Uma equipa de investigadores
da Universidade de Coimbra descobriu uma nova família de fungos numa das
paredes da capela de Santa Maria, na Sé Velha, que está a deteriorar a pedra.
O micro-organismo – do grupo
dos fungos microcoloniais negros – foi detetado na capela de Santa Maria, nos
claustros da Sé Velha de Coimbra, no âmbito de uma investigação da Universidade
de Coimbra que tem o objetivo de analisar a deterioração causada por fungos,
algas, bactérias e por ‘archaea’ (biodeterioração) em calcário na zona da
Universidade de Coimbra, Alta e Sofia, classificada Património Mundial, afirmou
o autor principal do artigo, João Trovão.
Com a descoberta, foi
identificada e classificada uma nova família de fungos – a Aeminiaceae –
naquele monumento construído entre o século XII e o XIII.
A obra de arte onde o
organismo foi encontrado – esculpida em rocha calcária que adorna uma das
paredes da capela -, “poderá sofrer uma eventual perda ou descaracterização do
seu valor associado”, nota o investigador, referindo que não existem “sinais”
de que o fungo se encontre no resto do edifício da Sé Velha.
No entanto, João Trovão
salienta que, dadas as características deste fungo, estes podem colonizar “com
sucesso os habitats mais extremos”, e, face às suas cores escuras, podem
alterar “a aparência da obra de arte ou do monumento, causando uma degradação estética
da obra”.
“Pelas suas características
biológicas, são normalmente capazes de degradações físicas, levando ao
aparecimento de fissuras através do seu crescimento para o interior da rocha.
São também capazes de realizar alterações bioquímicas nos constituintes
minerais originais da rocha”, sublinha.
Este fungo é de um grupo
“conhecido por proliferar em ambientes rochosos, dado que possui
características únicas que lhes permitem a sua sobrevivência nestes ambientes
inóspitos. Dado contribuírem para alterações estéticas, físicas e químicas nos
monumentos ou peças de arte que colonizam, este tipo de organismos é amplamente
estudado por biólogos e restauradores que trabalhem com peças de valor
sociocultural e histórico incalculável”, sublinha João Trovão.
Segundo o investigador, para
combater a deterioração por parte deste fundo, as intervenções de restauro
devem seguir “exames cuidadosos dos dados ambientais, abióticos,
arquitetónicos, ecológicos e geológicos, juntamente com uma intervenção de
limpeza específica e adaptável”.
A equipa, contou o
investigador, está a realizar análises e amostragens noutros monumentos da
cidade, para entender se a espécie está presente noutros monumentos.
O fungo já tinha sido detetado
na Catedral de Santiago de Compostela, em Espanha, colocando-se como
possibilidade que o organismo tenha ido lá parar a partir do transporte de
pedra de Ançã, em Cantanhede, que foi usada para a construção daquele edifício.
Outra hipótese que a equipa
considera é que o fungo seja endémico à Península Ibérica, sendo necessárias
mais análises e amostragens para entender o espetro geográfico deste
micro-organismo.
“Dado que muitos monumentos
históricos nacionais e internacionais possuem um valor incalculável, a
realização deste tipo de estudos é fulcral para o estabelecimento de
estratégias de restauro eficazes com vista à preservação do património para o
futuro”, conclui o investigador. In “Mundo Português” - Portugal
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