Com
US$ 8,5 bilhões em 2017, China aumenta participação em fusões e aquisições no
Brasil. Até setembro, 35% do valor usado por empresas estrangeiras para
operações no Brasil veio de companhias chinesas, mostra levantamento; maior
interesse é por áreas de energia e infraestrutura
Os chineses foram os grandes
vencedores do leilão de quatro usinas hidrelétricas realizado nesta
quarta-feira (27). O grupo Spic arrematou a usina de São Simão por R$ 7
bilhões, no maior negócio do pregão. As petroleiras chinesas também marcaram
presença na primeira rodada de leilão de óleo e gás realizada no mesmo dia. A
participação de investidores da China é cada vez mais frequente no Brasil e
deve aumentar ainda mais, de acordo com especialistas ouvidos pelo G1.
A China intensificou as
compras de empresas brasileiras neste ano. Até setembro, 12% das companhias
vendidas tiveram um grupo chinês como comprador, em negócios que somam US$ 8,5
bilhões, aponta estudo da consultoria britânica Dealogic. O levantamento não
inclui os investimentos fechados nesta quarta-feira por grupos chineses no
Brasil.
Esse movimento é muito mais
intenso do que nos anos anteriores. Entre 2009 e 2016, a fatia de investimentos
chineses nunca superou 4% do volume investido em fusões e aquisições no Brasil.
Mas, neste ano, 35% do valor gasto por estrangeiros em aquisições no Brasil
veio dos chineses.
Para especialistas, a
tendência é de crescimento dos investimentos chineses no Brasil. “Para este
ano, existe uma expectativa grande (de negócios) em relação ao setor de
infraestrutura e energia. A gente tem acompanhado negociações com empresas como
State Grid, CCCC e outras. Fora, eventualmente, alguns investimentos em outros
setores, como tecnologia”, resume Tulio Cariello, coordenador de análise do Conselho
Empresarial Brasil-China (CEBC).
Energia
e infraestrutura entre setores mais atrativos
O setor de energia foi o que
mais atraiu investidores chineses no Brasil no ano passado, de acordo com a
CEBC. Neste ano, a procura continua forte.
A Pacific Hydro Brasil, do
grupo chinês Spic, levou o maior negócio no leilão desta quarta-feira (27). A
empresa já tem parques eólicos no Nordeste desde 2007 e avalia comprar ativos
de geração de energia, como hidrelétricas e eólicas. "Temos interesse em
expandir no país, então sim, vamos estudar os próximos leilões", afirmou a
presidente da Pacific Hydro Brasil e representante do grupo SPIC no país,
Adriana Waltrick.
Não faltam exemplos de
aquisições na área de energia. No início do ano, a chinesa State Grid, a maior
empresa do setor elétrico do mundo, concluiu a aquisição de 54,64% da CPFL
Energia, passando a ser o acionista controlador. O valor da operação foi de aproximadamente
R$ 14 bilhões. Outra chinesa, a State Power fez, em junho, uma oferta para
comprar a participação da elétrica mineira na Madeira Energia, na usina
hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia.
Os chineses também foram
protagonistas de grandes negócios na área de infraestrutura. Neste ano, a HNA
Infraestrutura comprou a fatia da Odebrecht no aeroporto do Galeão, no Rio de
Janeiro - outra empresa do grupo já é a maior acionista da companhia aérea
Azul.
"A transação, que marca o
primeiro projeto estratégico da HNA Infraestrutura na América Latina, deverá
melhorar significativamente os passos e recursos da HNA no exterior,
especialmente na América Latina", disse à época da transação o presidente
da empresa, Guanghui Ma, ao jornal "China Daily".
Preferência
por aquisições
Os chineses têm uma predileção
por comprar ativos locais, em vez de construir algo do zero. Os dados do
Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) apontam que as fusões e aquisições
foram 53% dos investimentos chineses no Brasil em 2016, enquanto as instalações
de novas empresas responderam por 27% e as sociedades com empresas locais
(joint venture), por 20%.
O relatório do explica que a
facilidade em operar a partir de empresas já consolidadas no mercado doméstico
justifica a preferência dos chineses por fusões e aquisições. Ele ressalta, no
entanto, que há interesse para novos investimentos vindos da China, tanto por
parte dos chineses quanto dos brasileiros.
Busca
de investimentos
O governo brasileiro tem
buscado atrair o capital chinês. O presidente Michel Temer esteve na China no
fim de agosto para convidar os investidores do país a participar do programa de
concessões e fechar acordos para facilitar o investimento chinês no Brasil. E
não foi o único. Só nas últimas duas semanas também viajaram para a China os
governadores do do Ceará, Camilo Santana (PT), e do Pará, Simão Jatene (PSDB).
Santana se reuniu com o grupo
chinês CHINT Group, interessado em implantar uma unidade da empresa de energia
na Zona de Processamento de Exportação (ZPE). “Eles querem visitar nosso estado
e mandarão, em breve, técnicos e engenheiros para conhecerem a ZPE”, disse o
governador em nota após a reunião.
O governador cearense também
se reuniu com representantes da empresa estatal chinesa Meheco e assinou um
segundo memorando de entendimento para financiar investimentos no estado na
área de saúde. Entre as ações em negociação está a instalação de unidade para
fabricação de montagem de máquinas de alta complexidade e imagens, como
tomógrafos, raios-x e ultrassons. A empresa quer investir US$ 4 bilhões no
projeto.
O governador do Ceará, Camilo
Santana, assina acordo com Gao Yuwen, presidente da estatal chinesa Meheco, em
Pequim (Foto: Divulgação)
“Futuramente, vamos procurar
mais estados”, diz a representante da empresa no Brasil, Wang Shu Wei. Ela
apontou ao G1 que vê potencial na recuperação da economia. “Pela minha visão, e
eu fiquei 30 anos no Brasil, a economia e os negócios do país têm um futuro
muito grande”, afirma. “Para a China, o Brasil é um país muito importante. E
vai ter bastante negócio entre esses dois países. Essa é a minha função”, diz a
empresária chinesa.
Já o governo do Pará quer
atrair o interesse chinês para a licitação de uma ferrovia de mais de 1,3 mil
km, orçada em R$ 14 bilhões. O governador apresentou o projeto a investidores
chineses, entre eles a grande empresa de construção civil China Communications
Construction Company (CCCC).
“Temos que buscar interessados
em participar da licitação”, disse ao G1 Adnan Demachki, secretário de
Desenvolvimento Econômico do Pará. "Deixamos claro que, no momento em que
vivemos, é preciso um esforço conjunto entre Estado e iniciativa privada",
afirmou em nota o governador Jatene após o encontro com executivos da CCCC,
incluindo o presidente da empresa para a América Latina, Chang Yunbo.
O governador do Pará, Simão
Jatene, cumprimenta o presidente da CCCC para a América do Sul, Chang Yunbo, em
Pequim (Foto: Divulgação)
A CCCC, neste ano, também
assinou acordo de investimento para construir um terminal portuário em São
Luís, no Maranhão, em um projeto orçado em R$ 1,7 bilhão. Segundo relatório de
2016 do CEBC, o sócio chinês conta com aporte de R$ 400 milhões destinados à
construção do projeto.
No ano passado, o estado que
mais fechou projetos com investidores chineses foi de São Paulo, de acordo com
o CEBC. Segundo a Investe SP, desde 2010, já foram efetivados R$ 3 bilhões em
10 investimentos chineses no estado.
O governador de SP, Geraldo
Alckmin, com a comitiva chinesa responsável pela fabricação dos novos trens
(Foto: Divulgação)
O governador Geraldo Alckmin
(PSDB) assinou neste mês o contrato para fabricar oito composições para a
Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Quem venceu a licitação foi
o consórcio Temoinsa-Sifang, da China, que apresentou orçamento de R$ 316
milhões.
Michela Chin, sócia da
PricewaterhouseCoopers (PwC), lembra que o Brasil fechou 35 acordos de negócios
com a China em 2015, envolvendo US$ 53 bilhões em potenciais investimentos. Karina Trevizan – Brasil in “G1”
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