Chama-se
Flow.me e será o primeiro carro-drone português. É um projecto do Centro de
Engenharia CEiiA que faz sonhar com um futuro bem mais perto das nuvens
O futuro parece estar quase a
chegar. E o Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto (CEiiA), em
Matosinhos, quer levar-nos até lá com o primeiro carro-drone português, o Flow.me. Está previsto para 2022 o lançamento
deste carro autónomo que também voa, a fazer-nos lembrar o Spinner do clássico de ficção científica Blade Runner, em que o amanhã futurista chegaria em 2019. O Flow.me
não estará pronto nesse ano, mas talvez não falte muito para uma revolução da
mobilidade urbana e, esperemos, do sonho que é poupar umas horas no trânsito e
estar mais perto das nuvens logo pela manhã.
O CEiiA criou uma unidade de
aeronáutica há cerca de dez anos e, desde então, já participou pelo menos em
dois desafios dignos de nota. Colaborou com a empresa Leonardo (a segunda maior
construtora de helicópteros do mundo) na aeronave AW609, que combina as
vantagens de um helicóptero e de um avião de asas fixas. E com a brasileira
Embraer no KC390, o primeiro avião de carga militar daquela empresa, um
projecto considerado um passo importante para a engenharia aeronáutica
portuguesa.
Agora, o CEiiA está a
desenvolver o carro-drone, que terá
um investimento global de 18 milhões de euros, segundo um comunicado de
imprensa do centro agora divulgado. O projecto terá parcerias com outras
empresas portuguesas e brasileiras do sector automóvel e aeronáutico, mas por
agora Helena Silva, directora executiva do CEiiA, não quer adiantar pormenores.
O futuro carro que voa
chama-se Flow.me porque se pretende aumentar o fluxo (flow em inglês) do
trânsito. Estamos a falar de um carro eléctrico e que anda sozinho, constituído
por três módulos: um sistema terrestre, um habitáculo e um sistema aéreo.
A parte que anda no chão terá
autonomia até 200 quilómetros e funcionará como uma doca para acoplar o
habitáculo, transportando-o por estrada. A parte aérea será um drone, com propulsão semelhante à de um
helicóptero e uma autonomia de voo de três a seis horas. Acoplado ao drone, o habitáculo pode libertar-se do
sistema terrestre num local e ir aterrar noutro local, onde terá de estar
disponível um outro sistema terrestre. Resta saber se podemos largar metade do
carro no trânsito – será que irá estacionar sozinho? –, ou se temos de ir
primeiro até um parque de estacionamento.
Este carro-drone é a evolução de um veículo
eléctrico autónomo que começou a ser desenvolvido há seis anos no CEiiA e cuja
produção está prevista para 2020, explica Helena Silva. O Flow.me, acrescenta,
resulta da valorização do sistema terrestre autónomo desse veículo e inclui um
habitáculo que pode ser acoplado a um drone.
Numa primeira fase, o carro-drone está destinado apenas a
transportar carga, até 500 quilos. “Em zonas como parques industriais”, diz
Helena Silva, sublinhando que, por razões de segurança, é necessária legislação
e também infra-estruturas, como corredores e estações nas cidades, para receber
os carros-drone. “Num futuro, poderá estar associado ao transporte de pessoas
no habitáculo, que tem três metros e capacidade para dois a quatro
passageiros.”
Os veículos vão estar ligados
em tempo real ao Mobi.me, uma
plataforma de gestão de mobilidade, também concebida pelo CEiiA, e que já está
em funcionamento com mais de 400 mil utilizadores em dez países e 70 cidades,
refere Helena Silva. Em Portugal, esta plataforma é responsável, por exemplo,
pela Rede de Mobilidade Eléctrica em vários pontos do país, o sistema de Mobilidade
Integrada de Cascais e de outros operadores. E, em conjunto com o carro-drone, o Mobi.me funcionará como um serviço de transporte
partilhado, em acção integrada com a oferta já existente. A partir dos nossos
telemóveis, esta plataforma funcionará como um “comando” com a introdução das
coordenadas, tal como acontece com apps
como a da Uber, mas neste caso não será sequer necessário condutor, à
semelhança de outros veículos autónomos. “Queremos construir um modelo de
negócio sustentável e massificá-lo”, afirma Helena Silva, dizendo que o Brasil
é, por exemplo, um mercado muito importante para se ganhar dimensão na América
Latina.
Por enquanto, a equipa do
CEiiA está a testar um protótipo pequeno. Estes testes estão a decorrer em
Portugal, mas o centro quer manter a localização exacta em segredo. “A solução
final será três vezes maior do que a que está a ser testada”, frisa a directora
executiva, que conta que os testes estão a ser feitos em terra e no ar, com
voos verticais e aterragens, e que já foram atingidos 200 metros de altitude e
cerca de 40 a 70 quilómetros por hora. “A primeira fase de testes concluídos em
Outubro correspondeu à validação em voo do protótipo integrado com a plataforma
Mobi.me, tendo uma duração aproximada de 88 horas”, revela. A fase seguinte de
testes, com um protótipo funcional, está prevista para 2019 – por sinal, o ano
em que se passa a acção de Blade Runner,
numa Los Angeles futurista, onde os Spinners
eram conduzidos como veículos terrestres que podiam deslocar-se verticalmente e
voar pela cidade.
Muito antes de o Flow.me ser
uma realidade a voar nas cidades, e de os carros nem sequer terem um condutor,
Helena Silva salienta que será necessário fazer legislação em Portugal para
criar “zonas livres tecnológicas”, onde se possam fazer testes a estes veículos
em segurança, em condições semelhantes ao dia-a-dia. Raquel Silva – Portugal in "Público"
Sem comentários:
Enviar um comentário