Manuel
de Seabra vai ser homenageado hoje em Lisboa. Um merecido tributo a um dos
grandes intelectuais portugueses que deixou a sua marca sem algazarra, em
campos como a escrita, a tradução e o jornalismo. E na rara arte de construir
amizades
Manuel de Seabra – escritor,
jornalista e tradutor emérito – faleceu em meados deste ano, na cidade de
Barcelona, localidade que amava como o seu próprio país, português de origem
lisboeta que era. Mas para revelar toda a verdade sobre este intelectual incomum,
a sua pátria era o mundo. A sua mundividência responde por essa atitude que ele
nunca descorou: homem de muitas pátrias e de uma imensa curiosidade que o fez
ser trota mundos com menor sofrimento possível, aguentando desta feita as
perseguições salazaristas que o obrigaram ao exílio.
Seabra tinha uma queda rara
para línguas, que dominava em catadupa, entre as quais o castelhano, o francês,
o catalão, o russo, o chinês, entre outros. Até esperanto… e que sei eu mais…
Dessa inelutável aptidão, cedo nele apreciada, fez com que fosse um dos
tradutores mais prolíficos do nosso país.
Conheci-o quando privámos no
projecto de obras completas do poeta russo Maiakovski, um atrevimento logo nos
anos posteriores à revolução portuguesa que infelizmente se ficou, então, pela
edição do primeiro volume… Depois fomos falando casualmente, entre eléctricos,
meio de locomoção que utilizava amiúde, entre umas bicas que se prolongavam em
conversatas amenas. Possuía uma cultura imensa, muito para além da mera
curiosidade, sobretudo referência dos seus interesses e dos seus estudos.
Quando regressou das suas
andanças pela Suécia, União Soviética, Brasil, França, Inglaterra – onde foi
jornalista da BBC – regressou à sua terra, e numa curta temporada em 1970, em
dois anos publicou 26 livros, entre livros seus, edições por ele traduzidas que
foram best sellers, dicionários como
o Português-Catalão e o Catalão-Português, de preparou em conjunto com a sua
companheira, Vimala Devi, e ainda as famosas antologias, mormente de poesia
estrangeira, essenciais num Portugal recém saído da ditadura e de mordaça
apertada que castrava tais devaneios.
Falar de Seabra merece a
escrita de um livro biográfico. A sua vasta obra de ficção, ela própria, é por
si mesma digna de realce. Deu ‘cartas’ num procedimento que urgia mas que tardava
a criar-se, no conhecimento das obras de portugueses e catalãs em cada um dos
territórios. A título de exemplos, destaquemos Fèlix Cucurrull, Pera Calders,
Salvador Espriu ou Vítor Mora Pujadas, de um lado, e Torga e Saramago de outro.
Em 2001 a Generalitat de
Catalunya, o governo da pátria catalã, atribuiu a Creu de Sant Jordi, uma
condecoração maior como reconhecimento ao seu contributo na difusão da cultura
catalã. Agora, depois de o seu passamento ter passado quase ignorado ao tempo
do falecimento no passado maio, é tempo de uma homenagem lisboeta, organizada
pelo delegado do governo da Catalunha em Portugal, Ramon Fon, ao insigne
português que amava a vida, o mundo … e Barcelona!
A sessão de homenagem decorre
hoje, 06 de setembro, na numa sessão na Livraria Ferin, na Rua Nova do Almada.
Participam Ramon Font, delegado do Governo da Catalunha, o escritor Joaquim
Murale, o poeta Fernando Pinto do Amaral, Pere Ferré, vice-reitor da
Universidade do Algarve e Manuel Forcano, director do Institut Ramon Llull. António Neves – Portugal in “Expresso”
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