Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Macau - Centro histórico é “testemunha importante” de “essências” de “uma história única”

Quinze anos depois do Centro Histórico ter sido integrado na Lista do Património Mundial da UNESCO, a Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura destaca que essa classificação reveste-se de “um significado peculiar”. Por sua vez, a Comissária do Ministério dos Negócios Estrangeiros considera que “enriquece a essência cultural de Macau” e aumenta a visibilidade do território no palco internacional. Em 2005, o então Chefe do Executivo, Edmund Ho, frisou que o conjunto de bens culturais mundialmente distinguido “constitui um tesouro único e um dos símbolos do intercâmbio entre o mundo ocidental e a civilização oriental”



Assinala-se hoje o 15º aniversário da inscrição do Centro Histórico de Macau na Lista de Património Mundial da UNESCO. Para o Gabinete da Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong, essa classificação resultou da “importância e apoio concedido pelo Governo Central” após a transferência de soberania de Macau, revestindo-se de “um significado peculiar”.

Numa resposta ao Jornal Tribuna de Macau, o Gabinete indica que este marco se reflecte em três aspectos, entre os quais, o “aumento da projecção de Macau a nível internacional e do seu estatuto cultural”. “Foi promovido o intercâmbio cultural e turístico entre a RAEM e todo o mundo e foram injectadas forças motrizes culturais no desenvolvimento social local”.

Paralelamente, houve também um “despertar e o reforço da sensibilização de toda a população para a salvaguarda do património cultural, contribuindo para o fortalecimento da protecção, divulgação e continuação das especificidades únicas de Macau – a integração das culturas chinesa e portuguesa e a coexistência das culturas oriental e ocidental”, pode ler-se.

Por outro lado, sublinha ainda a “inspiração e alerta para manter aberta a mente, com tolerância e vontade de aprender com os outros, e com sentido de missão para contribuir ainda mais para divulgar a cultura chinesa e promover a cooperação e intercâmbio multicultural”.

Ao longo dos últimos 15 anos, refere o Gabinete da titular da pasta da Cultura, “o Governo da RAEM tem cumprido escrupulosamente as directrizes relativas à conservação do património mundial, emitidas pela UNESCO e, contando com a participação de toda a população, tem desenvolvido os trabalhos de conservação do património mundial de Macau, sob a fiscalização e orientação das autoridades do Governo Central”, entre as quais o Ministério da Cultura e Turismo, a Administração Estatal do Património Cultural da República Popular da China e a Comissão Nacional da China para a UNESCO.

Para o futuro, garante que o Executivo “irá continuar a dar a maior importância ao nosso património cultural, e, juntamente com a população de Macau, proteger a nossa Casa com toda a diligência”.

Por sua vez, a Comissária do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, numa mensagem escrita enviada à Tribuna de Macau, referiu que “o sucesso da inscrição trata-se de uma grande causa e alegria, atingido através das estreitas colaborações entre o Governo Central e o Governo da RAEM, sob o enquadramento de ‘Um País, Dois Sistemas’, sendo um exemplo vivido da combinação orgânica entre desempenhar o papel do país, enquanto suporte forte, e aumentar a própria competitividade enquanto Região Administrativa Especial”.

Shen Beili defende ainda que “o Património Mundial abre uma janela importante para um país ou uma região mostrar o seu carisma natural, histórico e cultural único ao exterior”.

“O Centro Histórico de Macau é uma testemunha importante e uma combinação de essências da história única de intercâmbio e aprendizagem mútua entre culturais orientais e ocidentais e da coexistência multicultural que estendeu por mais de quatro séculos”, destacou. Na perspectiva da Comissária, a inscrição na Lista do Património Mundial “enriquece a essência cultural de Macau enquanto Centro Mundial de Turismo e Lazer, aumentando a visibilidade e atractividade de Macau no palco internacional”.

“Hoje em dia, o Património Mundial já se tornou num fundo cultural evidente de Macau e num cartão brilhante que esta cidade apresenta ao mundo”, acrescentou Shen Beili. “No passado, Macau era um centro essencial da Rota Marítima da Seda, uma ponte de ligação importante do intercâmbio cultural entre o Oriente e o Ocidente e assim formou o Património Cultural, cujo carisma único é a fusão multicultural”.

Por sua vez, o Instituto Cultural (IC) começou por referir que o Centro Histórico “engloba o mais antigo legado arquitectónico europeu existente em solo chinês na actualidade”. “Coexistindo com a arquitectura tradicional chinesa de Macau, constitui um testemunho de pluralismo cultural e retrata uma simbiose única de tradições arquitectónicas ocidentais e orientais”. O organismo assegura que, desde a inscrição na lista da UNESCO, “o Governo da RAEM promove, de forma constante, os trabalhos de protecção do seu Património Mundial”.

A título de exemplo, apontou a implementação da Lei de Salvaguarda do Património Cultural, “para que o trabalho de protecção e de gestão tenha um apoio e fundamentos legais”. Com base nela foi criado um mecanismo de vistoria e monitorização “para conhecer o estado de protecção do Património Mundial, proceder a reparações e manutenção de forma ordenada, emitir pareceres sobre protecção do património cultural para manter e controlar a aparência do Centro Histórico da cidade”.

O IC menciona ainda o desenvolvimento do Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico “para optimizar a sua protecção e gestão, utilizar os recursos do Património Mundial e integrá-los na vida dos residentes e promover a educação e divulgação alusiva a este património, defendendo a conservação e apreciação do mesmo e impulsionando a participação activa da sociedade na sua protecção”.

Por outro lado, assegura que tem vindo a desenvolver trabalhos de levantamento e classificação de imóveis e património intangível de acordo com a lei, adoptando procedimentos do primeiro e do segundo grupo de classificação de imóveis e das áreas dos estaleiros navais de Lai Chi Vun.

“As construções e edifícios históricos e relíquias culturais protegidas de Macau mantiveram-se, desde há mais de 30 anos, em 128. Actualmente, o número aumentou para 147”, sublinha o IC.

O Jornal Tribuna de Macau tentou ainda obter comentários do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM, contudo, sem sucesso até ao fecho desta edição.

O desfecho feliz de um longo processo

O processo que culminou na classificação do Centro Histórico como Património Mundial da UNESCO foi longo, tendo começado ainda durante a administração portuguesa, e registou alguns sobressaltos mesmo na recta final. A 14 de Julho de 2005, um dia antes da inclusão na Lista ser oficializada, o Jornal Tribuna de Macau noticiou que o Comité do Património Mundial ameaçou retirar da Lista os locais que se encontram em perigo ou em estado de degradação. Só no dia seguinte a 29ª sessão do Comité do Património Mundial aprovou, por unanimidade, a inscrição do Centro Histórico na Lista. Eram 16:10 em Macau.

O então Chefe do Executivo, Edmund Ho, proferiu um discurso no qual disse estar “muito feliz” por poder partilhar “com todo o povo chinês e a população de Macau um momento tão especial que muito nos honra”. “Desde o início dos trabalhos preparatórios, o Governo da RAEM contou sempre, até ao fim, com um forte apoio do Governo Central para a apresentação da lista de bens culturais de Macau como a única candidatura nacional”, começou por referir.

“O momento da inclusão de Macau na lista de património mundial da UNESCO reveste-se de um significado profundo que não nos deve, todavia, envaidecer. O conjunto de bens culturais do território ora distinguido constitui um tesouro único e um dos símbolos do intercâmbio entre o mundo ocidental e a civilização oriental do nosso país”, frisou.

O processo de candidatura “contribuiu também para uma maior sensibilização e consciencialização de toda a população sobre a importância da protecção do Património e o seu sucesso é sinónimo do trabalho e esforços conjuntos de todos os cidadãos de Macau”. Neste sentido, “acreditamos que todos vão preservar e cuidar, cada vez mais, desta terra que é o nosso lar, participando activamente nas campanhas e actividades de protecção do Património”, disse Edmund Ho, assegurando que o Governo continuaria “a defender a preservação e promoção deste tesouro cultural regional e nacional para que mais pessoas possam conhecer o valor histórico e cultural da RAEM”.

Também o então Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura frisou que “a inscrição do Centro Histórico na Lista do Património Mundial é, para nós e para a cultura chinesa, um orgulho e, para os cidadãos de Macau, uma glória”. “Esta honra nada fácil de alcançar é o culminar de um esforço colectivo para o qual todos contribuíram ao longo de vários anos e é fruto de grande apoio do Governo Central, do empenhamento do Governo da RAEM e do entusiasmo e participação activa dos cidadãos de Macau”, sublinhou na altura Chui Sai On.

Além disso, defendeu que a inclusão na lista permitiria aos cidadãos “um aprofundamento da sua compreensão da história e da cultura de Macau e da pátria, um fortalecimento da sua identidade cultural e interiorização de um sentido de pertença, identidade e coesão”.

Património traduz “características únicas”

“É do conhecimento de todos que o património mundial da humanidade traduz os aspectos culturais e as características únicas de um povo, reflectindo fenómenos sociais e singularidades dos povos dos diversos países e regiões, num determinado período histórico. A classificação como património mundial encerra o reconhecimento do valor universal excepcional de um bem, do seu estatuto histórico e do seu valor cultural para o processo de evolução da humanidade”, destacou Chui Sai On.

“É nosso compromisso a protecção e a preservação dos bens hoje Património Mundial, através da criação de mecanismos de gestão e coordenação e de uma planificação científica da sua revitalização e reutilização”, enfatizou. Apontou também como propósito do Governo “o reforço das competências e sensibilização dos cidadãos para a participação e consciência colectiva da necessidade de preservação do Património Mundial através da cooperação e apoio mútuo com a sociedade civil, indivíduos e associações, congregando, assim, esforços para concretização desta missão”.

Também em 2005, o Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong aplaudiu a classificação do Centro Histórico. “É um sentimento de satisfação por constatar que a singularidade e características únicas que estão visíveis em Macau contribuíram para que a decisão positiva por parte da UNESCO fosse tomada”, destacou Pedro Moitinho de Almeida.

Para o diplomata, a aprovação da candidatura constituiu o reconhecimento, pela comunidade internacional, do “intercâmbio e da convivência pacífica entre os povos português e chinês em Macau ao longo de cerca de 450 anos”. Inês Almeida – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

Na lista da Unesco:

Largo do Lilau
Largo da Barra
Largo de Santo Agostinho
Largo do Senado
Largo da Sé
Largo de São Domingos
Largo da Companhia de Jesus
Largo de Camões
Templo de Á-Má
Quartel dos Mouros
Casa do Mandarim
Igreja de São Lourenço
Igreja e Seminário de São José
Teatro Dom Pedro V
Biblioteca Sir Robert Ho Tung
Igreja de Santo Agostinho
Edifício do Leal Senado (IAM)
Templo de Sam Kai Vui Kun
Santa Casa da Misericórdia
Igreja da Sé
Casa de Lou Kau
Igreja de São Domingos
Ruínas de São Paulo
Templo de Na Tcha
Troço das Antigas Muralhas de Defesa
Fortaleza do Monte
Igreja de Santo António
Casa Garden
Cemitério Protestante
Fortaleza da Guia (incluindo a Capela e o Farol)

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