Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 7 de abril de 2013

Ziguinchor

 
            A esquecida Ziguinchor, fundada pelo português Gonçalo Gamboa Ayala no ano de 1645 na margem do rio Casamansa, capital da região que tem o mesmo nome do rio que a atravessa, encravada entre a Gâmbia e a Guiné Bissau, continua longe do mundo.
 
            A esquecida Ziguinchor só foi notícia no século XXI, devido à tragédia que a sobressaltou na madrugada de 27 de Setembro de 2002, quando recebeu a notícia do afundamento na véspera do navio “Le Joola” quando navegava rumo a Dakar, numa noite de tempestade, não com os 550 passageiros que era a lotação máxima, mas com cerca de dois mil e duzentos passageiros, embora o número oficial de mortos ficasse nos 1863 a juntar aos 64 sobreviventes.
 
            A esquecida Ziguinchor naquela noite, ao largo da costa da Gâmbia, perdeu mais de quatrocentos jovens filhos, que se dirigiam a Dakar para mais um início de um ano escolar, além de mulheres e homens que por uma mão cheia de razões se deslocavam a Dakar, ficando muito mais pobre a esquecida Ziguinchor.
 
            Este acidente marítimo é o segundo com maior números de vítimas até hoje, sendo apenas ultrapassado pela tragédia do MV Doña Paz que nos mares das Filipinas, ultrapassou as quatro mil vítimas. Segundo testemunhas que viram partir o “Le Joola” do cais de Ziguinchor o navio já partiu adornado, devido ao excesso de passageiros e cargas que levava.
 
            A esquecida Ziguinchor esperou três anos para ver um novo um cais, construído e financiado pela Agência Francesa de Desenvolvimento e o reatamento das carreiras entre as duas capitais, através do navio “Le Willis” que navega durante 19 horas no sentido da esquecida Ziguinchor e 14 horas no sentido inverso, para percorrer uma distância de 324 km, dos quais 50 km são no rio Casamansa. Quem se queira ligar ao mundo, obrigatoriamente tem que se deslocar a Dakar, mas para tal acontecer, por via marítima, só consegue viagem duas vezes por semana.
 
            A esquecida Ziguinchor foi recordada em Agosto de 2011, quando viu aterrar na pista do seu aeroporto o “Marsassoum” um avião da Senegal Airlines, um aparelho ATR-42 500, com uma capacidade para 46 passageiros. Nesse dia foi festa em Ziguinchor, a esperança levada pelo Ministro de Estado e dos Transportes Aéreos do Senegal Karim Wade e pelo Director-geral da Senegal Airlines Edgardo Badiali, augurava na altura novos tempos para a esquecida Ziguinchor, naquele dia que começou chuvoso de Agosto de 2011.
 
            Mas a Casamansa continua triste, sem expectativas para um futuro melhor, em que possa decidir o seu destino, a esperança de uma melhor aproximação ao mundo, foi-se desvanecendo, pois o monopólio da Senegal Airlines, não permite que a janela que se entreabrira num dia de Agosto de 2011 floresça no quotidiano dos casamanceses. Ziguinchor prossegue esquecida a aguardar os aviões que faltam no seu aeroporto, por inoperância da Senegal Airlines que tanto prometeu pelo seu responsável Edgardo Badiali, mas o caminho que está sempre de serviço, é a estrada que atravessa a Gâmbia, através de um aluguer de táxi, permite aos casamanceses chegar a outras latitudes, seja Lisboa, Paris ou um outro destino. Baía da Lusofonia

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