SÃO PAULO – Se o Brasil não
precisa se preocupar muito com o futuro do seu agronegócio, pois, ainda que
tenha havido declínio nos preços internacionais das commodities, a demanda
chinesa afigura-se como inesgotável, é absolutamente necessário ao País abrir
mercados para os seus produtos manufaturados e buscar uma nova relação com o
mundo. Isso ficou claro depois que a presidente Dilma Rousseff, em seu segundo
mandato, admitiu, de maneira implícita, que em sua política comercial anterior
que misturava ideologia com comércio residiu boa parte do fracasso de seu
primeiro governo, gerando uma “herança maldita” para si mesma.
É de se reconhecer que esse
mea-culpa presidencial já deu bons resultados, pois, em 2015, a participação
dos manufaturados no volume total das exportações subiu de 35,5%, em 2014, para
38,1%, alcançando o patamar de 2013 (38,4%), embora ainda distante daquele
registrado em 2007 (55%). E que, para 2016, espera-se um superávit superior a
US$ 35 bilhões. Mas é preciso mais.
Por isso, espera-se com
ansiedade a desconstrução da rivalidade entre Mercosul (Brasil, Argentina,
Uruguai, Paraguai e Venezuela) e Aliança do Pacífico (México, Peru, Colômbia e
Chile) que marcou a atuação dos últimos governos de Brasil e Argentina, apesar
da má-vontade do governo venezuelano, que insiste em manter a velha postura. Da
parte do Brasil, já houve avanços significativos com a formalização de vários
acordos de investimentos com Colômbia, México e Chile. E o novo governo
argentino parece seguir no mesmo sentido.
Agora, o que se aguarda é que
a troca de ofertas do acordo entre Mercosul e União Europeia ocorra mesmo no
primeiro semestre de 2016, formalizando um acordo cujas negociações começaram
ao final da década de 1990 e, desde então, avançaram de maneira inconsistente.
Isso pode significar a liberalização de pelo menos 90% dos produtos que podem
ser trocados pelos dois blocos. Mas, aparentemente, desta vez, é a União
Europeia que está sem pressa para fechar o acordo, preferindo consumar primeiro
tratados com os EUA, Índia e Japão, nessa ordem.
Sabe-se ainda que o Brasil
está negociando acordos com o Canadá e a Associação Europeia de Livre Comércio
(Efta), que reúne Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. Por tudo isso, há
razões para um moderado otimismo, já que o câmbio vem favorecendo as
exportações de manufaturados. Nada contra a exportação de cereais, celulose e
outras commodities, mas o fundamental é vender produtos com valor agregado,
pois só assim será possível enfrentar a redução da demanda doméstica e o
agravamento da crise, evitando o fechamento de indústrias e criando mais
empregos. Milton Lourenço – Brasil
_____________________________________
Milton Lourenço é presidente
da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de
Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e
da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
Sem comentários:
Enviar um comentário