A presença chinesa em países
como Angola e Moçambique é notável. Nas duas últimas décadas, o volume de
investimentos chineses na África cresceu mais de 20 vezes, passando de US$ 10
bilhões em 2000 para US$ 220 bilhões em 2014. Em setembro de 2016, Angola se
tornou o maior fornecedor de petróleo para a China, enquanto Moçambique está
entre os 5 países com maior concentração de investimentos chineses.
O Brasil segue no mesmo passo.
Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do país, substituindo o
primado histórico das relações com os Estados Unidos, e não é sem motivo que o
Presidente Temer, na véspera da Cúpula do BRICS, terá encontros em Pequim com o
líder chinês e com empresários daquele país.
Especialista em países BRICS –
o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, Diego
Pautasso, professor de Relações Internacionais do Colégio Militar de Porto
Alegre, no Rio Grande do Sul, analisou em entrevista exclusiva para a Sputnik
Brasil o que representariam para o Brasil os investimentos que a China tem
aplicado na África. Esses valores conseguiriam provocar no Brasil um avanço
rumo ao desenvolvimento:
“Infelizmente, [os valores]
não são suficientes. O comércio exterior e os investimentos estrangeiros, embora
sejam variáveis importantes para o crescimento e desenvolvimento de um país,
não são suficientes [para estes fins]. Quando se analisa a história política e
econômica de qualquer país, a gente vê que o capital se fortalece", disse.
Segundo ele, a política de
capitais e a formação bruta de capitais têm de ser predominantemente
domésticas. "[Na China], o dinheiro estrangeiro nunca passou de 10% do
total da formação de capital bruto. Então eu creio que as parcerias
internacionais, apesar de muito importantes, precisam estar enquadradas num
projeto nacional de desenvolvimento mais abrangente, que permita
internacionalizar a tecnologia, criar cadeias de valor e assim por diante”,
disse o especialista citando o caso da China.
Diego Pautasso acredita que a
China vai ocupar o espaço a ser deixado vazio na África pela saída das empresas
brasileiras, após o impacto dos escândalos de corrupção envolvendo empreiteiras
como Odebrecht, OAS e Andrade Gutierrez, todas com grandes volumes de
investimentos em países como Angola e Moçambique.
“Todo aquele esforço que o
Brasil vem fazendo desde os anos 70 para começar a exportar serviços e entrar
para um grupo muito seleto de países capazes de exportar serviços de
engenharia, de internacionalizar empresas de grandes proporções – o que teve
uma aceleração muito significativa durante os Governos Lula e Dilma –, hoje
está sendo colocado por terra. Como a gente vê, não é um projeto que se refaz
em 1, 2, 3, 4 anos, mas sim em décadas. São projetos intergeracionais que,
literalmente, estão indo para o ralo a partir da [Operação] Lava Jato e da
falta de compromisso com empresas que fazem parte de uma histórica
industrialização do Brasil”, comenta.
O Professor Pautasso se
mostrou convicto de que as empresas chinesas de engenharia ocuparão os espaços
vagos e que a cooperação entre China e países da África tende a um implemento
cada vez maior e mais sólido.
"A China, desde meados
dos anos 90, percebeu que a África era uma grande fronteira de expansão mundial
do capitalismo e dos negócios. Era um continente que estava à margem do
processo de globalização, e [a China] intensificou suas relações, fez a
multiplicação do comércio de investimentos e, de lá para cá, as relações [entre
África e China] têm sido muito sinérgicas", observou.
Em relação à expansão do
ensino do idioma português na China, Diego Pautasso vê o fato como
perfeitamente natural, já que é consequência dos planos de inversões que o
Governo chinês tem não só para o Brasil como também para os países de língua
portuguesa. Por isso, o especialista considera perfeitamente compreensível que
a China queira ter entre seus quadros de especialistas profissionais
habilitados a compreender e falar o português, de modo a facilitar a
comunicação entre chineses e habitantes de países de língua portuguesa.
Por sinal, o ensino do
idioma português na China deverá ser enfocado na próxima Reunião de Cúpula do
BRICS, marcada para os dias 3, 4 e 5 de setembro em Xiamen, cidade da Província
de Fujian, no Leste do país. O tema do encontro será “BRICS: Parceria Mais
Forte para um Futuro Mais Brilhante”. In “Sputnik Brasil” -
Brasil
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