vezes desaparecem se a
história é observada a partir do exterior, a certa distância. Foi o que
aconteceu recentemente com o filme Arrival (A Chegada), a mais sucedida
produçom hollywoodiana de ficçom científica do ano 2016, que pujo na boca da
sua protagonista umha frase memorável para explicar o nascimento da nossa
língua:
“The story of Portuguese begins in the Kingdom of Galicia in the Middle
Ages, when a language was seen as an expression of art.” [“A história do
português começa no reino da Galiza, na Idade Média, quando a língua era uma
forma de arte.”]
O filme já foi visto por
milhões de pessoas em todo o mundo e a AGAL decidiu festejá-lo no dia em que
celebramos que os tempos som “chegados”, ainda que seja doutra Galáxia. Eduardo Maragoto - Galiza in “Festagal!
- Jornal da Associaçom Galega da Lingua”
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