SÃO PAULO – No
ano de 2000, a participação dos produtos manufaturados nas exportações era de
59% e a das commodities,
de 38%. Hoje, estes índices se inverteram completamente, passando a ser de 38%
para manufaturados e de 60% para commodities,
que são matérias-primas, que agregam pouco valor e geram poucos empregos. Os
números só não são mais dramáticos porque a Secretaria de Comércio Exterior
(Secex), do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC),
classifica como produtos industrializados os manufaturados e semimanufaturados,
que incluem açúcar refinado, suco de laranja, etanol, óleos combustíveis, café
solúvel e outros.
Tudo isso pode
ser considerado resultado da chamada Cooperação Sul-Sul adotada pelos últimos
governos populistas, que estabeleceram prioridade para o comércio com países em
desenvolvimento da América Latina, Caribe, África e Ásia, abandonando o diálogo
Sul-Norte, especialmente com Estados Unidos e União Europeia, o que redundou em
perda de mercados para os manufaturados. Além disso, a insistência em fazer do
Mercosul um fórum de debates políticos transformou o bloco numa camisa de força
que impediu o País de negociar acordos comerciais bilaterais ou regionais mais
amplos, provocando o seu isolamento comercial.
Em conseqüência disso,
o Brasil tem hoje uma participação no comércio mundial inferior a 1%, quando,
em 2011, esse índice era de 1,41%, o maior patamar já alcançado. Mais: na
década de 1980, o Brasil estava na frente de países como a China, Índia, México
e Coreia do Sul na corrente de comércio internacional. Mas, hoje, essas nações
estão à frente do Brasil: a China, por exemplo, responde por 13,80% de tudo o
que se compra e vende no planeta; a Coreia do Sul, por 3,18%; o México, por
2,31%; e a Índia, por 1,6%.
Se não fosse a
explosão de preços das commodities,
a participação do País no comércio mundial seria ainda menos representativa,
talvez ao redor de 0,5%. Como não tem qualquer controle sobre os preços ou
quantidades decommodities no
mercado mundial, o Brasil vive uma situação de extrema vulnerabilidade em sua
corrente de comércio, ainda que, por sua extensão territorial, por seu
agronegócio e por suas reservas minerais, esteja destinado a se tornar sempre
um país exportador de peso.
Diante disso,
urge que o País adote sem demora uma política de industrialização mais efetiva
que estimule a recuperação da participação dos produtos manufaturados na pauta
de exportação, sem deixar de manter ou elevar os atuais volumes de exportação
de commodities. Para
tanto, é fundamental recuperar a competitividade perdida pelos produtos
manufaturados a partir de 2007, o que passa pela reforma do atual sistema
tributário, que onera e adiciona custo ao produto durante o processo
industrial, e por mais investimentos em sua infraestrutura de transporte.
Afinal, sem custos de logística competitivos, as exportações de manufaturados
continuarão a alcançar apenas os mercados próximos. Milton Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São
Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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