SÃO PAULO - O Ministério da Infraestrutura acaba de anunciar
retomada do transporte ferroviário com a concessão de três novas ferrovias. Entre
elas, está a licitação da Ferrogrão (EF-170), prometida ainda para 2019 ou
início de 2020. Essa ferrovia deverá ligar os Estados do Mato Grosso e Pará,
entre Sinop e o porto de Miritituba, em Itaituba, na margem direita do rio
Tapajós, perto de Santarém, de onde os navios podem sair carregados pelo Rio
Amazonas até o Oceano Atlântico, com destino à Europa e à Ásia, principais
consumidores de grãos brasileiros.
Em março, segundo o Ministério da Infraestrutura, será lançada a
licitação de uma linha férrea entre Porto Nacional-TO e Estrela d’Oeste-SP, que
deverá ligar também o porto de Itaqui-MA ao Porto de Santos-SP. Com isso, a
previsão é que até 2025 a participação do modal ferroviário na matriz de
transporte venha a dobrar, desafogando o modal rodoviário.
Além colocar a Ferrogrão para funcionar, o Ministério pretende
prorrogar contratos de concessão, usando outorgas devidas pela prorrogação dos
contratos para construir novos segmentos. E o primeiro segmento previsto é a
Ferrovia Integrada do Centro-Oeste, entre Água Boa-MT e Campinorte-GO,
impulsionando o agronegócio no Vale do Araguaia.
Se não se tratar apenas de uma carta de intenções, iniciativa
comum em começo de governo, a ação do Ministério da Infraestrutura vem em boa
hora e será decisiva para acelerar o desenvolvimento do agronegócio, tirando
caminhões das rodovias e, especialmente, diminuindo os gastos com transporte
até os principais portos do País, que hoje, segundo estudo da Confederação
Nacional da Indústria (CNI), representam cerca de 30% do custo total dos
produtores de grãos.
De qualquer modo, é necessário que essas iniciativas do
Ministério da Infraestrutura sejam acompanhadas por outras que priorizem a
utilização do modal hidroviário. Dados da Agência Nacional de Transportes
Aquaviários (Antaq) mostram que apenas 5% do que o Brasil produz é escoado
pelos rios, volume que poderá ser bem maior, se houver maciços investimentos em
obras para a construção de eclusas, correção de desníveis e eliminação de
barreiras de pedras a fim de que as barcaças possam navegar com segurança.
Em outras palavras: é fundamental que sejam criadas condições
que permitam baixar os altos custos da logística no País. Aliás, as commodities continuam a ser vendidas no
mercado externo graças ao seu baixo custo de produção, aliado às elevadas
cotações que permitem absorver o custo do frete gerado pela ineficiência da
infraestrutura logística.
A título de exemplo, pode-se lembrar que, segundo dados da
Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), em média, o custo do frete
interno para a exportação de soja representa 25% do valor do produto. Já no
caso do milho esse custo sobe para 50%, o que pode tornar em breve inviável
economicamente sua exportação. É de se ressaltar também a vulnerabilidade que
essa situação produz, pois, afinal, o Brasil não exerce qualquer controle ou
influência sobre as cotações das commodities.
Ou seja, uma eventual redução nos preços das commodities pode também inviabilizar as exportações.
Diante disso, torna-se importante igualmente a industrialização
ou agregação de valor às commodities
exportadas, o que, por enquanto, é quase impossível devido ao atual sistema
tributário, que onera e adiciona custo ao produto durante o seu processamento
industrial. Como se vê, para equacionar ou minimizar a questão, é
imprescindível uma ação conjunta do Ministério da Infraestrutura com o
Ministério da Economia que absorveu as funções dos antigos ministérios da
Fazenda, da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, do Planejamento e do
Trabalho. Milton Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São
Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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