Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Reino Unido – Estudo revela que na esquizofrenia há menos ligações cerebrais



Um artigo acabado de publicar na revista Nature Communications mostra, pela primeira vez, que existem menos ligações entre neurónios, as chamadas sinpases, no cérebro dos doentes com esquizofrenia. Esta hipótese da disfunção sináptica já tinha sido levantada há algum tempo, com base em exames post mortem, mas nunca tinha sido verificada em vida. O novo estudo, que teve a participação do psiquiatra e investigador português Tiago Reis Marques, envolveu dois institutos de referência de Inglaterra, o Kings College e o Imperial College, e pode mudar a forma como se encara a doença, o diagnóstico e o tratamento.

“Já tínhamos percebido [em autópsias] que nos doentes com esquizofrenia o volume cerebral é menor tal como a espessura do córtex. Com este trabalho demos um primeiro passo no sentido de mostrar que há um menor número de sinapses” afirmou Tiago Reis Marques.

A esquizofrenia, tal como todas as doenças do cérebro, é um problema de natureza complexa e que só agora começa a ser compreendido. “Acontecem muitas alterações, mas todas elas subtis, difíceis de detetar em exames como a Ressonância Magnética”, sublinha Tiago Reis Marques. “Já tínhamos percebido [em autópsias] que nos doentes com esquizofrenia o volume cerebral é menor, tal como a espessura do córtex. Com este trabalho demos um primeiro passo no sentido de mostrar que há um menor número de sinapses”, resume.



A investigação, que demorou três anos – desde o momento em que se começou a desenhar o estudo até à publicação dos resultados –, só foi possível graças ao desenvolvimento da tecnologia PET (emissão de positrões), que permite ver o cérebro dos doentes com um pormenor sem precedentes. Exigiu também uma conjugação de esforços das equipas médicas e de investigação dos dois institutos londrinos, que se agruparam em consórcio. “Cada um dos exames PET custa cerca de sete mil euros”, nota o psiquiatra.

Para estudar a malha de sinapses, os cientistas recorreram à proteína SV2A, cuja concentração está associada ao número de ligações entre os neurónios. Ou seja, esta proteína funciona como um marcador sináptico: quanto mais proteína houver, maior é o número de sinapses no cérebro analisado. Injetando uma substância radioativa, que se liga à SV2A, tornando-se visível num exame PET, foi possível comparar a arquitetura cerebral dos 18 voluntários saudáveis e dos 18 pacientes. Nestes últimos verificou-se que os níveis da SV2A eram menores em áreas como o córtex frontal, envolvido no processamento da memória e dos traços de personalidade – precisamente algumas das funções mais afetadas pela esquizofrenia.

“Os tratamentos atuais para a esquizofrenia têm como alvo apenas um aspeto da doença – os sintomas psicóticos. Mas para os debilitantes sintomas cognitivos, tais como a perda de capacidade de planeamento e os problemas de memória, causadores de muito mais incapacidade a longo prazo, não há qualquer tratamento”, sustentou Oliver Howes.

Já há algum tempo que se suspeitava de que falhas na comunicação entre neurónios eram responsáveis por pelo menos parte dos sintomas de esquizofrenia, como apatia, confusão mental, alucinações e défice cognitivo. A medicação ajuda a controlar os sintomas, mas não trata a doença. Além disso, o último antipsicótico a entrar no mercado já fez 60 anos, e nem todos os pacientes respondem bem ao tratamento (um em cada cinco casos não apresenta melhoras com a terapêutica disponível). A partir deste conhecimento da Biologia da doença, os cientistas esperam conseguir encontrar novas vias de tratamento e diagnóstico, até mesmo para outras doenças do cérebro. “Os tratamentos atuais para a esquizofrenia têm como alvo apenas um aspeto da doença – os sintomas psicóticos. Mas para os debilitantes sintomas cognitivos, tais como a perda de capacidade de planeamento e os problemas de memória, causadores de muito mais incapacidade a longo prazo, não há qualquer tratamento”, realça num comunicado do Imperial College o responsável pelo estudo, Oliver Howes. “Pensa-se que a perda de sinapses está na origem destes sintomas”, conclui o professor de Psiquiatria Molecular.

Para melhor compreender a evolução da doença, o grupo pretende agora continuar o estudo, monitorizando a variação da concentração da proteína SV2A em diferentes fases da doença. “Não sabemos se a perda na proteína ocorre logo no início, se numa fase mais avançada, se esta perda está na origem ou é uma consequência da esquizofrenia”, diz Tiago Reis Marques. Sara Sá – Portugal in "Visão"

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