SÃO PAULO – Depois
de 18 anos de reuniões fracassadas e dispêndio de muitos recursos com viagens e
hospedagem dos representantes de cada bloco, o projetado acordo de
livre-comércio entre Mercosul e União Europeia (UE) está cada vez mais
distante. Talvez seja o caso de deixá-lo de lado por mais alguns anos, à espera
de circunstâncias políticas mais favoráveis.
Em 2004, quando
a UE era formada por 15 membros, o acordo só não saiu por causa da visão
retrógrada dos governos do Brasil e Argentina à época, que se mostravam alinhados
contra o livre-comércio. Hoje, ambos os governos estão de acordo que a
estratégia para recuperar suas combalidas economias passa pelo aumento das
exportações.
Desta vez,
porém, são os europeus que se mostram mais divididos, até porque agora a UE é a
formada por 28 membros. É verdade que a mudança política ocorrida nos Estados
Unidos, com a ascensão do imprevisível Donald Trump, contribuiu para o fracasso
do acordo comercial previsto, o que levou o possível tratado Mercosul-UE a ser
visto como uma resposta à onda protecionista no mercado mundial.
Ocorre, porém,
que há, pelo lado europeu, muitos interesses irreconciliáveis, apesar da
atração que o mercado sul-americano exerce aos olhos dos produtores e
industriais europeus. Esses interesses estão basicamente no agronegócio. Ou
seja, pelo menos 11 dos 28 membros da UE temem que seus produtos agrícolas
sejam dizimados pela concorrência sul-americana. Apenas Itália, Espanha e
Portugal admitem enfrentar essa concorrência em troca da abertura do mercado sul-americano
para seus produtos, especialmente lácteos e vinhos. Já a Alemanha tem interesse
em exportar máquinas e equipamentos para Brasil e Argentina, especialmente.
O outro fator
complicador foi a baixa oferta dos europeus para a importação de carne e etanol
do Mercosul. Diante disso, a saída que resta é que Mercosul e UE cheguem a um
acordo à meia-boca que contemple apenas os produtos industrializados. Hoje, de
mil produtos brasileiros, pelo menos 67% são tarifados quando entram em solo
europeu. Alguns, como os calçados, chegam a sofrer uma alíquota de 20%. Já as
tarifas de importação para os produtos químicos oscilam de 3% a 8%.
O Mercosul
espera que pelo menos 90% de seus produtos tenham tarifas reduzidas, além de
condições de igualdade com os fabricantes locais no fornecimento às
administrações públicas europeias. Em contrapartida, os europeus, além de
usufruírem de tarifas de importação reduzidas, podem encontrar maiores facilidades
para investir nos países do Mercosul. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São
Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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