Em
Ziguinchor, capital de Casamansa, no Senegal, são ainda visíveis sinais de
ligação a Portugal, através da arquitetura, por exemplo. Mas a maior ligação,
até pela proximidade com a Guiné-Bissau, é através da língua
Quem visita hoje a cidade de
Ziguinchor, capital da região de Casamansa, pode constatar que ainda se mantêm
vivos algum património cultural e costumes portugueses 132 anos depois da
cedência, em 1886, por Portugal a França.
Ziguinchor mudou muito. Mesmo
assim ainda são visíveis vestígios da arquitetura portuguesa na cidade. Quase
todas as casas da parte da cidade velha junto ao porto de Ziguinchor ainda
apresentam traços da arquitetura portuguesa e os jardins da mesma zona da
cidade apresentam marcas seculares dos portugueses.
Casamansa, região do Senegal
localizada ao sul da Gâmbia e a norte da Guiné-Bissau, continua a ser das mais
cosmopolitas da República do Senegal e um dos locais onde a língua portuguesa é
mais falada em países não lusófonos.
"A República do Senegal é
hoje o país não lusófono onde há mais estudantes de língua portuguesa no mundo
e 70% destes estudantes são da região de Casamansa", afiançou Demba Thiam,
formador de professores de português do Centro Regional de Formação das Pessoas
da Educação (CRFPE). "As nossas ligações históricas, culturais,
linguísticas e religiosas com a Guiné-Bissau levam muitos jovens de Casamansa a
optar por estudar a língua portuguesa nos liceus, nos colégios e nas
universidades" do Senegal, notou o mesmo responsável, ao DN.
Em todo o território senegalês
existem 48 mil estudantes da língua portuguesa e 400 professores, espalhados
entre liceus, colégios e as universidades do país. E 18 mil são da região de
Casamansa (Ziguinchor, Kolda, Sédhiou e Bignona), onde a língua portuguesa é falada
por alguns quadros superiores nas empresas e nos serviços públicos. O Senegal,
ex-colónia francesa, tem 15 milhões de habitantes.
Ziguinchor, nota o professor
Demba Thiam, é localizada próximo do litoral e é a das zonas mais cosmopolitas
pela diversidade dos seus grupos étnicos: djolas, mandingas, fulas, manjacos,
mancanhas, banhun...
"Não é só porque Portugal
cedeu Casamansa aos franceses, em 1886, em troca com a aldeia de Cacine, que
nós vamos deixar de estudar a língua e a cultura portuguesa. Há aqui na região
de Casamansa jovens que têm famílias inteiras a viver na Guiné-Bissau e há uma
ligação religiosa e linguística muito grande. Tendo pai, mãe e irmãos a viver
na Guiné-Bissau, uma ligação religiosa e linguística, é necessário aprendermos
a língua portuguesa para podermos comunicar com a família", explicou
Thiam, lembrando que "em 1954 era a língua espanhola a mais procurada no
Senegal".
Mas, nota o professor, "a
partir de 1972, quando o guineense Pinto Bull, com o apoio do então presidente
senegalês Léopold Sédar Senghor, instituiu na Universidade Cheik Anta Diop, em
Dacar, o ensino da Língua e da Cultura portuguesa, o espanhol começou a perder
força passando o português a ser até hoje a primeira língua viva que os
senegaleses optam por estudar nos liceus, nos colégios e nas
universidades" do Senegal.
O entendimento do professor
Adrien Modeste Mendy, que ensina o português no Centro da Língua Portuguesa na
Universidade Assane Seck, em Ziguinchor, vai no mesmo sentido. "A nossa
proximidade cultural, religiosa, familiar e linguística com a Guiné-Bissau são
fatores que nos levam, quer aqui em Zinguinchor, nas universidades em Dacar ou
nas outras de cidades do Senegal a optar por estudar a Língua e a Cultura
portuguesa".
O ensino do português ganhou
outra dimensão e visibilidade no Senegal com a chegada, em 1998, vindo da
Guiné-Bissau, do leitor de Instituto Camões José Manuel Horta, à Universidade
Cheik Anta Diop.
Foi sua a ideia de criar na
Universidade Assane Seck, em Ziguinchor, o Centro da Língua Portuguesa para dar
mais visibilidade à cultura e a língua portuguesa na região de Casamansa.
"Na realidade este centro
é muito pequeno. Mas é só para iniciarmos. A ideia é construir aqui um edifício
com dois pisos e muito bem equipado com livros e projeção de filmes ao ar
livre", explicou Adrien Modeste Mendy, sustentando que "não é por não
viver agora aqui em Casamansa uma comunidade portuguesa que vamos deixar de
estudar a língua e cultura portuguesa".
"Temos muitas famílias
que vivem na Guiné-Bissau. Eu próprio visitei, na semana passada, a minha
família na região de Cacheu, na Guiné-Bissau. Portanto, temos a necessidade
imperiosa de estudar a língua portuguesa para podermos comunicar com as nossas
famílias que vivem na Guiné-Bissau", sublinhou o professor.
Mame Daonr Dabo, professor do
Colégio Maientique de Ziguinchor, considerou que para além da proximidade
geográfica, cultural, religiosa e linguística com a Guiné-Bissau, é também o
facto de os professores que ensinam hoje a língua e a cultura portuguesa no
Senegal serem quase todos eles jovens que tem influenciado outros jovens a
optar pelo estudo da língua.
Outro fator, notou ao DN Mame
Dabo, é que esses jovens "também querem conseguir uma bolsa de estudo para
estudar e aprofundar mais e melhor os seus conhecimentos na língua portuguesa
na Faculdades de Letras de Lisboa, para poderem ser por exemplo intérpretes da
língua portuguesa nas várias conferências internacionais que se realizam por
todo o Senegal". António Nhaga –
Guiné-Bissau in “Diário de Notícias”
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