A cidade da Ilha de
Moçambique, em Nampula, acolhe um workshop
de artes plásticas que marca o arranque das actividades culturais visando
celebrar os 200 anos de elevação da Ilha à esta categoria, que se assinala a 17
de Setembro do próximo ano.
O evento contará com a
participação de artistas nacionais que trabalham com pintura, desenho infantil,
cerâmica e esculturas feitas à base de madeira e material reciclado.
O artista plástico Paulo César
Magalhães disse que esta acção, cujo palco é o Corredor dos Arcos na Ilha de
Moçambique, é da iniciativa de três artistas plásticos nacionais baseados na
cidade de Maputo, Nampula e Ilha de Moçambique. Conta com o patrocínio da
Traços e Tons, um organismo que trabalha no ramo das artes.
A ideia é sair do eixo da
cidade de Maputo e desenvolver de carácter artístico-cultural da capital do
país para outros pontos do país, cujas potencialidades suscitam maior interesse
dos amantes da cultura.
Para além de celebrar os 200
anos da Ilha de Moçambique, a ideia é criar iniciativas desta natureza fora do
circuito da cidade de Maputo, explorando outros corredores que possam suscitar
interesse aos artistas e ao público e promover, deste modo, o turismo cultural.
“Queremos também levar as
pessoas a interessarem-se pela história cultural, social e antropológica da
primeira capital de Moçambique, e promover o potencial turístico que ela tem,
ao mesmo tempo que contribuimos na colecta de receitas para os cofres do Estado
e afirmamos o seu estatuto de património mundial da humanidade”, disse.
Por seu turno, Titos Pelembe,
vice-presidente da Associação Kulungwana para o Desenvolvimento Cultural,
explicou que durante sete dias os artistas vão produzir um vasto leque de
obras, explorando principalmente o material reciclado.
No fim será realizada uma
exposição colectiva para exibir o resultado destas criações artísticas.
O Corredor dos Arcos, onde vai
decorrer a oficina, é um espaço localizado na parte nobre da Ilha de Moçambique
e de fácil acesso, retocado propositadamente para acolher eventos de carácter
artístico-cultural.
Com cerca de 45 anos de
experiência no campo das artes plásticas, nomeadamente pintura de postais e
retratos de crianças sobre o cartão reciclado, papel de esquiço, acrílico entre
outros materiais, Helena Perestrelo é outra participante deste workshop.
Para ela, esta é uma
oportunidade para dialogar com outros artistas moçambicanos, trocar
experiências e, sobretudo, ver outras dinâmicas e mecanismos de produção
artística.
Entretanto, ao longo deste ano
a cidade da Ilha de Moçambique tem agendado vários eventos de carácter
artístico e cultural com intuito de celebrar esta efeméride.
Breve
história
A cidade insular Ilha de
Moçambique, que deu origem ao nome do país, é um município da província de
Nampula e tem um governo local eleito. Localizada num recife de coral. A Ilha
está ligada ao continente por uma ponte com 3,80 km de comprimento, da autoria
do engenheiro Edgar Cardoso. Construída na década de 1960, a ponte sofreu
recentemente grandes obras de recuperação, estando totalmente reabilitada.
A Ilha de Moçambique adquiriu
o estatuto de cidade em 1818 e foi capital de Moçambique, de facto a primeira
capital, até 1822.
Quando Vasco da Gama ali
aportou, em 1498, a ilha estava subordinada ao sultão de Zanzibar e era
utilizada pelos árabes no seu comércio com o Mar Vermelho, a Pérsia, a Índia e
as ilhas do Índico.
Graças à sua situação
geográfica estratégica, a cidade tornou-se um ponto de escala obrigatório das
viagens de ida e volta dos navios da Carreira da Índia, entre Lisboa e Goa, e
proveitoso entreposto comercial.
O interesse revelado por
outras potências europeias justificou a construção do seu vasto e valioso
património arquitectónico, que começou a ser erguido ainda em 1507, quando os
portugueses ali construíram a Torre de São Gabriel, onde hoje se situa o
Palácio dos Capitães-Generais. Classificada pela Organização das Nações Unidas
para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em 1991, como Património Mundial da
Humanidade, a cidade possui, entre outros monumentos de valor, a Capela de
Nossa Senhora do Baluarte, datada de 1522, na extremidade norte da ilha (único
exemplar de arquitectura manuelina em Moçambique). Tem ainda a Fortaleza de São
Sebastião, a maior da África Austral, totalmente erigida, entre 1588 e 1620,
com pedras do balastro dos navios, algumas das quais ainda se vêem na praia
mais próxima.
A ilha está dividida em duas
partes, a norte, a “Cidade de Pedra”, construída em pedra e cal e onde se
encontram os principais monumentos e, a sul, a “Cidade Macuti”, material de
construção tradicional feito com folhas de coqueiro. A maior parte dos
residentes vive da pesca, de alguma actividade agrícola e de artesanato.
A população actual é
principalmente descendente de imigrantes bantus que ali chegaram no ano 200
a.C. A influência dos árabes que ao longo de séculos aportaram à Ilha de Moçambique
é ainda hoje particularmente evidente no idioma local, o naharsa. In “Jornal
de Notícias” - Moçambique
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