SÃO PAULO – Pressionado por uma grave crise econômica, o governo
argentino baixou várias medidas que já afetam as exportações brasileiras,
especialmente as do segmento automobilístico. Terceiro principal parceiro
comercial do Brasil, atrás apenas da China e dos Estados Unidos, a Argentina
representa hoje cerca de 8% das exportações brasileiras, o que significa que a
trajetória da economia da nação vizinha está diretamente relacionada ao
desempenho comercial do nosso País.
Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços
(MDIC), em agosto, as exportações brasileiras para a Argentina caíram 4,8% em
relação ao mesmo período de 2017, ou US$ 1,5 bilhão. Nos oito primeiros meses deste
ano, houve avanço de apenas 0,5%, ou US$ 11,5 bilhões. Já as importações do país
vizinho subiram 38,7% em agosto, ou US$ 1,1 bilhão, e 17,4% no acumulado do
ano, ou US$ 7,2 bilhões.
Portanto, os números indicam que o
Brasil deverá sofrer com a crise econômica argentina neste e no próximo ano,
principalmente em suas exportações. O único consolo é que, desta vez, as
turbulências no relacionamento comercial com a Argentina são originadas por uma
crise econômica e não por medidas administrativas de caráter nacionalista, como
ao tempo dos governos populistas de Néstor Kirchner (2003-2007) e Cristina
Kirchner (2007-2015).
Em função dessa crise, o setor de
produtos manufaturados, principalmente o automotivo, será o mais prejudicado –
hoje, 20% dos embarques brasileiros de manufaturados têm o país vizinho como
destino. O mesmo deve acontecer com o setor calçadista, que até agora vinha em
ascensão, tendo, inclusive, superado os Estados Unidos no ranking dos maiores mercados para a indústria brasileira de
calçados, com uma alta de 11,6% nos oito primeiros meses deste ano.
Apesar dessas perspectivas sombrias,
não se pode deixar de reconhecer que o setor exportador tem evoluído de maneira
significativa, como mostra levantamento preparado pela Rede de Centros
Internacionais de Negócios (Rede CIN), que é coordenada pela Confederação Nacional
da Indústria (CNI). Segundo esse estudo, em 1998, o Brasil tinha 15.807
empresas exportadoras, mas, 20 anos depois, esse número saltou para 25,4 mil,
registrando um crescimento de 60%. Por faixa de valor exportado, o maior
crescimento foi observado no número de empresas que venderam entre US$ 10
milhões e US$ 50 milhões: eram 611 em 1998 e chegaram a 1.373 em 2017, com um aumento
de 124%.
Obviamente, se não houvesse entraves,
como barreiras comerciais, burocracia excessiva e infraestrutura precária em
rodovias, ferrovias e portos, esse número poderia ter crescido ainda mais,
desde que as possibilidades de financiamento também fossem mais adequadas e
atraentes. Portanto, o que se espera é que a tendência de crescimento no
comércio exterior se mantenha, mesmo em escala mais reduzida, ainda que, para
piorar, haja no horizonte a possibilidade de uma guerra comercial no planeta,
se os problemas dos Estados Unidos com a China não forem resolvidos.
Afinal, se houver a retração na
atividade econômica que se prevê para 2019, não se pode esquecer que, como
mostra aquele levantamento da Rede CIN, apenas o comércio exterior cresceu em
períodos recentes de recessão no Brasil. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e
diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail:
fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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