O aquecimento global pode
induzir mudanças nas comunidades de fungos de água doce, especialmente em
comunidades dominadas por espécies adaptadas a ambientes mais frios ou a
ambientes com oscilações mínimas de temperatura, e provocar uma alteração
gradual nas teias alimentares modificando os ciclos biológicos e geoquímicos e
comprometendo os serviços do ecossistema e do bem-estar humano, alerta um
estudo internacional liderado pela investigadora Seena Sahadevan, do Centro de
Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra (FCTUC).
Este é o primeiro estudo
realizado à escala global sobre a diversidade de fungos aquáticos em ribeiros
de floresta distribuídos ao longo de um gradiente latitudinal (do equador em
direção aos polos), baseado em técnicas moleculares de nova geração (Illumina
NGS).
Ao contrário dos
micro-organismos do solo, cujos padrões de distribuição das espécies pelo globo
estão bem definidos, a distribuição em larga escala dos micro-organismos
aquáticos, apesar do seu valor ecológico, não tem tido a mesma atenção.
Os ecossistemas de água doce
têm um papel relevante no ciclo global do carbono, inclusive os pequenos
ribeiros de floresta em que a principal fonte de carbono reside nas folhas e
detritos vegetais que caem sobre o leito e aí se decompõem. Este processo de
decomposição é conduzido pelos fungos aquáticos: ao libertarem substâncias para
digerir as folhas também as tornam apetecíveis para consumidores invertebrados,
e por sua vez estes servirão de alimento a predadores como ninfas de libélula e
peixes, dinamizando as relações tróficas.
A investigação, já publicada
na revista “Science of the Total
Environment”, envolveu 32 investigadores de 31 instituições distribuídas
por 18 países, designadamente: Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá,
China (Hong Kong), Equador, Espanha, Estados Unidos da América, França, Guiné,
Índia, Itália, Japão, Malásia, Noruega, Portugal - incluindo os Açores - e Nova
Zelândia.
A partir da análise das
comunidades de fungos de 19 rios, distribuídos pelos dois hemisférios, a equipa
verificou «que o número de espécies de fungos varia consoante a latitude, isto
é, o número de espécies é maior nas regiões temperadas de média latitude, como
por exemplo Portugal e Espanha. Este padrão de distribuição diverge do padrão
global, pois enquanto o número de espécies de plantas e animais diminuem quando
nos afastamos do equador, os fungos aquáticos diminuem perto do equador e dos
polos», relata Seena Sahadevan.
A investigadora do MARE
sublinha que «outro ponto relevante do estudo foi verificar que a composição
das comunidades de fungos difere claramente com a temperatura da água, tendo
sido registados três grupos distintos independentemente do hemisfério onde se
encontravam.» Universidade de Coimbra “Faculdade
de Ciências e Tecnologia” - Portugal
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