Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 31 de maio de 2024

Macau - Acervo digital do jornal Ponto Final cedido ao Instituto Internacional da Língua Portuguesa e ao Instituto Português do Oriente

A PraiaGrande Edições, proprietária do Ponto Final, assinou um protocolo tripartido com o Instituto Português do Oriente (IPOR) e com o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), de forma a ceder o acervo digital do jornal. O objectivo é permitir a investigação e a elaboração de materiais por parte dos dois institutos


A PraiaGrande Edições, o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e o Instituto Português do Oriente (IPOR) assinaram um protocolo tripartido que estipula que a detentora do jornal Ponto Final cede, de forma gratuita, aos dois institutos um acervo digital composto por todas as edições do jornal existentes naquele formato, para fins de investigação e elaboração de materiais.

No caso do IILP, o instituto que, sob a égide da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), tem por missão a promoção da língua portuguesa numa perspectiva multilateral, este acervo vai integrar o ‘corpus’ que o IILP tem em constituição do português jornalístico de países de língua portuguesa e da RAEM, que reúne idênticos acervos que estão a ser recolhidos em jornais noutros países.

Conforme o acordado e nas condições estipuladas, o IILP poderá disponibilizar o acervo que lhe é agora cedido a infraestruturas de investigação para a ciência e tecnologia da Linguagem – nomeadamente, a Portulan Clarin, da qual o IILP é entidade colaboradora -, que o tratarão e o tornarão acessível a investigadores e desenvolvedores de tecnologia.

O banco de dados deste modo constituído poderá, assim, passar a alimentar ferramentas de tratamento automático de textos, de processamento da linguagem natural e, em particular, de recursos computacionais de inteligência artificial generativa, bem como a apoiar estudos e investigação na área da lexicologia e da variação linguística, entre outras, “tendo presente a importância de que tal se reveste para o fortalecimento do posicionamento da língua portuguesa nesses domínios das tecnologias das línguas e para os estudos do português como língua pluricêntrica”, lê-se na nota de imprensa sobre o acordo.

No caso do IPOR, o acordo prevê a cedência gratuita do acervo do jornal Ponto Final para efeitos de elaboração de materiais didáticos para o ensino de português, que constitui uma das áreas fortes no trabalho de promoção do ensino e da aprendizagem da língua portuguesa que este instituto desenvolve na RAEM e no interior da China e no apoio que presta a vários docentes e instituições de ensino superior de outros países desta região do mundo onde se ensina português.

O acordo é válido por três anos e juntará as publicações editadas até esta data àquelas que forem produzidas durante o período de vigência do protocolo. No acto de assinatura, as três entidades estiveram representadas por Ricardo Pinto, administrador da PraiaGrande Edições Lda., João Neves, director executivo do IILP, e Patrícia Quaresma Ribeiro, directora do IPOR. In “Ponto Final” - Macau


Timor-Leste - Vai criar um Parque Marinho em Ataúro para promover a economia azul

O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, anunciou na terça-feira a criação de um Parque Marinho em Ataúro, situado em frente a Díli, para promover a economia azul no país e pediu a ajuda dos parceiros internacionais.


O anúncio foi feito durante a IV Conferência Internacional dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, que decorre em Antígua e Barbuda, numa sessão sobre revitalização da economia de forma sustentável. “A iniciativa que Timor-Leste deseja anunciar publicamente nesta conferência é que queremos acelerar o desenvolvimento económico sustentável com a criação de um Parque Marinho na ilha de Ataúro”, afirmou Xanana Gusmão, citado num comunicado do seu gabinete enviado à imprensa.

Segundo o líder do Governo, a iniciativa vai contribuir para a conservação ambiental marinha e promover uma economia azul sustentável, criando postos de trabalho para os timorenses. Mas, segundo Xanana Gusmão, para concretizar a iniciativa é preciso “realizar pesquisas científicas e estudos sobre biodiversidade, desenvolver infraestruturas para proteger os recifes tropicais e criar uma estrutura de governação para uma economia azul”. “Não podemos fazer aquilo sozinhos. Precisamos de cooperação e parcerias internacionais”, afirmou o chefe do Governo timorense, salientando que espera que o desenvolvimento da economia azul em Timor-Leste seja um modelo de desenvolvimento sustentável para outros estados insulares.

Timor-Leste é dos países do mundo com maior biodiversidade marinha. A ilha de Ataúro, situada a 25 quilómetros a norte de Díli e com cerca de 10000 habitantes, tem o maior número médio de peixes de recife e corais fossilizados e é também um local frequentemente visitado por várias espécies de baleias e golfinhos. In “Ponto Final” - Macau


quinta-feira, 30 de maio de 2024

Brasil - Atribuiu quase 3950 autorizações de residência e 837 vistos temporários CPLP

Autorizações de residência só podem ser pedidas por nacionais da CPLP que já estejam no Brasil. Os vistos temporários CPLP duram um ano e estão abertos a estudantes, desportistas e empresários

O Brasil atribuiu 3947 autorizações de residência CPLP entre setembro de 2023, quando entraram em vigor no país as modalidades de vistos da comunidade lusófona, e março deste ano, e 837 vistos temporários até maio, segundo dados oficiais.

De acordo com os dados da Polícia Federal do Brasil, facultados à Lusa pela missão diplomática deste país junto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), desde a publicação da portaria interministerial 40/2023, de setembro do ano passado, até março deste ano, o país emitiu 3947 autorizações de residência, a maior parte das quais passadas a cidadãos angolanos, ou seja, 2396.

Em segundo lugar, durante igual período, ficaram os cidadãos da Guiné-Bissau, aos quais foram atribuídas 873 autorizações de residência CPLP no Brasil.

Aos portugueses, o Brasil concedeu 393 autorizações de residência CPLP e a moçambicanos 118. Quanto a autorizações de residência passadas aos cabo-verdianos, a Polícia Federal brasileira regista naquele período 110 vistos CPLP.

Para os nacionais de São Tomé e Príncipe, há registo de apenas 45 autorizações de residência CPLP concedidas pelo Brasil e para cidadãos oriundos da Guiné Equatorial 11. Naquele período, só não há registo de autorizações de residência passadas a timorenses.

Já os vistos temporários CPLP, passados por um período de um ano, segundo dados globais do Ministério da Justiça do Brasil, a que a Lusa teve acesso pelo Ministério das Relações Exteriores do país (Itamaraty), só nos últimos quatro meses de 2023 atingiram um total de 344. Mas até maio deste ano, o Brasil emitiu mais 493 registos, atingindo um total de 837 vistos temporários CPLP.

A portaria interministerial 40, do Ministério da Justiça e do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, de 1 de setembro de 2023, é o diploma que regula a concessão dos vistos temporários e autorizações de residência a nacionais da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), no âmbito do Acordo de Mobilidade aprovado e assinado entre os nove Estados-Membros daquela organização na Cimeira de Chefes de Estado e de Governo, que decorreu a 17 de julho de 2022 em Luanda, ou seja, “Visto de Residência CPLP” e “Residência CPLP”.

De acordo com o diploma, o Estado brasileiro concede os vistos temporários por um ano para professores, investigadores, empresários, agentes culturais, desportistas e estudantes, no âmbito de programas de intercâmbio reconhecidos pelo país de origem e o Estado de acolhimento.

Este visto temporário é concedido, exclusivamente, pelas Embaixadas do Brasil situadas em Luanda, Praia, Bissau, Malabo, Maputo, São Tomé e Díli, e pelos Consulados-Gerais do Brasil situados nas cidades portuguesas de Lisboa, Faro e Porto.

O requerimento de visto temporário deve ser apresentado à autoridade consular acompanhado, entre outros documentos, de atestado de antecedentes criminais passado pelo país de residência relativo aos últimos cinco anos e o comprovativo de meios de subsistência.

Já a autorização para residência só está ao alcance dos nacionais de Estados-membros da CPLP que já se encontrem em território brasileiro, independentemente da condição migratória em que tenham entrado no território brasileiro, e deve ser pedido numa unidade da Polícia Federal brasileira.

Mas, também o imigrante que solicita a autorização de residência no Brasil tem de ter o cadastro criminal limpo e provar que dispõe dos meios necessários de subsistência, entre outros critérios exigidos.

A autorização de residência CPLP passada pelo Brasil tem a duração inicial de dois anos.

Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os nove Estados-membros da CPLP. InObservador” – Portugal com “Lusa”


Brasil - Privatizar as praias é inconstitucional, diz especialista

Continuamos nas águas. Depois das inundações no Rio Grande do Sul, agravadas pelo desrespeito do governo estadual às normas ambientais e pela anulação de leis reguladoras em caso de excesso de chuvas, para favorecer plantadores de soja, criadores de bovinos, madeireiros, construtores imobiliários, entre outros, agora é a vez das águas salinas do nosso litoral.

As costas brasileiras com a beleza de suas praias cantadas por músicos e poetas sempre chamaram a atenção de navegadores e turistas. E acabaram por despertar a atenção e a gula de alguns políticos, talvez impressionados com a gratuidade dessas áreas, verdadeiros lugares paradisíacos que, se bem administrados, poderiam render milhões aos seus proprietários.

Em síntese, foi assim o surgimento da Proposta de Emenda Constitucional PEC-39|2011, de autoria dos deputados Arnaldo Jordy PPS-PA, José Chaves PTB-PE e Zoinho PR-RJ. Essa proposta põe fim aos terrenos chamados de marinha, extensões com 33 metros de largura a partir da maré alta nas praias ou ilhas e da cheia nas margens dos rios, que passam a pertencer gratuitamente aos Estados ou municípios. Essa PEC já foi aprovada há dois anos pela Câmara federal e agora está no Senado, bem perto de se transformar em lei. Se houver veto do presidente Lula, mais do que provável, a PEC retornará ao Senado e só deixará de ser lei, caso haja recurso ao STF por inconstitucionalidade.

E qual o problema se essas áreas pertencentes à União ou ao governo federal, sujeitas a inundações, não são habitáveis? Ora, a imprensa em geral, os canais independentes e as redes sociais estão dando destaque porque, embora a justificativa da proposta da PEC-39|2011, agora PEC-3|2022 não diga, trata-se de uma artimanha para se chegar ao objetivo de se privatizar o litoral brasileiro e restringir seu acesso.

Em outras palavras, a proposta de emenda constitucional quer tirar do povo a utilização gratuita das praias, tornando-as pagas, tornando restrito ou pago o banho de sol à beira do mar, entrar na água e furar as ondas. Será o fim de um dos poucos prazeres gratuitos dos pobres, se bronzear e nadar numa bela praia. Os grandes empreendimentos hoteleiros, os Cancuns da vida, querem cercar as melhores praias, tornando-as privativas de seus hóspedes. Já houve no passado tentativas de condomínios de Paraty e da região de Laranjeiras de cercarem a área das praias, impedidas pela Justiça.

Mas não só os banhistas pobres de fim-de-semana que perderão o direito de jogar um futebol na areia, serão também proibidos os vendedores ambulantes e os donos de barracas com água, sucos e sanduíches. A privatização do litoral criará empecilhos aos pescadores, aos surfistas, impedirá o acesso às ilhas e estragará o domingo de muita gente. Impedirá também o controle ambiental de áreas litorâneas como mangues e pantanais.

O relator da PEC é o senador Flávio Bolsonaro, que nega haver a intenção deliberada de se privatizar as praias. Uma volta pelas redes sociais, exceto as bolsonaristas, mostra haver um clima de grande preocupação e a possibilidade de se mobilizar o povo contra a aprovação dessa PEC que, sem dúvida, levará ao absurdo de tornar as praias pagas. O Observatório do Clima qualifica essa PEC como Pacote da Destruição, no caso destruição ambiental.

O ex-presidente Bolsonaro sempre apoiou essa PEC, pois um de seus sonhos privatistas era o de transformar a praia de Angra dos Reis numa Cancun brasileira. Ele queria atrair sheiks árabes, artistas, milionários, jogadores de futebol, empresários, que poderiam ter sua casa à beira do mar com praia privada protegida com muros ou cerca!

Como acentuou Leonardo Sakamoto, no UOL "a praia é um dos raros espaços democráticos do país, um espaço de entretenimento em que ricos e pobres compartilham o espaço, por mais que tenha rico com nojo de pobre e que adoraria ver isso fechado. A grande tentativa dessa história é a de se lotear as praias e de a gestão delas para grupos privados. Se isso for aprovado pelo Senado será um retrocesso absurdo. Mas a tendência é ser aprovado, dado o tamanho interesse econômico nisso".

De acordo com o advogado Thiago de Paula, doutor em Direito Constitucional, em entrevista ao canal Metrópoles, essa questão já foi tratada indiretamente pelo Supremo Tribunal Federal ao julgar o recurso extraordinário 636199, do qual foi relatora a ministra Rosa Weber, relacionado com a Emenda Constitucional 462005 e envolvendo ilhas de importância para o território brasileiro. No caso se considerou a regulação dessas propriedades da União como cláusulas pétreas da Constituição, que não poderiam ser modificadas.

Ou seja, se a questão das terras de Marinha for levada ao STF é certo que seus ministros considerarão a PEC como inconstitucional por ferir uma questão muito sensível do ponto de vista federativo relacionada com a segurança e a proteção ambiental das costas brasileiras. Rui Martins – Suíça

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.




quarta-feira, 29 de maio de 2024

Internacional - Descobertos gelos de CO2 e de monóxido de carbono nos confins do Sistema Solar

Um estudo internacional, em que participa Nuno Peixinho, investigador do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) de Coimbra, revela uma vasta presença de antigos gelos de dióxido de carbono (CO2) e monóxido de carbono (CO) em Objetos transneptunianos (TNOs), sugerindo que o CO2 pode ter existido na formação do nosso Sistema Solar.


Esta investigação, publicada na Nature Astronomy, sugere que o gelo de CO2 era abundante nas regiões exteriores frias do enorme disco de gás e poeiras em rotação a partir do qual se formou o nosso Sistema Solar, normalmente conhecido por disco protoplanetário.

Os investigadores descreveram a deteção de dióxido de carbono em 56 TNOs e monóxido de carbono em 28, de uma amostra de 59 objetos observados com o novo Telescópio Espacial James Webb (JWST). De acordo com o estudo, o dióxido de carbono está presente nas superfícies de virtualmente toda a população transneptuniana, independentemente das suas famílias e do tamanho do corpo, enquanto o monóxido de carbono foi detetado apenas em objetos com alta abundância de dióxido de carbono.

«É a primeira vez que observamos um grande número de TNOs na região do infravermelho, que não nos é acessível com telescópios na superfície da Terra, então, de certa forma, tudo o que vimos com a análise dos dados obtido com o JWST é impressionante e único», considera Nuno Peixinho, coautor do estudo.

«Não esperávamos descobrir que o dióxido de carbono fosse tão omnipresente na região para além de Neptuno, a Cintura de Kuiper, e menos ainda que o monóxido de carbono estivesse presente em tantos TNOs. Esta descoberta pode ajudar-nos ainda mais a compreender a formação do nosso Sistema Solar e como estes pequenos objetos celestes podem ter migrado de umas regiões para outras, algo que sabemos ter acontecido, mas que ainda tem muitas pontas soltas», acredita o investigador da FCTUC.

Os Objetos transneptunianos, que orbitam o Sol na Cintura de Kuiper, situada para além de Neptuno, são relíquias muito bem preservadas do processo de formação planetária. Estas descobertas ajudam a impor restrições importantes sobre onde esses objetos foram formados no Sistema Solar primordial, como chegaram à região que habitam hoje e como as suas superfícies se alteraram e evoluíram desde a sua formação. Como se formaram e sempre se encontraram a grandes distâncias do Sol, e são bem mais pequenos que os planetas, contêm ainda a informação original e não processada sobre a composição original do disco protoplanetário, daí serem considerados verdadeiros “fósseis” do Sistema Solar.

Segundo o estudo, o dióxido de carbono é comumente encontrado em muitos objetos do nosso sistema solar. As possíveis razões para a falta de deteções anteriores de gelo de dióxido de carbono em TNOs incluem não só as fortes limitações observacionais no infravermelho, como o dióxido de carbono estar essencialmente enterrado sob camadas de outros gelos menos voláteis, como o gelo de água, ou outro material refratário/rochoso, ou mesmo devido à sua recombinação com outras moléculas em consequência da permanente irradiação cósmica que estão sujeitas.

«A descoberta simultânea de dióxido de carbono e monóxido de carbono nos TNOs parece ser algo natural, mas ao mesmo tempo levanta muitas questões. Embora o dióxido de carbono tenha provavelmente sido acumulado logo da nuvem que gerou o nosso disco protoplanetário, a origem do monóxido de carbono é mais incerta», ressalva o astrofísico.

«O CO é um gelo muito volátil mesmo nas muito frias superfícies dos TNOs. Não podemos descartar a possibilidade de o monóxido de carbono ter sido originalmente acumulado e de alguma forma ter sido retido até à presente data. No entanto, os dados sugerem que o mais provável é ter sido produzido pela irradiação de outros gelos contendo carbono não sendo, portanto, verdadeiramente original», conclui.

Este trabalho faz parte do programa Discovering the Surface Compositions of Trans-Neptunian Objects (DiSCo-TNOs), liderado pelos cientistas planetários Mário Nascimento De Prá e Noemí Pinilla-Alonso, do Florida Space Institute (FSI) da Universidade da Flórida Central. Universidade de Coimbra - Portugal


Angola - Parque Nacional do Iona ainda está longe dos congéneres da região

Apesar das enormes diferenças entre os serviços disponíveis dentro do Iona e nos tradicionais parques naturais e zonas de conservação da Namíbia ou África do Sul, a província do Namibe apresenta vantagens comparativas, ao nível do acesso e dos preços das viagens, para os turistas angolanos


Apesar da gestão privada, que assumiu as rédeas em Fevereiro de 2020, quando foi concretizada a parceria entre o Governo e a ONG African Parks, factores como a pandemia e a ausência de infra-estruturas turísticas e de lazer têm atrasado a recuperação dos 15 150 quilómetros quadrados de reserva e dificultado o fomento da actividade económica no interior do Parque Nacional do Iona, onde actualmente vivem cerca de 7000 pessoas, naquela que é uma realidade ainda distante dos maiores parques naturais da região Austral.

Tanto no Parque Nacional de Etosha, na Namíbia, como no famoso Parque Kruger, na África do Sul, a oferta de safaris (passeios guiados para observar a vida animal) e de alternativas dentro das reservas para acomodação dos turistas é vasta e inclui diversas possibilidades para casais, famílias, empresas e outros grupos de visitantes.

Para os turistas internos, a grande vantagem do Parque Nacional do Iona está na proximidade e no preço - uma viagem de avião entre Luanda e Moçâmedes ronda os 100 mil Kz por pessoa, menos de um terço da ligação para Windhoek (Namíbia) e cerca de 15% do bilhete para Joanesburgo (África do Sul) -, para além da possibilidade de (re)descobrir o País. Em 2022, a reserva recebeu 998 visitantes.

"A vertente económica da nossa gestão é a que está mais atrasada. Mas antes de olharmos para o turismo precisávamos de ter tudo o resto a funcionar", justifica Pedro Monterroso, director do Parque Nacional do Iona, em conversa com o Expansão.

A abordagem geral da African Parks é sustentada em três vertentes: conservação da biodiversidade, desenvolvimento comunitário e geração de receitas e de oportunidades económicas. No último caso, as acções de cariz económico são importantes para sustentar e encaminhar recursos financeiros para a conservação, melhoria das condições de vida e de trabalho no interior dos parques.

O objectivo da organização "passa por valorizar aquilo que o Iona tem" e por "criar fontes de financiamento com a mínima dependência do Estado", explica Pedro Monterroso, que anunciou o início de um período de transição para que seja possível cobrar as taxas de acesso aos parques nacionais definidas recentemente. No futuro, o Iona deve ter uma tabela de acesso com preços específicos.

"O parque está aberto ao público e recebe visitantes com regularidade. Aconselhamos apenas que os visitantes contactem os nossos serviços com alguns dias de antecedência para adiantar e facilitar o processo de entrada no parque. Em termos de estadia, o acampamento é, por enquanto, a única possibilidade", descreve o responsável recrutado pela African Parks.

Nos próximos meses também está prevista a realização de obras de benfeitoria para melhorar as zonas de campismo e a identificação de possíveis parceiros para a construção de lodges no interior do Parque Nacional do Iona, ainda que o modelo de trabalho para concretizar estes investimentos não esteja totalmente definido.

"Estamos em conversações com o Governo para encontrar a melhor solução. Tipicamente, a African Parks identifica parceiros para investir na vertente mais turística, mas também pode avançar para um lodge próprio. Ou até desenvolver as duas possibilidades: investir nas suas instalações em determinada zona da reserva, enquanto outros investidores apostam noutras áreas dentro do parque", sublinha Pedro Monterroso.

História e números

A renovada base, que foi inaugurada com a presença de João Lourenço no último fim-de-semana, vai servir apenas a African Parks e as equipas de gestão do empreendimento. Naquela ocasião, Monterroso divulgou que desde o início da gestão privada já foram investidos mais de 10 milhões USD em infra-estruturas para o parque, recrutamento de pessoal, entre outras actividades.

De acordo com o relatório anual da ONG relativo a 2022, desde o início da parceria - o acordo firmado com o Ministério do Ambiente tem a duração de 20 anos - as despesas operacionais e de capital aumentaram 66% e os custos com os trabalhadores subiram 71%. Neste formato de parceria público-privada, o Estado (via Ministério do Ambiente e Instituto Nacional da Biodiversidade e Conservação) mantém a titularidade da reserva, mas assume um modelo de co-gestão operacional e financeira com a entidade privada. Miguel Gomes – Angola in “Expansão”


Macau - Francisco Ricarte apresenta exposição de fotografia seguida de workshop para jovens iniciantes na arte

Um fim-de-semana cheio de actividades para todos os amantes da fotografia. O arquitecto e fotógrafo Francisco Ricarte apresentará dois dias de imersão na arte da imagem, através de uma exposição que pretende incentivar os jovens a ganhar mais interesse pela fotografia e um workshop que demonstrará o ofício na prática. Uma organização da Casa de Portugal em Macau (CPM) e com patrocínio da Fundação Macau, estes dois eventos fazem parte do programa “Junho, Mês de Portugal na RAEM”. A exposição inaugura este sábado, dia 1 de Junho, às 17h. No dia seguinte, a primeira sessão do workshop dará início às 10h30. Ambos eventos serão realizados na Casa Garden


O mês de Junho arranca com uma série de novas actividades culturais que marcam as celebrações do Dia de Portugal, anualmente comemorado no dia 10 de Junho. Para inaugurar a entrada no primeiro dia do mês com uma pertinente contribuição para o âmbito artístico de Macau e em celebração ao Dia Mundial da Criança, Francisco Ricarte, arquitecto e fotógrafo, apresenta dois eventos inteiramente ligados à arte da fotografia, uma exposição e um workshop, dividido em duas sessões.

A exposição leva o nome “Para os olhos dos jovens (de espírito)” e reúne 23 registos fotográficos, que pretendem instigar um interesse mais aprofundado pela fotografia aos jovens iniciantes na arte. Com imagens a apresentar intrigantes momentos corriqueiros e situações inesperadas do dia-a-dia, carregam em si algum humor e ironia, que dessa forma poderão captar a atenção da camada mais jovem da população e surpreender os espectadores mais velhos – jovens de espírito – através da curiosidade e da brincadeira.

Por entre as fotografias de rua, o fotógrafo também incluiu registos de performances de grande intensidade coreográfica e visual, para não só apresentar o lado mais sensível da fotografia, como introduzir os espectadores ao poder pictórico da produção de imagens.

“A fotografia, pela sua imensa abrangência e possibilidades criativas, tem sido um instrumento fundamental no desenvolvimento das artes visuais”, diz Ricarte. Ultimamente, tem sido figura central na divulgação da fotografia como arte independente e influente no âmbito das artes visuais existentes em Macau. Membro fundador da associação Halftone, tem vindo a realizar várias exposições e eventos que contribuem para a expansão desta prática como forma de expressão entre o público da região.

“Sob variadas abordagens estéticas e tecnológicas, esta forma de expressão artística (a fotografia) tem-nos dado a conhecer facetas tão fascinantes e diversificadas, como o meio natural e construído que nos rodeiam, bem como das nossas aspirações e manifestações culturais, entre muitas outras facetas da condição humana”, esclareceu.

Foi através deste deslumbre, por uma prática aparentemente banal nos tempos de hoje, que o artista pretende demonstrar o universo de possibilidades e a influência que uma boa fotografia pode ter na sociedade.

Para complementar este primeiro dia de imersão na arte de Francisco Ricarte, a Casa de Portugal em Macau, que está activamente envolvida na organização e divulgação de actividades artísticas durante este próximo “Mês de Portugal”, em conjunto com o apoio financeiro da Fundação Macau, decidiu organizar, para além da exposição, duas sessões de aprendizagem da prática da fotografia, que instigará os jovens participantes a aplicarem os conhecimentos adquiridos com as obras observadas no dia anterior.

Com Francisco Ricarte como monitor, os workshops de domingo, dia 2 de Junho, são divididos em duas sessões de duas horas cada uma, com a primeira direccionada para jovens entre 8 e 11 anos, a dar início às 10h30 da manhã. A segunda sessão dá início às 15h e é aberta a jovens a partir dos 12 anos de idade. Máquinas fotográficas Polaroid serão disponibilizadas aos participantes pela organização. As sessões são limitadas a 10 vagas cada uma, e a CPM sugere reservar com antecedência a inscrição, através dos contactos que podem ser encontrados no programa “Junho, Mês de Portugal na RAEM”.

Para além da CPM, estes dois eventos recebem o apoio institucional do Consulado Geral de Portugal em Macau, AICEP, Fundação Oriente e IPOR. Elói Carvalho – Macau in “Ponto Final”


Macau - ARTM apresenta exposição com artistas da comunidade lusófona na galeria “Hold On to Hope”

Múltiplas visões no trajecto das origens. A exposição “Traçando Raízes Portuguesas” inaugura este domingo na Galeria Hold On to Hope. Uma organização da ARTM que reúne renomados artistas da comunidade lusófona, numa celebração à identidade partilhada através da língua e das tradições. Parte do programa de eventos e actividades do “Junho, Mês de Portugal” dará início à sua cerimónia de abertura às 16h na Vila de Nossa Senhora, em Ká-Hó


A Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau (ARTM) apresenta uma nova colecção de obras, de artistas residentes em Macau, com ascendência portuguesa ou com ligação à comunidade lusófona. A exposição leva o nome “Traçando Raízes Portuguesas” e pretende divulgar as diferentes visões dos artistas sobre esta identidade e a relação que têm com o espaço em que convivem, o território multicultural que é Macau.

O projecto “Hold On to Hope Project” tem vindo a organizar múltiplas intervenções culturais e projectos sociais no espaço da antiga leprosaria de Ká-Hó. As várias casas em estilo colonial, em tempos, acomodaram a primeira instituição na Ásia direccionada ao tratamento de vítimas de lepra, sob o sistema médico ocidental, estabelecida em 1568 por Melchior Carneiro. Após a restauração das cinco casas amarelas, bem como da Igreja da Nossa Senhora das Dores, os novos espaços encontram-se agora abertos ao público para disfrutarem da loja, café e galeria, organizadas pela ARTM.

A presente exposição será inaugurada na galeria que leva também o nome de “Hold On to Hope”. Marca a 34.ª exposição organizada pela ARTM e reúne obras de arte originais de 11 artistas de Macau, com diferentes estilos e técnicas. Apresentam a diversidade cultural de Macau através da expressão pessoal de cada artista, sobretudo na sua identificação com a comunidade lusófona e na partilha das tradições e características antropológicas dos diversos países que fazem parte da comunidade mundial dos falantes de língua portuguesa.

A celebração da diversidade das várias comunidades será o tema que une as obras desta exposição, que convida o público a “mergulhar na rica tapeçaria cultural que entrelaça a ascendência portuguesa e o espírito vibrante desta única parte do mundo”, descreve a associação. A exposição será “um testemunho da conexão duradoura entre o povo português e a encantadora cidade de Macau”.

Por entre os vários artistas que participam nesta exposição, está a artista multidisciplinar Tchusca Songo, que é natural de Cabinda, em Angola, e vive em Macau desde 2006. Com formação em Design de Produto pela Universidade de São José, Tchusca Songo destacou-se na comunidade artística de Macau após dar início à sua saga contra o desperdício e a poluição encontrada no território. Tem vindo a realizar um trabalho de registo na colecta de lixo, principalmente plásticos, que são espalhados pelas praias e rochedos das costas de Coloane. Numa iniciativa que colabora com os objectivos de criar um planeta mais sustentável, Songo reutiliza os materiais encontradas na produção das suas obras de arte. Em Outubro de 2022 inaugurou, nesta mesma galeria da “Hold On to Hope”, uma exposição com várias obras, de tamanho considerável, todas feitas com redes, plásticos, madeiras e objectos colectados nas costas de Macau.

A lista de artistas em exibição também inclui António Monteiro, Catarina Cottinelli da Costa, Cristina Vinhas, Francisco Ricarte, Gonçalo Lobo Pinheiro, Isabela Lobo, Lúcia Lemos, Luísa Petiz, Raul Martins e Ricardo Meireles.

Esta exposição também serve como mais um elemento na comemoração ao 10 de Junho, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, e está incluída no programa “Junho, mês de Portugal na RAEM”.

A abertura está marcada para as 16h, do dia 2 de Junho, na Galeria da Hold On to Hope, na Vila de Nossa Senhora em Ká-Hó, e estará patente até 30 de Junho. Elói Carvalho – Macau in “Ponto Final”


terça-feira, 28 de maio de 2024

Angola - Ndaka Yo Wiñi apela ao resgate dos valores ancestrais na música

O músico Ndaka Yo Wiñi apelou, domingo, em Luanda, durante a emissão do programa “Conversa à Sombra da Mulemba”, da Rádio Mais, ao resgate dos valores ancestrais nas composições musicais, sobretudo as cantadas nas línguas nacionais

O artista disse que a música é oriunda da oralidade, da acção humana e do movimento, por isso tem na ancestralidade um valor divino e sagrado, e promete continuar a manter a matriz africana nas suas canções. 

"As línguas nacionais devem fazer parte da nossa composição musical enquanto artistas, porque a música tem uma capacidade de educar, por ser uma arma de construção social, e as escolas não chegam perto”, disse.

Para continuarmos como bons e verdadeiros africanos, prosseguiu, é necessário a prática dos valores, com base na nossa essência. A língua não é apenas uma ferramenta de comunicação, mas é sobretudo um grande instrumento para dinamizar a economia, o intercâmbio entre os povos e as estruturas políticas e sociais.

"Tenho a responsabilidade de investigar para confirmar e ter noção do que estou eu a cantar, e as minhas investigações são predominadas por quatro elementos, com realce para cantos, contos, provérbios e migração dos sotaques. As migrações dos sotaques permitem às pessoas serem tocadas, mesmo que não compreendam o que se canta”, disse.

Ndaka Yo Wiñi considera-se um contribuinte cultural, etno-musical e dinamizador das sociedades. O músico disse, igualmente, que o que está em falta actualmente no continente africano "é a prática dos nossos valores em exercício” diário.

O músico afirmou que não se pode chegar à ancestralidade sem conseguir tocar outrem, porque jamais se fala da ancestralidade e da arte do ponto de vista etno-musical sem que se conheça as origens, por isso, é preciso valorizar o futuro. "O meu conceito sobre o futuro é o passado, porque a maior parte das vezes as pessoas regressam ao passado”, realçou.

Quarteto de artistas participam no concerto

Ndaka Yo Wiñi avançou que tem na agenda a realização de um concerto, denominado "Lundongo”, marcado para o último fim-de-semana do mês de Junho, na Casa de Arte de Talatona, que vai contar com a participação do quarteto de artistas Filipe Mukenga, Mito Gaspar, Ângela Ferrão e Branca Celeste.

Branca Celeste, disse Ndaka, é uma jovem que se tem destacado nos últimos tempos, brindando o público com a txianda, por isso, merece todo o apoio para se firmar no mercado musical angolano. Para cada dia de espectáculo, vão actuar dois convidados. Armindo Canda – Angola in “Jornal de Angola”

Angola - Mais um diamante gigante extraído do Lulo

A Lucapa Diamond Company, que gere a mina do Lulo com a Endiama e a Rosa & Pétala, divulgou mais uma descoberta de peso: um diamante de 195 quilates, o quarto acima dos 100 quilates a ser recuperado no Lulo este ano

Este diamante tipo IIa de 195 quilates é o sexto maior e o 44º diamante com mais de 100 quilates a ser recuperado nas operações aluviais do Lulo desde que a mineração começou, em 2015.

A mina do Lulo, na Lunda Norte, é conhecida em todo o mundo pelas descobertas de diamantes gigantes de grande qualidade desde que abriu, destacando-se o mais importante de sempre desde que há indústria diamantífera em Angola, uma enorme pedra com 404 quilates, em 2016, que foi vendido à então joalharia Grisogono, de Isabel dos Santos, por 16 milhões USD, tendo, depois sido transformado numa joia rara de 163 quilates, que valeu em leilão da Christie"s 37milhões USD.

Mas além deste "colosso" de 404 quilates, o Lulo foi ainda responsável pelos cinco maiores diamantes alguma vez extraídos em solo nacional, todos acima de 200 quilates. In “Novo Jornal” - Angola


Suíça – Investigadores criam chocolate mais saudável e sustentável

Investigadores do Instituto Federal de Tecnologia ETH Zürich desenvolveram um novo tipo de chocolate que é mais sustentável e mais rico em nutrientes do que os métodos de produção convencionais, conforme um estudo publicado


Os investigadores da ETH Zürich substituíram o açúcar granulado no seu chocolate por partes do fruto do cacau que não são usadas no chocolate convencional. Eles apresentaram a nova receita num estudo publicado na revista especializada Nature Food.

Além das sementes de cacau, a polpa e as partes da casca da fruta também são encontradas no chocolate, explica o instituto num comunicado sobre o estudo.

Os investigadores transformaram a casca dos grãos de cacau em pó, que misturaram com a polpa para fazer uma geleia. Com essa geleia extremamente doce, os pesquisadores substituíram o açúcar que normalmente é adicionado.

O chocolate de laboratório contém mais fibras e menos ácidos gordos saturados do que o chocolate normal, o que o torna mais saudável, segundo o estudo. Os pequenos agricultores também poderão beneficiar, de acordo com a ETH. Eles poderão diversificar a sua linha de produtos e aumentar o seu rendimento usando mais partes do fruto do cacau.

De acordo com a ETH, encontrar a receita perfeita para o chocolate de cacau não foi fácil para os investigadores. Como o excesso de suco obtido da polpa faz com que o chocolate se aglomere, a falta dele faz com que não seja doce o suficiente.

Por isso, no laboratório, os cientistas tiveram que testar sistematicamente a consistência das diferentes composições.

As experimentações mostraram que é possível adicionar no máximo 20% de geleia a um chocolate, o que corresponde à doçura de um chocolate com cerca de 5 a 10% de açúcar. Para fins de comparação: 30 a 40% de açúcar é adicionado ao chocolate amargo convencional.

No entanto, ainda levará algum tempo até que o chocolate possa ser comprado nas lojas. Primeiro, toda a cadeia de valor deve ser concluída, explicou a ETH. Mas um primeiro passo já foi dado: a receita do chocolate de frutas de cacau foi patenteada pela ETH. In “Swissinfo” - Suíça


Portugal - iUP25k premeia “farinha funcional” que vai mudar a vida dos diabéticos

O projeto FarFun, que envolve uma equipa de investigação multidisciplinar, venceu a 10.ª edição do Concurso de Ideias de Negócio da Universidade do Porto


São mais de 530 milhões de pessoas que vivem com diabetes em todo o mundo. Esse número é particularmente preocupante se visto na perspetiva de “em 2045, um em cada oito adultos sofrerá de diabetes”. Um cenário que inspirou a equipa FarFun, vencedora da 10ª edição do iUP25k – Concurso de Ideias de Negócio da Universidade do Porto.

Regra geral, quem sofre de diabetes deve seguir uma alimentação mais restrita e tem de evitar ou reduzir o consumo de muitos alimentos que apreciam. Apesar de o pão ser um dos alimentos mais consumidos em todo o mundo, quem sofre de diabetes tem a recomendação de reduzir a sua ingestão devido à ocorrência de picos de açúcar no sangue que o pão provoca. E isso “tem um impacto negativo na qualidade de vida e na autoestima”, referem as mentes por trás do FarFun, até porque as opções alimentares atualmente disponíveis para diabéticos ainda são escassas e a maioria delas consiste “apenas numa redução dos açucares adicionados ou na sua substituição por adoçantes naturais ou sintéticos”. Ou seja, não são ideais e não resolvem o problema de forma plena.

E é com base nessa premissa que surge o projeto FarFun, resultado de uma colaboração multidisciplinar entre várias entidades.

“É uma combinação de cereais (trigo, centeio, milho) com um ingrediente bioativo obtido em algas marinhas, que resultará numa farinha funcional para a produção de pão adaptado às restrições alimentares dos diabéticos”, explica a equipa constituída pelos investigadores Fátima Fernandes, da Faculdade de Farmácia da U.Porto (FFUP) e do LAQV@REQUIMTE, Graciliana Lopes (CIIMAR), Mariana Barbosa (UCIBIO/NOVA Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa), Ricardo Cardoso (FEUP) e Patrícia Valentão (FFUP/LAQV@REQUIMTE).

Os cientistas acrescentam ainda que este ingrediente não é exclusivo para alimentação de quem sofre com esta patologia, sendo também indicado para “quem evita o consumo de pão por questões de peso corporal”. A mais-valia desta inovadora farinha funcional é a sua capacidade de “inibir a absorção de açúcares, evitando a ocorrência de picos de glucose que acontecem com o consumo do pão tradicional”, referem.


A equipa encara o primeiro prémio no iUP25k – que inclui um valor monetário de 3000 euros, um período de pré incubação na UPTEC e consultoria de empreendedorismo – como o reconhecimento do potencial da ideia para a criação do seu negócio. “Os prémios serão fundamentais para nascermos enquanto empreendedores”, referem.

Os próximos passos da FarFun, a curto prazo, são “consolidar parcerias já existentes, procurar investidores e concorrer a programas de financiamento”.

Organizado pela U. Porto Inovação desde 2010, o iUP25k tem como grande objetivo o de promover o surgimento de novas iniciativas empreendedoras na U. Porto e assegurar vantagens àqueles que querem valorizar o conhecimento gerado na instituição.

“Este concurso é o que nós, desde sempre, queremos fazer na Universidade do Porto: trazer o conhecimento e a investigação para mais perto das empresas, dos produtos em concreto e da sociedade em geral”, concluiu Pedro Rodrigues.

Esta edição do iUP25k conta com o apoio da Caixa Geral de Depósitos, novo parceiro bancário da U. Porto, e da UPTEC. Universidade do Porto - Portugal


segunda-feira, 27 de maio de 2024

Portugal - Universidade de Coimbra avalia impacto ambiental do ciclo de vida de diferentes tecnologias de motores elétricos

Um grupo de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) está a avaliar o impacto ambiental do ciclo de vida de diferentes tecnologias de motores elétricos.

Até ao momento, os resultados obtidos mostram que os motores síncronos de relutância (SynRM) com eficiência IE5 (maior nível de eficiência normatizado) apresentam uma maior eficiência operacional, mas têm maiores impactos ambientais na fabricação.

«Esta questão deve-se fundamentalmente a duas possibilidades: a primeira, é a utilização de mais materiais para a redução de perdas, e a segunda, é pela utilização dos materiais específicos, como os ímanes permanentes de Neodímeo-Ferro-Boro. Para a extração e processamento de neodímio os impactos são elevados, tanto na terra como na água», revela Danilo de Souza, aluno de doutoramento do Institute of Energy and Environment (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), Brasil, de Erasmus no Instituto de Sistemas e Robótica (ISR) da FCTUC.

De acordo com o estudante internacional, «os motores síncronos de ímanes permanentes (PMSMs) apesar de serem os mais eficientes, têm um impacto ambiental mais significativo, especialmente no fabrico e eliminação, devido à extração de metais de terras raras e aos desafios da reciclagem».

Um dos principais objetivos do projeto passou por avaliar os impactos ambientais do ciclo de vida de diferentes tecnologias de motores elétricos, comparando motores de gaiola de esquilo de indução (SCIM), que representam aproximadamente 95% dos motores utilizados na indústria, com eficiência IE3 (nível mínimo de eficiência permitido), motores SynRM e PMSM, com eficiência IE5. 

Desta forma, explica o investigador, «tentámos compreender os impactos ambientais destas tecnologias, desde a extração de matérias-primas, passando pela produção, pela etapa mais impactante, que é eficiência energética do uso, até à fase de fim de vida, sendo considerado o descarte ou os cenários de reciclagem. Tipicamente, analisa-se apenas a etapa de uso, acabando por se negligenciar as demais. Portanto, esta investigação acaba por contribuir para que esta questão seja ultrapassada», acredita.

Além disso, este projeto destaca ainda a necessidade de considerar os impactos ambientais na seleção de tecnologias para sistemas de acionamento de carga, reforçando a eficiência e a sustentabilidade ambiental como critérios relevantes em todas as etapas da vida dos motores elétricos.

«Isto é crucial para promover a adoção de produtos energeticamente eficientes e sustentáveis no mercado europeu, alinhando-se com as metas de eficiência energética e a redução de emissões de gases de efeito estufa», conclui.

Esta investigação contou com a participação ativa da FCTUC, tendo sido orientada por Aníbal Traça de Almeida (ISR), e apoiada pelos investigadores João Fong (ISR) e Carlos Hernandez, do Centro para a Ecologia Industrial (CIE-FCTUC). Universidade de Coimbra - Portugal


Raquel Naveira: crônicas que se avizinham da poesia

Em seu novo livro, a autora reúne textos que primam pela sensibilidade e pela emoção

                                                                                                            

                                                          I

Se para o professor Massaud Moisés (1928-2018) “a crônica oscila entre a reportagem e a literatura, entre o relato impessoal, frio e descolorido de um acontecimento trivial, e a recriação do cotidiano por  meio da fantasia”, como se lê em A criação literáriaprosa II (São Paulo, Editora Cultrix, 2015, p.105), o livro Manacá (Guaratinguetá-SP, Editora Penalux, 2021), de Raquel Naveira (1957), não só preenche todos esses requisitos como vai além. Reúne crônicas que se avizinham da poesia, reconstituindo passagens e experiências de uma vida multifacetada, sem perder o lirismo que é a qualidade inata de todo grande poeta. E que a colocam entre os melhores prosadores da literatura brasileira de hoje.

Pantaneira, a cronista mostra-se indelevelmente apegada à flora e a fauna, como o leitor pode intuir a partir do título da obra, Manacá, como deixa claro na crônica de abertura do livro. Trata-se de uma “planta do cerrado, de terra árida, de beleza primitiva”, que tem sido reverenciada por muitos poetas, como Fagundes Varela (1841-1875) e Mário de Andrade (1893-1945), e artistas, como as pintoras Tarsila do Amaral (1886-1973) e Anita Malfatti (1889-1964), e que ainda pode ser vista não só no Pantanal e em outras regiões do Centro-Oeste como na Serra do Mar, entre a cidade de São Paulo e o Litoral, apesar do avanço do agronegócio e suas mazelas.

A partir daí, a cronista imagina o que poderia ter sido uma reunião entre esses e outros poetas e artistas na casa do também poeta Guilherme de Almeida (1890-1969), acontecimento que poderia ter sido o embrião de um salão que haveria de ser o estopim da Semana de Arte Moderna de 1922.   

Dividida em seis seções – Vegetais, Criaturas, Reminiscências, Mistérios, Retratos e Desenlaces –, a obra traz crônicas bem trabalhadas que lembram os mais importantes autores desse gênero no Brasil, pois seu estilo fácil, ágil e poético atrai desde logo o leitor. O jeito escrever da cronista, nada rebuscado, com períodos curtos, sem solenidades, pode ser constatado neste excerto da crônica “Gigantes”:

“Dom Quixote, o célebre personagem de Cervantes (1547-1616), imaginou ver gigantes, mas eram moinhos. Os braços eram as pás que giravam o vento e moviam a mó. Às vezes, como o triste cavaleiro andante, concentro-me nos meus problemas, que são gigantescos. Tenho a impressão de que não suportarei mais, que serei espremida, moída e triturada. Em vão tento esconder com um sorriso as minhas dores. Uma pedra gigante esmaga meu peito. Aí me lembro que devo superar a aversão que me lançam e retribuir com perdão. Posso, afinal, matar gigantes e montar em dragões (...)”.

 

                                                II

Como observa o escritor Ronaldo Cagiano no prefácio que escreveu para este livro, “o quintal naveiriano é um caleidoscópio refletor de muitas andanças, entre as geográfico-territoriais e as afetivo-psicológicas, caminhos por onde o dreno da memória e o ducto da experiência didática, aliados de sua inquieta oficina, fazem e(s)coar páginas de sensibilidade, emoção e projeções estéticas”.

Diz mais o prefaciador: “Em Manacá, a autora dá continuidade a um processo de profunda imersão no que ela compartilha como seu (nosso) espaço de deambulação, na esteira de um sentimento drummondiano do mundo, pois como na voz do itabirano, a sua matéria também quer falar do “tempo presente, dos homens presentes, da vida presente”.

Em outras palavras: ao dominar a arte de escrever crônicas, Raquel Naveira não só mescla a tradição e a modernidade como também prepara o leitor para o futuro, ao avaliar os erros do passado e do presente, levando o leitor, que se torna seu íntimo amigo à medida que se deixa levar por suas deambulações, a refletir sobre suas experiências e aprendizado. Leia-se esta parte final da crônica “Porto geral” em que a autora reflete a partir da decadência do velho porto de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, que antes apresentava um movimento fervilhante, pois por ele passavam “a riqueza, o progresso, os migrantes, a cultura da Europa e do Rio de Janeiro”:

 “Aquele barco no cais do porto poderia ter me levado numa longa travessia. Tremo toda. Haveria prazer em me deixar conduzir pela correnteza, certa de que não naufragaria em meio aos camalotes de flores lilases. Que avançaria em direção à luz. Mas voltei ao silêncio de meu quarto escuro, nesta terra de fronteira”.

Por aqui se vê que os textos de Raquel Naveira, como reconhece a autora na primeira crônica citada, seguem fielmente as instruções ou observações dos autores dos clássicos manuais de literatura que fizeram parte de sua formação – Massaud Moisés, Alfredo Bosi (1936-2021) e o português Vítor Manuel de Aguiar e Silva (1939-2022). O leitor, portanto, só terá a ganhar ao conhecer os textos desta autora.


                                                         III

Raquel Naveira, nascida em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, é professora universitária, escritora, ensaísta, poeta e crítica literária. Formada em Direito pela Universidade Católica Dom Bosco, na cidade de São Paulo, é mestre em Comunicação e Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, também de São Paulo, e doutora em Língua e Literatura Francesa pela Universidade de Nancy, da França. 

Deu aulas de Literaturas Brasileira, Latina e Portuguesa na Universidade Católica Dom Bosco. Residiu no Rio de Janeiro, onde deu aulas na Universidade Santa Úrsula, e em São Paulo, na Faculdade Anchieta. Deu também aulas de pós-graduação na Universidade Nove de Julho (Uninove) e na Universidade Anhembi-Morumbi, de São Paulo. Ministrou palestras e cursos em escolas e em várias instituições culturais como Casa das Rosas, Casa Guilherme de Almeida e Casa Mário de Andrade, em São Paulo. Na Academia Paulista de Letras, participou do Ciclo de Memória da Literatura, discorrendo sobre o trabalho das romancistas Maria de Lourdes Teixeira (1907-1989) e Stella Carr (1932-2008).

É autora de mais de trinta livros de poesia, ensaios e romances, entre eles: Abadia, poemas (Editora Imago,1996), e Casa de tecla, poemas (Editora Escrituras, 1999), indicados ao Prêmio Jabuti de Poesia, pela Câmara Brasileira do Livro. Escreveu ainda o livro infanto-juvenil Pele de jambo e o de ensaios Fiandeira. Além de Manacá, publicou outro livro de crônicas, Leque aberto, pela Editora Penalux.

Publicou também os romanceiros Guerra entre irmãos, poemas inspirados na Guerra do Paraguai (1864-1870), e Caraguatá, poemas inspirados na Guerra do Contestado (1912-1916), conflito armado entre os Estados de Santa Catarina e Paraná, a partir de luta entre posseiros e pequenos proprietários pela posse de um território, livro que se transformou no filme de curta-metragem Cobrindo o céu de sombra, monólogo com a atriz Christiane Tricerri, sob a direção de Célio Grandes. Lançou o CD Fiandeiras do Pantanal, em que declama seus poemas, acompanhada pela voz e a craviola da cantora Tetê Espíndola.

Pertence à Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, à Academia Cristã de Letras, de São Paulo-SP, à Academia de Letras do Brasil, de Brasília, à Academia de Ciências de Lisboa e ao PEN Clube do Brasil. Escreve para várias revistas e jornais como Correio do Estado-MS, Jornal de Letras-RJ, Linguagem Viva-SP, Jornal da ANE-DF, e O Trem-MG, entre outros. Adelto Gonçalves - Brasil

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Manacá, crônicas, de Raquel Naveira, com prefácio de Ronaldo Cagiano. Guaratinguetá-SP: Editora Penalux, R$ 42,00, 130 páginas, 2021. Site: www.editorapenalux.com.br E-mail da editora: penalux@editorapenalux.com.br 

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Adelto Gonçalves, jornalista, mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Editorial Caminho, 2003; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – Imesp, 2021), Tomás Antônio Gonzaga (Imesp/Academia Brasileira de Letras, 2012),  Direito e Justiça em terras d´el-rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015), Os vira-latas da madrugada (José Olympio Editora, 1981; Letra Selvagem, 2015) e O reino, a colônia e o poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br