Por vezes dou por mim a
pensar que nasci no país errado, sou sempre o primeiro a chegar a qualquer
reunião de trabalho, chego sempre pelo menos 10 minutos antes a qualquer
consulta, quando vou de viagem e para desespero da minha meia laranja, chego
sempre duas horas antes ao aeroporto... mesmo que o voo seja de madrugada.
Chego sempre cedo a qualquer
jantar de amigos ou a qualquer encontro seja pessoal ou profissional, estou
sempre em qualquer sítio a horas.
Quando vou de carro a
qualquer sítio pela primeira vez tenho sempre o cuidado de na véspera, ir ao google maps para ver não só o percurso
como os arredores, não vá ser que seja num beco perdido e/ou não haja onde
estacionar. É claro que por norma sou o único que faz isso, e depois os outros
tem sempre a desculpa que não conseguiam encontrar o sítio e por isso chegaram
atrasados... É claro que sair de casa com tempo para os imponderáveis também
ajudava...mas quem se preocupa com isso?
Tudo isto resulta sempre em
que:
1 - Como chego antes e os
outros chegam sempre atrasados, seja o que for começa atrasado, tenho sempre
que esperar muito tempo.
2 - A minha família odeia a
minha pontualidade, já seja porque estou sempre a apressar todo o mundo para
sair, ou porque depois a espera no destino é sempre uma seca... ou ambas as
coisas.
Já me perguntei mais que uma
vez porque sou assim, não consigo explicar e se há coisa que me custa mesmo
muito, é que apesar de todos os meus esforços, não consigo educar os meus
filhos para que sejam assim... Não sei se haverá um gene para a pontualidade ou
não, mas se há, a minha filha mais velha definitivamente não o herdou.
Educar os filhos é uma
ciência complexa, pela amostra cá de casa, educar adolescentes para a pontualidade
e os horários é uma missão impossível, eu já tentei tudo, desde os gritos até
sair porta fora sem eles, para nada, porque na vez seguinte volta tudo a
acontecer.
Está visto que não é uma
questão de educação, se fosse eu já tinha conseguido a bem ou a mal.
A falta de pontualidade é
mesmo um problema da cultura portuguesa, lembro-me de estar no último ano da
faculdade e ter assistido a uma palestra de dois dias com um senhor que veio
especialmente da Alemanha para o efeito... a seguir aos intervalos por norma
à hora marcada estávamos sempre
presentes eu e ele, o resto, professores incluídos, ia aparecendo com um
sorriso amarelo e pedidos de desculpa entre dentes.
No encerramento o senhor não
evitou um comentário sarcástico sobre a pontualidade portuguesa, que imagem
terá ele levado da nossa forma de trabalhar?
E que dizer das pessoas que
vão a entrevistas para empregos e chegam atrasados como já vi acontecer muitas
vezes? Já para não falar nos casos vergonhosos dos médicos que para além de
levarem uma fortuna pelas consultas, numa clara falta de respeito pelos doentes
marcam sempre mais consultas que aquelas que podem fazer e depois estão horas
atrasados.
Depois queixamos-nos que
este país é um atraso de alma, pudera, se ninguém chega a horas para nada como
pode o país andar certo? Jorge Soares –
Portugal in “oqueeojantar.blogs.sapo”
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