Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Portugal - Universo poético de Florbela Espanca atrai investigadores a Vila Viçosa



Na vila alentejana de Vila Viçosa, ergue-se o busto de Florbela Espanca (1894-1930), um dos mais reconhecidos ‘filhos da terra’. A poetiza dá também nome ao cineteatro e a biblioteca, assim como à rua onde está uma casa onde viveu.

É nessa casa, com sinais de degradação, que se projeta construir uma casa-museu para divulgar ao público o espólio de Florbela Espanca.

Na fachada há uma placa com o texto “Nesta casa viveu Florbela Espanca”, uma caricatura da poetisa e, abaixo dela, o conhecido verso “E é amar-te, assim, perdidamente…“

“Existe um carinho muito grande” por Florbela na sua “terra natal”, diz à agência Lusa Noémia Serrano, vice-presidente do Grupo Amigos de Vila Viçosa, que detém um “espólio valioso” com “cerca de 100 peças” da poetisa, legado pelo seu terceiro e último marido, Mário Lage.

No país, “penso que o nosso espólio é o segundo, em termos de riqueza”, destaca, indicando que “o primeiro está na Biblioteca Nacional, em Lisboa”, e que, em Matosinhos, onde Florbela viveu os seus últimos anos e onde morreu, “também existe alguma coisa”.

O nome da poetisa, que funciona como “chamariz” turístico local, “quebra” as “fronteiras” do concelho alentejano e mesmo do país e atrai investigadores vindos de longe.

“Florbela Espanca é uma grande poetisa nacional” e tem “um peso fundamental para a cultura nacional e também de Vila Viçosa”, assinala Luís Nascimento, vice-presidente da câmara municipal.

Interessados em consultar o espólio, chegam “muitos mestrandos e doutorandos” de universidades do Brasil, país onde “Florbela é mesmo muito importante”, conta Noémia Serrano.

E investigadores “de Oxford”, em Inglaterra, ou de “S. Francisco”, nos Estados Unidos, e “de várias universidades” nacionais também “rumam” à vila, acrescenta.

Peças do Grupo Amigos de Vila Viçosa e manuscritos do acervo da poetisa pertencentes à Fundação da Casa de Bragança, que foram adquiridos no tempo do então presidente do conselho administrativo e, agora, Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, estão expostos no Paço Ducal de Vila Viçosa, até ao próximo dia 12, numa mostra comemorativa da escritora.

“Temos manuscritos do ‘Dominó Preto’ que foram adquiridos” quando Marcelo Rebelo de Sousa foi “presidente do conselho administrativo da Fundação da Casa de Bragança”, a par de “manuscritos” e do próprio “berço de Florbela”, do Grupo Amigos de Vila Viçosa, conta Tiago Salgueiro, técnico superior do Museu-Biblioteca da Casa de Bragança.



Espólio corre o risco de se perder

Num congresso recente sobre a escritora, investigadores brasileiros visitaram a mostra e “ficaram extremamente emocionados por verem estes materiais” escritos pelo “próprio punho” de Florbela Espanca, relata.

“Isto dá-nos uma ideia daquilo que poderia vir a ser o impacto da casa-museu num futuro próximo. Portanto, o que desejamos é que o projeto se possa vir a concretizar a curto prazo”, diz Tiago Salgueiro, que, como investigador e membro de um grupo de cidadãos, lançou, há uns anos, um abaixo-assinado em defesa da casa-museu e tem identificado coleções particulares com “objetos relacionados com Florbela Espanca”.

Em casas pela vila, descobriu manuscritos, pinturas de João Maria Espanca, pai da escritora, “a banheira onde a Florbela tomou banho” e respetiva “botija de gás” e até “uma escrivaninha que também terá pertencido à família e à própria Florbela”.

“Há um espólio muito considerável que corre o risco de se perder”, alerta, defendendo que a casa-museu “é fundamental” para proteger as peças e reuni-las num “espaço digno”, que permita “a fruição pública” e seja motivo de atração turística.

“Muitos dos proprietários estão disponíveis para fazer esse depósito a longo prazo”, reunindo “todas essas coleções num espaço que, efetivamente, sirva de homenagem à Florbela Espanca e à sua obra literária”, garante Tiago Salgueiro à Lusa, lamentando que o avanço do projeto tenha “sido complicado” porque “não tem existido vontade política”.

A criação da casa-museu “é uma batalha que já tem barbas”, marcada por “muitas dificuldades, tanto por parte da família” detentora da casa, “como por parte da edilidade, que umas vezes tem verba, outras vezes não tem”, afiança Noémia Serrano.

Mas, desta vez, a porta-voz do Grupo Amigos de Vila Viçosa acredita no sucesso das negociações: “Penso que está tudo a conseguir-se para que o objetivo seja atingido” e o grupo “terá todo o gosto em possibilitar a mostra do espólio”.

O vice-presidente da câmara lembrou que “já há alguns anos” que o município contacta com “os proprietários do edifício onde viveu” a poetisa: “Continuamos em conversações, temos em orçamento a rubrica para poder adquirir esse edifício, estamos a aguardar respostas para que essa aquisição possa ser feita”.

A autora do ‘Livro de Mágoas’, ‘Livro de Soror Saudade’, ‘Charneca em Flor’ ou ‘Juvenília’ é considerada uma das mais brilhantes poetisas de língua portuguesa de todos os tempos. Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, a 08 de dezembro de 1894, e faleceu em Matosinhos, de 07 para 08 de dezembro de 1930, com 36 anos. Foi sepultada naquela localidade, mas os seus restos mortais foram depois trasladados para o cemitério de Vila Viçosa. In “Mundo Português” – Portugal com “Lusa”

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