Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 23 de setembro de 2017

Catalunha – Francisco Franco, o ditador, regressou vitorioso

O processo de independência do povo catalão, promovido através da convocatória ao voto em 1 de outubro e suportado pela lei do referendo e pela lei da transitoriedade, encontrou uma incalculável resistência do governo presidido por Mariano Rajoy, cujas medidas confirmam que a Constituição de Francisco Franco continua em vigor na sua essência.



O ditador governou o país com uma mão de ferro. Dados aproximados indicam que cerca de 150 mil pessoas morreram entre 1936 e 1943, de acordo com documentos desclassificados e vários historiadores, em tempos da guerra civil e violência generalizada, sofrida tanto por republicanos como por outros opositores e membros de organizações políticas e sindicais.

Numa aplicação duma estratégia política, cultural, social, económica e laboral, aplicaram-se multas, apreensão de activos, arresto de contas bancárias, despedimentos, desqualificação laboral e profissional. Anulou-se a liberdade de expressão mediante a censura aos meios de comunicação social, juntamente com a proibição de reunião e a prisão ou a morte como medidas imparáveis. A repressão era a bandeira.

Em coerência com tal legado, Mariano Rajoy ordenou um pacote repressivo que inclui a obrigação para os autarcas investigados por assegurarem o referendo, comparecer perante juízes e procuradores sob pena de sanções. De igual modo, suspende a autonomia financeira da Catalunha e controla as suas contas, exigindo que os bancos controlem estritamente todos os movimentos do governo catalão e condicionem o pagamento de salários a milhares de funcionários públicos, servidores públicos e fornecedores.

Além disso, a Guarda Civil apreendeu milhares de cartazes de propaganda da Generalitat, notificações para as assembleias de voto e registos de eleitores, tudo no quadro de registos em empresas de distribuição, tipografias e comunicação social, bem como fez detenções arbitrárias.

Não é necessário grande esforço para recordar o regime fascista quando as forças de segurança confiscam urnas, votos e propaganda, fecham sítios de informação sobre o referendo e, até mesmo proíbem actos a favor da consulta, são medidas destinadas a atemorizar. Cabe recordar que o Tribunal Superior da Justiça da Catalunha solicitou à TV3, a televisão pública catalã, que limite a sua informação sobre o referendo de autodeterminação.

A Generalitat, por sua vez, insistiu na continuação do processo e interpôs recurso ao Supremo Tribunal espanhol para evitar a perda de sua autonomia financeira. Oriol Junqueras, vice-presidente do sistema autonómico catalão, expõe que o congelamento de contas tem por objetivo acabar com a autonomia da Catalunha, uma decisão que só poderia ser tomada pelo artigo 155 da Constituição, o que exigiria um debate prévio e uma votação de maioria absoluta no Senado. Juntamente com a comunidade catalã, muitos sectores da Espanha apoiam a luta pelos direitos civis na Catalunha, aos quais são adicionados avisos dos líderes internacionais sobre o caminho que este processo pode levar se não se recorrer à prudência.

Num país onde o neoliberalismo ou o capitalismo selvagem se instalou nos seus limites extremos, especialmente a partir do ex-primeiro-ministro Felipe González - caminho ractificado com Rajoy - e onde estima-se que cinquenta e oito mil novos ricos e um milhão e quatrocentos mil novos pobres são o resultado dos últimos quatro anos, seria preciso perguntar o que aconteceria agora.

No caso da votação for impedida através da violência do Estado, é muito provável que a situação interna se agrave e obrigue a um estado de excepção, recolher obrigatório e mais agressão, devido à resposta previsível dos cidadãos catalães. Como se sabe, os resultados da consulta, antes da repressão de Rajoy, poderiam ter negado a independência; agora é possível que um sector maioritário o aprove, dado os atropelos contra a população, a sua liberdade e os seus direitos.

Também é possível que uma percentagem que se opõe à independência não vá votar, e aumentará com aqueles que temem pelas suas vidas e das suas famílias e as sanções da máquina estatal.

Se a situação ficasse incontrolável, também poderia acontecer que, cooptando o PSOE, o Artigo 155 da Constituição Nacional seria activado para suspender a autonomia da Catalunha e remover todos os poderes transferidos pelo Estado, deixando-a indefesa financeiramente e sem poder real. Tudo isso agravaria a escalada repressiva e consequências imprevisíveis.

Independentemente do resultado, todas as pessoas têm o direito de manifestar o seu próprio pensamento, que pode ser aprovado ou não. Um governo inteligente deve ter a capacidade de concordar com a autonomia em vez de provocar a separação real. Certamente, os catalães, na maioria das vezes, nunca queriam chegar a uma situação extrema como a que levou muitos não-independentistas a considerar seriamente essa alternativa, depois de serem atacados por um governo central que até viola o seu direito ao salário. Assim, o único caminho razoável, próprio de estadistas sérios, é entrar num diálogo para avançar com projectos que garantam o bem-estar da Espanha e a justa autonomia da Catalunha.

Quando algumas cidades amanhecem com cartazes que mostram o ditador Franco pedindo para não votar no referendo independentista, parece ser que um regime herdeiro do franquismo renasceu novamente das cinzas. Carlos Santa María – Chile in “RT”

Tradução "Baía da Lusofonia"

As declarações e opiniões expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor


Carlos Santa María – Director e Professor na Universidade Católica de Valparaíso - Chile, Doutor em Filosofia e Educação pela Universidade de Barcelona, especialista em Estudos Latinoamericanos, Educação e Investigação pela Universidade de Nariño - Colômbia, Psicólogo Social na UNAD – Colômbia. Conferencista, palestrante, escritor, 18 livros publicados em geopolítica, pedagogia e desenvolvimento humano, fundador da Associação de Trabalhadores Sociais e da Comissão de Direitos Humanos - Colômbia

Sem comentários:

Enviar um comentário