Pouco depois de a gaiola ser
aberta, quatro hesitantes bugios deram seus primeiros passos no Parque Nacional
da Tijuca, no coração do Rio de Janeiro, em 3 de setembro de 2015.
Não demorou, porém, até que os
animais (também chamados de macacos-barbados e guaribas) começassem a se
adaptar à nova casa, escalando as árvores e se alimentando de seus frutos.
A espécie estava ausente do
local havia mais de cem anos, segundo estimativas de pesquisadores,
provavelmente por culpa da caça predatória e do desmatamento.
A chegada dos novos bugios é
parte de um projeto maior, de reconstrução da fauna do Parque Nacional da Tijuca,
para combater o chamado mal da "floresta vazia": a perda de animais
de médio e grande porte por conta da caça tem efeitos muito prejudiciais à
sobrevivência da própria floresta.
"A Tijuca está se
tornando um laboratório em técnicas de reintrodução da fauna", explica à
BBC Brasil Fernando Fernandez, da UFRJ, pesquisador responsável pelo projeto,
que teve apoio financeiro da Fundação Grupo Boticário. "Alguns desses
animais são importantes dispersores de sementes, ajudando (na reprodução) de
árvores ameaçadas."
Fernandez explica que o
primeiro animal a ser reintroduzido no parque pelo projeto foi a cutia, em
2010, conhecida justamente por sua capacidade de transportar e enterrar
sementes. Agora já há 35 cutias habitando as matas da Tijuca.
"Os bugios também têm um
papel importante, porque alguns besouros usam as fezes (dos primatas) para
liberar nutrientes no solo", explica Fernandez.
Autossustentável
O plano, diz o pesquisador, é
levar mais três grupos de cinco bugios à natureza nos próximos anos, com o
objetivo de tornar a população autossustentável.
Antes de serem reintroduzidos
no parque, eles passaram oito meses sob observação no centro de pesquisas da
UFRJ, passando por exames médicos, recebendo colares e tornozeleiras de
monitoramento e aprendendo a conviver entre si.
"Isso é muito importante
porque os bugios montam grupos sociais, permanecendo juntos na floresta",
prossegue o pesquisador.
O grupo inicialmente tinha
cinco primatas, mas um deles acabou sendo expulso pelo macho dominante.
Precisou, então, ser retirado do projeto, caso contrário seria morto pelos
demais.
"Vamos monitorá-los até
termos a confiança de que estão bem, para se reproduzir e crescer como
população", diz.
Além de bugios, existe a
intenção de reintroduzir ao parque espécies como o cateto (porco-do-mato), o
jupará, o preguiça-de-coleira e o mico-leão dourado.
"A ideia é reconstruir a
floresta no longo prazo, como parte de um projeto maior de 'refaunação' do Rio
de Janeiro e de outras partes do país."
Agora, é bem possível que o
bugio - conhecido por seus ruídos, que podem ser ouvidos a quilômetros de
distância durante as disputas territoriais dos animais - comece a ser avistado
pelos milhões de visitantes anuais do Parque Nacional da Tijuca.
A interação com humanos deixa
Fernandez animado, mas também preocupado.
"Espero que a reação (das
pessoas) seja boa, porque são bichos muito carismáticos. O que eu recomendo é
que se mantenha distância, não se tente interagir com ele, e por favor não se
dê comida a ele, que pode fazer mal. Observe e curta os bichos porque eles são
muito legais, mas guarde distância. Muita gente vai ao Parque Nacional da
Tijuca mais pelo Cristo (Redentor), mas haverá cada vez mais animais ali. É uma
chance de valorizar a fauna e aprender a conservá-la. In
"BBC BRASIL.com” - Brasil
Sem comentários:
Enviar um comentário