Os dados de julho da
Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que a indústria continua a
cortar postos de trabalho, em razão de queda não só nas exportações e
importações como do encolhimento do mercado interno, acossado pela crise
provocada por um governo que se mostrou relapso na condução das contas
públicas. Por trás de tudo, está também uma política equivocada adotada a
partir de 2003, quando o novo governo se sentiu incomodado por uma possível
dependência do País em relação aos Estados Unidos.
Com isso, deliberadamente,
houve uma redução nas vendas de produtos industrializados e
semiindustrializados para a nação norte-americana, já que o crescimento da
China e sua procura desenfreada por commodities pareciam eternos. Com a
desaceleração chinesa, o resultado foi estagnação não só no Brasil como em toda
a América Latina, que, como à época do colonialismo, continua majoritariamente
como fornecedora de matérias-primas para o mundo desenvolvido.
Segundo a CNI, o faturamento
da indústria caiu 6,7% em julho em comparação com o mesmo período de 2014. O
que fazer? Aparentemente, só há uma saída: aumentar a produtividade para
reduzir a pressão nos custos, o que só se faz com o crescimento das vendas para
o mercado externo. Cabe ao governo ajudar a reduzir a pressão nos custos. Mas,
seja como for, o panorama é menos drástico do que tem sido apresentado na
mídia. Até porque a Europa, mercado-alvo para os produtos industriais
brasileiros, tem registrado sensível melhora. Pelo menos é que mostra o
indicador Purchasing Managers’ Index (PMI)
da Markit, o principal medidor mundial.
Segundo o PMI, o emprego
industrial em agosto, na zona do euro, subiu em ritmo mais rápido em comparação
com os últimos quatro anos, com um crescimento contínuo na Alemanha, Itália,
Espanha e Holanda, enquanto Áustria, Irlanda e França crescem em ritmo menos
intenso. Só a Grécia está em ritmo decrescente em razão da ausência de novas
encomendas e uma queda acentuada na produção.
O PMI também mostra que o
nível de empregos no setor industrial brasileiro diminuiu com o prolongamento
do período de baixa. Ao atingir 45,8 em agosto, valor inferior ao recorde de
baixa de 47 meses de 47,2 observados em julho, o índice PMI continuou a indicar
uma piora das condições de negócios no setor como um todo.
Mas, se a indústria na Europa
está em fase de retomada do crescimento, tudo indica que essa tendência será
seguida em breve por sua congênere brasileira. Até porque o boletim Focus do
Banco Central prevê que a balança comercial brasileira (exportações menos
importações) terá saldo positivo de
Com isso, entrarão no País
mais recursos através dos ganhos das exportações do que os recursos que saem
pelo pagamento de importações, o que equivale a dizer que os produtores
nacionais e a economia em geral terão maiores recursos para realizar e
desenvolver novas atividades, acelerando o crescimento. Um pouco de otimismo é
o que se pede nesta hora. Adelto
Gonçalves – Brasil
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Adelto Gonçalves, jornalista
especializado em comércio exterior, é doutor em Letras pela Universidade de São
Paulo (USP) e autor de Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo
Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail:
marilizadelto@uol.com.br
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