SÃO PAULO – A carta de intenções que
a União Europeia (UE) acaba de assinar com o Japão que prevê a formalização de
um acordo de livre-comércio dá uma ideia do que poderá ser o tratado que o
bloco europeu pretende assinar com o Mercosul, ainda que desde já se possa intuir
que este não deverá ser tão amplo quanto prevêem as discussões dos europeus com
a segunda maior economia da Ásia para a formalização do Japan-EU Free-Trade Agreement (Jefta).
Iniciadas em 1999, quatro anos depois
da abertura de negociações com o Japão, as conversações da UE com o Mercosul
foram interrompidas em 2004, em função da mudança de política conduzida pelo
lulopetismo, que também serviu para levar ao fracasso as tratativas com os
Estados Unidos para a formação da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca).
Como se sabe, o resultado disso foi a
perda de espaço para os produtos manufaturados brasileiros no maior mercado
consumidor do mundo, o que redundou em dificuldades para o parque fabril
nacional e no fechamento de muitas vagas no mercado de trabalho. Em
contrapartida, deu-se ênfase à aproximação com os Brics (Rússia, Índia, China e
África do Sul) e países subdesenvolvidos da África governados, na maioria, por
ditadores.
As consequências dessa política
desastrosa ainda podem ser conferidas em números atuais, que prevêem que a
Argentina voltará em 2017 a ser o principal mercado para os bens
industrializados brasileiros, superando os Estados Unidos, segundo previsão da
Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), com vendas ao redor de US$ 15
bilhões. Nada contra que a Argentina seja o maior importador de manufaturados
brasileiros, mas a verdade é que os Estados Unidos poderiam estar importando
pelo menos o dobro dos US$ 14 bilhões previstos para 2017, se a Alca tivesse
sido criada ou pelo menos não tivesse ocorrido um distanciamento entre os dois
países.
As negociações entre Mercosul e UE
foram relançadas em 2010, quando as partes assumiram o compromisso de concluir
um acordo com cobertura próxima a 90% do comércio birregional. Depois de muita
conversa, em junho de 2017, em Montevidéu, os dois blocos confirmaram o
interesse em avançar nas negociações, com vistas à conclusão de um acordo
abrangente e equilibrado, que pode sair, quem sabe, na próxima reunião que está
marcada para outubro, em Bruxelas.
Depois que o governo norte-americano
retirou-se do Tratado de Livre-Comércio Transpacífico (TPP), assinado por 11
países da Ásia e do Pacífico, incluindo o Japão, o governo japonês buscou
acelerar as negociações com os europeus. E o resultado é que o novo acordo
deverá cobrir 99% dos temas da agenda de comércio bilateral, mas com o estabelecimento
de um período de transição para proteger setores “sensíveis”, como o setor
automotivo japonês, muito taxado na Europa, e o agronegócio europeu, que
sobrevive graças a muitos subsídios.
Portanto, é possível que esse
entendimento com o Japão em favor de um comércio aberto, sem demasiado
protecionismo, encoraje, finalmente, os europeus a buscar um amplo acordo com o
Mercosul. Já não é sem tempo. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é
presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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