Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 27 de abril de 2019

Macau - Universidade da Cidade de Macau intensifica aposta na cooperação sino-lusófona

As relações entre a China e os países lusófonos são o epicentro do Mestrado e Doutoramento da Universidade da Cidade de Macau visando cultivar as relações bilaterais, ao potenciarem o contacto interpessoal, no contexto de Macau enquanto plataforma mas também como parte da iniciativa Uma Faixa, Uma Rota. A estes associam-se o Instituto e Centro de Investigação da UCM que procuram ajudar a quebrar barreiras por vias da pesquisa e intercâmbio académico de alunos

Foto: JTM


A Universidade da Cidade de Macau (UCM) ministra, desde 2017, um Mestrado e Doutoramento em estudos sobre os países de língua portuguesa que vai, de certo modo, ao encontro da iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota” – lançada em 2013 por Xi Jinping que prevê investimentos de milhões de dólares em projectos estruturais na Ásia, África e Europa. Além disso, conta com um Centro de Investigação e um Instituto para a Investigação dos Países de Língua Portuguesa, criados pela UCM há pouco mais de três anos.

O Jornal Tribuna de Macau esteve à conversa com Pang Chao, director do Centro, e Francisco José Leandro, director assistente do Instituto, para perceber o contributo e as expectativas destas duas ferramentas no desenvolvimento de Macau dentro da iniciativa chinesa, e nas relações sino-lusófonas.

Os avanços e progressos do programa chinês estão em destaque na medida em que decorre em Pequim a segunda edição do Fórum “Uma Faixa, Uma Rota”, com a presença de quase 40 Chefes de Estado, incluindo Marcelo Rebelo de Sousa. Portugal é, de resto, um dos poucos países da União Europeia (UE) que já expressou apoio formal a um projecto que tem suscitado divergências com as potências ocidentais.

As economias europeias olham para o projecto de Xi Jinping como uma nova forma de colonialismo e ordem mundial a ser moldada por um rival estratégico, com sistemas e valores políticos díspares. No entanto, para o director do Centro de Investigação “Uma Faixa, Uma Rota” existe, de facto, um “mal-entendido” sobre o plano. “É uma iniciativa assente no desenvolvimento por vias da cooperação. Este é o principal objectivo” e “à medida que a co-construção, co-uso e co-partilha vão crescendo, mais e mais países ocidentais farão parte da iniciativa”, estimou Chao Peng.

Aliás, “a intenção final é que todos os países se desenvolvam, cresçam, e não apenas a China. Depois de Portugal se ter juntado à iniciativa, em Dezembro, e a Itália, em Março, talvez a Suíça se junte. Acredito que isto irá acelerar os passos e a área que se pretende desenvolver”, acrescentou.

Francisco José Leandro ressalva que este projecto é recente e ainda “está a crescer”. “O que a China está a dar é a estrutura, as oportunidades e cabe-nos explorá-las. A responsabilidade também recai nos países participantes, e um dos principais problemas é que a maioria dos países não tem uma ideia clara sobre o que fazer e é aqui que entra a China”, notou.

Ao mesmo, e com uma “posição bastante positiva” sobre as relações que se estão a estabelecer – nomeadamente as sino-lusófonas – Francisco José Leandro reconhece o cepticismo de algumas economias europeias em aderir à iniciativa embora tudo faça parte do jogo. “Fico muito contente por ver que a União Europeia tem agora uma estratégia sobre Uma Faixa, Uma Rota. Durante muitos anos, a UE ignorou, simplesmente, a existência desta iniciativa o que deixou de ser verdade e representa um sinal positivo”.

Por outro lado, “a liderança chinesa está a tentar compreender os reais problemas e a satisfazer diferentes interesses, o que leva tempo”, além de que “tudo depende também da contribuição que cada país está disposto a fazer”.

Criar pontes e contactos

Mais direccionados para a plataforma sino-lusófona, enquadram-se o Mestrado e Doutoramento da UCM. Para Francisco José Leandro, os dois cursos, associados ao Instituto e Centro de Investigação, surgem como um “grande serviço”, somado ao Fórum Macau, prestado pela universidade nesta “ideia de reforço de relações entre a China e os países de língua portuguesa”.

“As pessoas têm diferentes percepções mas a verdade é que muitas coisas estão a ser feitas, nomeadamente ao nível de cooperação humana que abrange educação, saúde, turismo, rede de contactos, comunicação, acesso digital, etc. Todas as semanas recebo pedidos do Brasil, Cabo Verde e Guangdong e o nosso papel é, no fundo, colocar as pessoas em contacto porque há barreiras. A China não é conhecida nos países de língua portuguesa, e vice-versa”, frisou.

De qualquer modo, “o que a China está a fazer com todos os países de língua portuguesa é estabelecer uma rede de contactos permanente e a todos os níveis – medicina, educação, trocas comerciais – mas é um longo processo e um longo caminho a percorrer” que “estamos a construir em conjunto”, frisou Francisco José Leandro.

Ademais, descreveu Pang Chao, esse “é o aspecto mais importante e é aqui que Macau representa um papel crucial na relação com os países de língua portuguesa”. E, realçou Francisco Leandro, sendo o Fórum Macau “um instrumento” do poder soberano, “o que podemos fazer envolve cooperação, instituições como a nossa, e colocar as pessoas à volta da mesma mesa, organizar eventos culturais, conferências, etc. Estabelecer uma ponte não apenas no quadro das relações bilaterais soberanas mas ao nível de todos os outros aspectos que não são cobertos por questões soberanas”.

É neste contexto que entram os 60 alunos dos cursos sobre os estudos dos países de língua portuguesa: 40 do Mestrado e 20 do Doutoramento, 14 dos quais são do Continente chinês, seis de Macau e do estrangeiro.

Os cursos lançados estrategicamente pela UCM surgem como uma forma de incentivar a troca de contactos e de relações entre os diferentes países abrangidos pelas políticas chinesas de aproximação à lusofonia. “Estamos a tentar trazer alunos da China e de todos os países de língua portuguesa porque a partir do momento em que se encontram esta relação é eterna”, disse Francisco Leandro. O também professor assistente espera que os cursos consigam, nas próximas edições, atrair mais alunos lusófonos até porque “este é o único programa de mestrado e doutoramento, do mundo, que aborda as relações entre a China e os Países da Língua Portuguesa – há um curso semelhante em Coimbra mas que não confere o grau universitário”.

Exemplos disso são Diego, Rachel Li e Calvin Chen – alunos do Doutoramento em estudos sobre os países de língua portuguesa que partilham o interesse por esta área de investigação.

Diego, com investimentos em Portugal, encontrou uma “oportunidade interessante” no curso que espera dar-lhe uma via profissional ligada às relações internacionais, no Continente chinês. Já Rachel Li acha que o Doutoramento “permite estar em contacto com pessoas naturais de vários países de língua portuguesa”. Actualmente integra uma equipa de investigação sobre as potencialidades estratégias entre Macau, Timor-Leste a China.

“É uma oportunidade especial porque conhecia muito pouco do país. Além da língua, há algumas dificuldades porque a cultura é diferente mas está tudo a correr bem”, disse a este jornal.

Calvin, por exemplo, recorda com entusiasmo a sua estadia em Timor-Leste que lhe permitiu conhecer uma cultura e realidade diferentes que o enriquecem profissionalmente. O jovem estudante espera arranjar emprego na área política e diplomática sino-lusófona.

Experiências de estudantes que são parte integrante de um projecto que torna Macau o “único lugar no mundo com um centro de investigação, mestrado e doutoramento com pessoas com capacidade para falar três línguas. Isto é o importante, é a materialização da importante cooperação interpessoal”, rematou Francisco José Leandro. Catarina Almeida – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

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