O Carnaval passou, você deve
tê-lo aproveitado e, mesmo que não, vez ou outra, provavelmente ouviu um
batuque por aí. Mas você sabe os caminhos que o samba percorreu até chegar às
baterias das escolas de samba no carnaval? Antes de chegar à região metropolitana,
o batuque ecoava lá para os lados de Pirapora do Bom Jesus, cidade da região
oeste do estado, conhecida e reconhecida como o berço do samba paulista. Hoje,
o samba de bumbo ainda toca por lá, e também em Santana de Parnaíba, município
que reúne algumas manifestações pontuais do gênero, como o Grito da Noite e o
Galo Preto, que acabaram se tornando blocos de carnaval mas, que em sua
essência, são eventos sem ligação direta com o calendário carnavalesco.
Essas manifestações fizeram
com que, desde à última semana, o Samba Paulista fosse gravado como o primeiro
patrimônio imaterial do Estado de São Paulo, oficialmente reconhecido pelo
Condephaat (Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico). A votação aconteceu na última segunda-feira, 14 de
dezembro, quando o conselho aprovou, por unanimidade, o registro do Samba
Paulista como patrimônio imaterial.
O Conselho entendeu que o
Samba Paulista é uma prática cultural a ser preservada e que possui
características históricas, culturais e políticas, bem como especificidades
paulistas. O registro é uma maneira salvaguardar o desejo de uma comunidade em
manter viva uma tradição, que pode vir a sofrer mudanças com o tempo. Outras
práticas culturais do Estado também estão em estudo, como a Congada, o Virado
Paulista, a Festa do Bom Jesus do Iguape e o Caminho dos Romeiros, além da
Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
O registro imaterial foi
criado por meio do decreto 57.439, de 2011, e permite o reconhecimento de
manifestações culturais do Estado. Desta forma, além de proteger imóveis e bens
importantes para a história do Estado, o Condephaat também pode preservar seu
patrimônio imaterial. O objetivo é identificar e reconhecer conhecimentos,
formas de expressão, modos de fazer e viver, rituais, festas e manifestações
que façam parte da cultura paulista.
No caso do Samba Paulista, o
registro considerou sua longa duração, mais que centenária, marcada pela
confluência entre escravidão e pós-abolição, trabalho e lazer, festas sagradas
e profanas, além de iniciar a história do associativismo negro e suas vertentes
culturais. O Conselho entendeu também que este reconhecimento, articulado a uma
dinâmica institucional já existente na Secretaria de Estado da Cultura, aponta
para desdobramentos em que o próprio desenho dos contornos do patrimônio
imaterial pode vir a ser realizado em diálogo com agrupamentos e comunidades
diretamente interessadas.
O
Samba de Bumbo
Conhecido também como Samba
Rural, a nomenclatura Samba de Bumbo vem do fato de que a zabumba, ou o bumbo,
são os principais instrumentos e estão presentes em todos os registros
históricos, inclusive nos grupos atuais de samba de bumbo. Ao contrário do
samba convencional, no samba de bumbo, quem faz a marcação rítmica é a caixa, e
o bumbo é a estrela do batuque, responsável pelos improvisos. Mário de Andrade,
em passagem por Pirapora do Bom Jesus e Santana de Parnaíba, registrou em
escritas este samba como “Samba Lenço”, e Marcos Ayala chamou de “Samba de
Roda”, mas os termos não abrangem a expressão cultural de forma generalizada.
O
Samba de Parnaíba
O Samba de bumbo tem origem
com os escravos, e Santana de Parnaíba foi a primeira cidade do estado a
receber e acolher uma quantidade significativa de escravos, no século XVII,
quando a exploração de ouro era atividade corriqueira na região. Henrique Preto
e Quirino fundaram dois dos grupos mais conhecidos da cidade. O Galo Preto, era
o grupo de Quirino, que dizia que somente os negros podiam batucar. Henrique
Preto então, fundou o Galo Carijó, samba em que todos podiam tocar. À partir
daí as lendas contam histórias de desavenças e conciliações entre os dois, e as
histórias, passadas de geração em geração, mantiveram, de certa forma, junto
com as fortes influências de Pirapora do Bom Jesus, a tradição do samba
paulista viva.
Abaixo separamos uma galeria
de fotos bem legais, feitas pelo fotógrafo Fabiano Martins, que registram o
samba paulista no Grito da Noite, em Santana de Parnaíba. Por meio das imagens
abaixo é possível conhecer um pouco da tradição que ainda se mantém, mas nós do
Vá de Cultura aconselhamos você, leitor, a separar na agenda um final de semana
e fazer uma visita à Pirapora do Bom Jesus e Santana de Parnaíba, onde poderá
viver a experiência do samba paulista de raiz, junto com os cenários históricos
onde tudo começou. In “Vá de Cultura” - Brasil
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