GENEBRA - O Brasil já é o
terceiro maior exportador agrícola do mundo. Mas as mudanças climáticas podem
representar um desafio real para a expansão produtora do País e gerar uma
contração das vendas externas até 2050.
Os dados são da Organização
das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês),
que, nesta segunda-feira, 17, apresentou seu informe anual sobre a produção de commodities. No levantamento, o Brasil
terminou o ano de 2016 com uma fatia de 5,7% do mercado global, abaixo apenas
dos Estados Unidos, com 11%, e Europa, com 41%.
No início do século, o Brasil
era superado por Canadá e Austrália, somando apenas 3,2% das exportações
mundiais e disputando posição com a China, com 3%. De acordo com a FAO, o valor
adicionado da agricultura por trabalhador também dobrou entre 2000 e 2015. No
início do século, ele era de US$ 4,5 mil, chegando a US$ 11,1 mil em 2015.
A expansão não se limitou ao
Brasil. De acordo com a entidade liderada pelo brasileiro José Graziano da
Silva, os países emergentes já representavam 20,1% do mercado agrícola global
em 2015, contra apenas 9,4% em 2000. Além de Brasil e China, Indonésia e Índia
foram os principais motores dessa expansão. Dos dez primeiros exportadores
hoje, quatro são economias em desenvolvimento.
Enquanto isso, o percentual do
mercado dominado por EUA, União Europeia, Austrália e Canadá foi reduzido em
dez pontos percentuais.
Se o Brasil ganhou espaço
entre os exportadores, ele desapareceu da lista dos 20 maiores importadores de
alimentos. Em 2000, o Brasil era o 13.º maior importador, com 0,9% do mercado
mundial. Em 2016, a lista dos 20 primeiros colocados já não traz o mercado
brasileiro.
O mercado mundial, enquanto
isso, triplicou. O comércio agrícola, que movimentava US$ 570 bilhões em 2000,
passou a registrar um fluxo de US$ 1,6 trilhão em 2016. A expansão econômica da China e a demanda por
biocombustíveis foram os principais fatores desse crescimento.
Mudanças
climáticas podem afetar produção
Mas se a expansão foi clara
nos 15 primeiros anos do século, os cenários até 2050 para o Brasil vão
depender do impacto das mudanças climáticas no planeta. De acordo com a FAO, o
mundo terá de dobrar sua produção agrícola nos próximos 30 anos.
Mas o impacto das mudanças
climáticas pode representar desafios reais para a produção brasileira, que
poderia inclusive sofrer uma queda. “Mudanças climáticas vão afetar a
agricultura global de forma desigual, melhorando as condições de produção em
alguns locais. Mas afetando outros e criando “vencedores” e “perdedores”,
indicou o informe da FAO.
Os países em baixas latitudes
seriam aqueles que mais sofreriam. Já regiões com climas temperados poderiam
ver uma maior produção agrícola, diante da elevação de temperatura.
No caso do Brasil, a previsão
é de que, se nada for feito no mercado global, suas exportações seriam afetadas
negativamente e haveria até uma leve queda no volume vendido. O mesmo ocorreria
com o restante da América do Sul e países africanos. Já Europa, EUA e Canadá
registrariam fortes desempenhos.
As exportações brasileiras
para África e Índia aumentariam. Mas haveria também incremento de importações
vindas da América do Norte e Europa. Já as vendas brasileiras para a Europa e
China - seus dois principais mercados - poderiam ser reduzidas em mais de US$ 1
bilhão cada.
O temor da FAO é que as
mudanças climáticas aprofundem a disparidade entre países ricos e emergentes,
já que a produção agrícola poderia ser afetada. “Precisamos garantir que a
evolução e a expansão do comércio agrícola funcionem para eliminar a fome e a
desnutrição”, disse José Graziano da Silva.
Para ele, o comércio
internacional tem o potencial de estabilizar os mercados e realocar alimentos
de regiões com superavit para aqueles com deficit. Caso as mudanças climáticas
fossem acompanhadas, até 2050, pela abertura dos mercados, o Brasil seria o
país que veria uma das maiores expansões do comércio agrícola. Jamil Chade – Suíça in “O
Estado de S. Paulo”
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