SÃO PAULO – Não
deixa de ser curioso que, num momento em que a Organização Mundial do Comércio
(OMC), com sede em Genebra, é dirigida pelo diplomata brasileiro Roberto de
Azevêdo, o Brasil corra o risco de ser condenado por adotar programas
industriais protecionistas que são nitidamente contrários às normas aceitas
pelo comércio internacional. Obviamente, nada disso ocorre por empenho do
diplomata que, agora no primeiro ano de seu segundo mandato à frente do
organismo, tem a obrigação de defender os princípios que regem a entidade, cuja
existência sempre foi a de evitar uma escalada protecionista no mundo.
Diga-se, de
passagem, que, se a condenação do Brasil vier a se confirmar – fato de que
ninguém duvida –, culpa cabe exclusivamente à maneira equivocada como a
política comercial externa foi desenvolvida nos 13 anos e meio de lulopetismo.
Primeiro, foi a maneira sibilina como o governo brasileiro se comportou nas
negociações para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca),
proposta em 1994 pelo governo norte-americano, trabalhando nos bastidores com
os governos argentino e venezuelano para a inviabilização daquele possível
bloco econômico, o que se deu em novembro de 2004.
O que os líderes
dos países sul-americanos diziam é que, com a Alca, a indústria norte-americana
iria oferecer produtos a preços mais baixos no continente latino-americano,
levando ao fechamento de fábricas e ao desemprego. O que se viu, porém, é que,
com o fracasso da Alca, os produtos manufaturados brasileiros perderam espaço
no mercado norte-americano, o maior do mundo, o que, de fato, tem resultado no
fechamento de indústrias e contribuído para o aumento do desemprego no País.
Agora, vê-se que
a condenação do Brasil é resultado também daquela política equivocada, pois o
processo da OMC é contra sete programas industriais que foram criados quase
todos durante o período petista, levando em conta critérios de política
industrial anacrônicos, que estabeleceram incentivos fiscais da ordem de R$ 25
bilhões para alguns setores privilegiados, sem que se conheçam até hoje os
benefícios que tenham produzido.
Excessivamente
protegidos, alguns setores industriais não têm investido em inovação, o que só
tem contribuído para a perda de competitividade do manufaturado brasileiro. Com
isso, o produto nacional tem-se limitado a encontrar espaço em mercados
próximos.
Para piorar,
essas políticas de incentivos fiscais têm contribuído para tornar mais
nebulosas as relações entre as empresas e o governo, pois a busca de favores
fiscais naturalmente passa por relações promíscuas entre empresários (ou seus
prepostos) e aqueles que podem ajudar a que sejam concedidos, como têm mostrado
as várias etapas da Operação Lava Jato. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São
Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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