Um projeto logístico para
transporte e distribuição de gás natural liquefeito (GNL) na região Norte prevê
a construção de 20 barcaças e cinco ou seis empurradores. Segundo os
idealizadores é a primeira vez que serão construídas no Brasil balsas desse
tipo movidas a GNL. A meta é construir as unidades a partir de 2020, no
Estaleiro Rio Maguari (PA). A primeira fase do projeto, a partir de 2021,
movimentará três milhões de metros cúbicos de gás por dia, saindo de uma
unidade de armazenamento flutuante (FSU -floating storage unit) em Itacoatiara
(AM). Desse volume, dois milhões de m³ serão levados pelos comboios até Porto
Velho (RO), via Rio Madeira, e um milhão de m³ será transportado até Roraima.
Cada um desses empurradores
terá potência de aproximadamente 4.200 HPs e cada balsa carregará 1.200 m³ de
gás. “Pela primeira vez no Brasil serão construídas balsas gaseiras e
empurradores fluviais, que também queimarão GNL. É inédito para construção
naval no Brasil”, destaca o vice-presidente executivo e diretor de operações da
Amazonica Energy, Ronaldo Melendez. Para segunda etapa, a empresa pretende
instalar outra FSU na Bacia da Ilha de Marajó (PA), com mais 20 a 25 balsas e
cerca de 10 empurradores fluviais. A previsão de investimentos é da ordem US$
600 milhões, sendo US$ 300 milhões destinados aos ativos fluviais da fase 1.
A parceria foi firmada pela
Amazonica Energy, criada ao final de 2016, com a projetista canadense Robert
Allan, o Estaleiro Rio Maguari (ERM), além da MTU (sistemas de motorização a
gás) e a Rolls-Royce (sistemas de propulsão) — estas duas pertencentes ao mesmo
grupo. A empresa também está em fase de fechamento com uma empresa de navegação
da região Amazônica, a ser definida em breve e se juntar ao projeto. O
presidente da Amazonica, Marcelo Araújo, afirma que o projeto vem sendo
idealizado desde 2014, com estudos técnicos, de infraestrutura e de hidrologia,
desafios para entrega de gás na região, além de questões regulatórias,
tributárias e ambientais.
O objetivo é obter
financiamento entre 80% e 85% do projeto via Fundo da Marinha Mercante (FMM).
Os sócios pretendem submetê-lo na 41ª reunião do conselho diretor do FMM,
prevista para o dia 4 de julho. O restante virá de private equity da sociedade
de propósito específico (SPE), que será formada por parceiros estratégicos e
instituições financeiras brasileiras e estrangeiras dispostas a fazer financiar
o projeto e oferecer garantias. A previsão inicial é de R$ 20 milhões em
investimentos em 2019, principalmente para estudos de engenharia. Além de
Araújo, que é engenheiro elétrico e foi consultor da Petrobras, e Melendez,
engenheiro mecânico e ex-diretor da Rolls-Royce, a Amazonica tem como sócio o
engenheiro civil Lívio Assis, ex-diretor da Celpa.
O GNL é uma alternativa ao
diesel, combustível predominante na região Norte, e que também serve para
substituição de coque, madeira e carvão. Os empresários identificaram demandas
de gás para geração elétrica em sistemas isolados de geração de energia
elétrica, no agronegócio, mineração, e em atividades industriais como as de
fertilizantes e cerâmicas. O gás pode atender a Amazônia leste, a região
central e o extremo oeste da região. A Amazonica possui autorização da Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para comercialização
de gás natural no Brasil. O gás natural será importado e trazido por navios
gaseiros, provavelmente do Golfo do México, até a região Norte, onde serão
distribuídos por meio das balsas.
A tendência, segundo esse
modelo de negócios, é que os clientes industriais de grande porte realizem a
regaseificação em suas próprias instalações. Para os clientes de pequeno e
médio porte, a Amazonica vai oferecer uma tecnologia de regaseificação modular
por meio de um parceiro. Melendez ressalta que o sistema é de operação e
manutenção simples e acrescenta que esse tipo de tecnologia já é realidade na
Ásia e em países como Alemanha e Estados Unidos. Ele acrescenta que a diferença
para construção, basicamente, será a motorização, já que a embarcação precisa
de um tanque gás para armazenar o combustível.
Algumas das barcaças estão
sendo projetadas para carregar tanktainers no seu convés principal, que
consistem em contêineres de 40 pés com tanque criogênico dentro. As barcaças
serão configuradas considerando a capacidade de armazenamento das unidades e o
calado dos rios, já que existem trechos que chegam a ficar com profundidades
entre três e quatro metros na baixa estação. “Nossos desenhos de referência
estão sendo feitos para navegação de calado raso para atender as áreas mais
remotas”, ressalta Araújo. Danilo
Oliveira – Brasil in “Portos e Navios”
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