Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 25 de abril de 2021

Luxemburgo – Palavras de Catarina Salgueiro Maia a seu pai no dia 25 de Abril de 2021

“Meu Pai,

Cá estamos nós novamente a celebrar aquele dia mágico! Cá estou eu, a chata do costume, a escrever-te!

Esta semana falei com um grupo maravilhoso de crianças e jovens sobre o 25 de Abril e fiquei encantada com o interesse deles. Fiquei tão feliz por saber que há, mesmo a 2000 km de Portugal, professores que fazem questão que as gerações futuras dêem valor ao que vocês conquistaram naquele dia. No final, pedi-lhes para lembrarem Abril todos os dias e não deixarem que a memória se apague.

Porque esta é a minha mágoa! Ver os cravos ao alto nesta altura e os ideais esquecidos o resto do ano. Ver pessoas a celebrarem democracia quando, ao longo da vida, impõem ditaduras.

Vivemos tempo complicados! A pandemia continua, as restrições continuam e os desrespeitar de regras também! Os teus netos começaram os auto-testes na escola para que não tenhamos que fechar novamente. Mas continuam as festas clandestinas onde põem em risco não só a própria saúde como a de todos com que se vão cruzar nos dias seguintes. Estivemos muito tempo com os centros de cultura fechados, negócios fechados e limitados porque alguns se acham acima da lei!

Esta noite recebi uma mensagem de alguém a ofender-te e atacar-te! Surpreendentemente (vais ficar orgulhoso de mim 🤣) não respondi e só pensei “foi também para isto que os capitães saíram à rua)! Mas sabes o que me magoou? O facto de, sem a Revolução, aquela alma não teria a ousadia de a enviar. Ou teria, porque seria um dos outros.


Sabes o que me deixa tranquila? Tu estás bem! Tu sabes o quanto foi importante para nós aquela viagem a Lisboa. Vocês sabiam que algo tinha de mudar. Que os pais não mereciam perder os filhos tão novos! Que Portugal não poderia continuar isolado e que a liberdade não poderia continuar aprisionada! Vocês sabiam que era “agora ou nunca” mesmo pondo as vossas vidas em risco! Vocês deixaram mulheres, pais, filhos em casa apreensivos e foram para a “frente de batalha” enquanto outros ficaram no quentinho e se auto-intitularam heróis atrás de mentiras.

A todos os que não cruzaram os braços, a todos os que desobedeceram e lutaram por nós, a todos os que vivem sobre os ideais de Abril… MUITO OBRIGADA!

A ti, meu Rei, obrigada por nunca teres desistido, obrigada por nunca teres mudado após o 25 de Abril e MUITO OBRIGADA por me dares a honra de te chamar PAI!

Da filha que te ama,

Catarina, Mau Feitio”




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