Em
12 anos de obras, ferrovia recebeu R$ 6,2 bilhões e não foi concluída
Doze anos depois do início das
obras da Transnordestina, a empresa responsável pela implantação do
empreendimento, a Transnordestina Logística S.A. (TLSA), continua procurando um
parceiro privado para concluir a ligação férrea, que já recebeu um investimento
de aproximadamente R$ 6,2 bilhões.
As obras estão paralisadas
desde 2016. “A Transnordestina é a espinha dorsal da logística do Estado. É um
atraso na vida de Pernambuco esse empreendimento não avançar. Faz falta outro
modal. E aí temos a BR-232 totalmente desgastada porque todas as cargas passam
por lá, quando boa parte podia ir para o interior de trem”, comenta o
presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Ricardo
Essinger.
A ferrovia tornaria o
escoamento de grãos mais barato e favoreceria o crescimento do setor. “De
Gravatá até Araripina, há um clima ideal para a criação de animais, como aves e
suínos. O transporte de grãos a preços menores traria a possibilidade de toda
essa produção crescer e se instalar um polo de criação de suínos com as
indústrias que podem surgir, como fábricas de processados e abatedouros, entre
outros. Sem falar em alguns minérios que poderiam vir do interior, como o
dióxido de titânio”, afirma Essinger.
Um dos setores que poderiam
ficar mais competitivos com a ferrovia é o avícola, que tem grande parte das
empresas instalada no Agreste. “Trazer os grãos de trem iria trazer uma
economia de 65%, comparando com o frete rodoviário. Hoje, gastamos R$ 15 para
transportar o saco de 60 quilos. Com a ferrovia, esse custo ficaria em torno de
R$ 6”, afirma o presidente da Associação Avícola de Pernambuco (Avipe),
Giuliano Malta.
Atualmente, o setor avícola
instalado no Estado consome, mensalmente, cerca de 150 mil toneladas de milho e
50 mil toneladas de soja. Os grãos são produzidos no Maranhão e percorrem de
1,5 mil quilômetros a 2 mil quilômetros de para chegar aos produtores
pernambucanos. “Isso faz parte do custo Brasil, e não ocorre só em Pernambuco.
Dificulta a competição das empresas do Nordeste com as do Sudeste. Ia ajudar
muito se a ferrovia saísse do papel, mas depende muito do governo federal”,
lamenta Giuliano.
Gesso
Outro setor que ficaria mais
competitivo é o do gesso. “O mais complicado atualmente é o escoamento da
produção. O Araripe está perdendo muito mercado, e as empresas estão fechando”,
conta o diretor da Indústria de Gessos Especiais (IGE), Josias Inojosa Filho. O
setor gesseiro tinha a esperança de exportar gipsita, caso o empreendimento
fosse concluído. “Os caminhoneiros buscavam o gesso para não voltar sem carga
ao Sudeste. O tabelamento do frete acabou com isso e dobrou o preço do frete
rodoviário”, comenta.
Josias critica também o
traçado da ferrovia, alegando que, do jeito que está, o setor precisará usar
caminhão. “O transporte é o grande gargalo contra a expansão de vários tipos de
negócios. Ou se faz uma solução integrada com vários modais ou seremos sempre
tupiniquins”, aponta. “Há uns 25 anos, a gipsita saía do Araripe de caminhão,
ia até Petrolina, pegava a balsa e chegava às indústrias cimenteiras instaladas
em Minas Gerais. Tudo isso ficou no passado. O Rio São Francisco está
assoreado, e não se usa mais a hidrovia. A transposição previa várias ações de
recuperação do rio, mas essa parte ficou na promessa”, diz.
Foram implantados 600
quilômetros da ferrovia em trechos no Sertão do Piauí, do Ceará e de Pernambuco.
No projeto, a ferrovia sairia de Eliseu Martins, no Piauí, e seguiria até a
cidade de Salgueiro, em Pernambuco. De lá, um trecho iria até o porto de Pecém,
próximo à Fortaleza; e o outro ramal, até Suape. À frente da implantação do
empreendimento, a TLSA é uma subsidiária da Companhia Siderúrgica Nacional
(CSN), do empresário Benjamin Steinbruck. Na semana passada, o assunto chegou
ao debate eleitoral com o governador Paulo Câmara (PSB) – que tenta a reeleição
– defendendo o fim da concessão. O senador Armando Monteiro (PTB), que disputa
o governo na chapa de oposição, afirmou que, “com o atual concessionário, não
vamos sair do lugar”.
Iniciada em 1997, a concessão
da Transnordestina foi feita na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB),
presidente entre 1995 e 2002. Desde então, somente a ex-presidente Dilma
Rousseff (PT) ameaçou tomar a concessão, mas não levou à frente qualquer
procedimento nesse sentido. É difícil finalizar a concessão porque o grupo dono
da empresa tem grande influência política e econômica. Entre 2015 e 2016, a
empresa foi presidida por Ciro Gomes (PDT), que disputa o cargo de presidente,
e é próximo do dono da TLSA. Ângela
Belfort – Brasil in “JC”
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